Até para pecuaristas que não habilitam o rebanho para exportação, preço da arroba ainda está compensando
De dois anos para cá, o aquecimento da economia brasileira, que melhorou a renda do consumidor, tornou o mercado interno bastante atrativo para o pecuarista no Brasil. As cotações da arroba mantiveram-se firmes, até mesmo com o embargo do mercado europeu à carne brasileira, no início deste ano, que aumentou a oferta do produto no mercado interno.
A reação positiva do mercado neste ano, dizem os analistas, também é devida à básica lei da oferta e da procura. Como a pecuária está passando por um ciclo de baixa produtividade - conseqüência do grande número de matrizes abatidas nos últimos anos, o que causou queda da oferta de bezerros - é natural que as cotações estejam subindo.
Com o mercado interno aquecido e o aumento de exigências dos países importadores, muitos pecuaristas deixaram de investir na rastreabilidade, destaca o analista Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. “Não que não valha a pena para o pecuarista que tem condições financeiras de investir e se adequar às normas de exportação. Mas o mercado interno está realmente aquecido”, diz ele, acrescentando: “Acredito na continuação de preços firmes para o boi.”
O executivo da Conexão Delta G, Daniel Biluca, também crê que a fase de bons preços no mercado interno deve durar pelo menos mais um ano. “Tivemos mais de três anos de queda de preço, o que desestimulou o produtor a investir. Com menos investimento, o pecuarista reduziu rebanhos, abateu matrizes e tudo isso refletiu na situação atual.”
CRISE MUNDIAL
Mesmo com a atual crise financeira, que está reduzindo o poder de compra dos consumidores no mundo todo, Biluca aposta em preços estáveis para a carne. “Se a crise tivesse chegado num momento diferente, as cotações já teriam despencado. Felizmente, não é o que está ocorrendo. E é justamente o mercado interno que está segurando as pontas.” Se não fosse a crise, acredita Biluca, o cenário estaria ainda melhor. “Tínhamos previsão de o preço da arroba chegar a R$ 100 nesta época. Hoje está em média a R$ 80.”
Nos últimos meses, o pecuarista Arnaldo Cunha Bastos, de Aurilândia (GO), que é cadastrado no Sisbov, mas ainda não está habilitado para exportar para a União Européia, vem negociando seu gado apenas no mercado interno.
“Este ano está sendo bom. Estou vendendo a arroba por R$ 85 aqui na região. É um bom preço para esta época do ano. No ano passado estava na faixa de R$ 70”, diz o pecuarista, que abate por volta de 2 mil cabeças por ano. Mesmo assim, Bastos está investindo na rastreabilidade e pretende voltar a habilitar seu gado para exportação. “O sistema ficou muito burocrático. A diferença de preço tem de ser significativa, senão não compensa.”
Veículo: O Estado de S.Paulo