De represa a fazenda de peixes

Leia em 3min 40s

Piscicultores do município de Paranapanema, no sudoeste paulista, estão se organizando para iniciar a produção de tilápia em larga escala na Represa de Jurumirim. A primeira fazenda de peixe - grande conjunto de tanques-rede - já foi instalada por uma associação de produtores e está em produção. O projeto é amplo e prevê o zoneamento da represa para a instalação de confinamentos de tilápias. As criações pioneiras já foram aprovadas pelos órgãos ambientais e pelo Ministério da Pesca e Aquicultura.

 

O reservatório de Jurumirim é formado pelo represamento do Rio Paranapanema, para a produção de energia elétrica. É a primeira de uma série de 11 represas em sequência no manancial que deságua no Rio Paraná e foi construída em 1962, na área do Alto Paranapanema, no Estado de São Paulo.

 

O lago, de águas muito limpas, se estende por uma área de 449 quilômetros quadrados (44.900 hectares) e, em alguns trechos, a largura é superior a 5 quilômetros. O volume de água é quase quatro vezes maior que o da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Com extensão de cerca de 100 quilômetros, o lago banha dez municípios e o de Paranapanema está bem no início do lago, onde as águas têm qualidade excelente.

 

É ali, num braço da represa, que a Associação dos Criadores de Peixes do Paranapanema (Acripa) iniciou a criação de tilápias das espécies nilo, gift e suprema em 51 tanques-rede de 6 metros cúbicos.

 

Para pesqueiros. Cada tanque, constituído por uma rede retangular de náilon, sustentada por flutuadores, tem capacidade para 700 quilos de pescado. De acordo com o piscicultor Washington Scorsatto dos Santos, um dos quatro sócios, toda a produção destina-se a atender aos pesqueiros da região. "Nossa clientela quer peixes médios, com cerca de 600 gramas, por isso fazemos a despesca com de seis a sete meses depois de colocar os alevinos."

 

Os tanques-rede são protegidos por uma tela para evitar a ação de predadores. A rede possui malha fina para que os peixes não escapem, mas permite a passagem do fluxo de água para renovar o oxigênio e eliminar restos de alimentação e os dejetos produzidos pelos espécimes. Além das tilápias, os tanques recebem um ou dois exemplares de cascudos, peixes que se incumbem de manter as estruturas limpas. Os próprios compradores fazem o transporte do pescado da área de produção para o pesqueiro. Para facilitar a despesca, os tanques são arrastados pela corda-guia para um píer em formato de U.

 

Oxigenação. Os peixes são transferidos para as caixas de transporte com sistemas de oxigenação que possibilitam a viagem sem perdas. No ano passado, a associação entregou 34 toneladas de tilápias para os pesqueiros. Com o preço médio de R$ 4 o quilo a receita bruta ficou em torno de R$136 mil. Cada peixe consome cerca de 1,6 quilo de ração até atingir o ponto de despesca. Considerando o custo do alevino, de R$ 300 a R$ 320 o milhar, o peixe terminado sai do tanque custando R$ 2,80 o quilo. "Dá trabalho, mas compensa", diz Santos.

 

A Associação dos Produtores de Tilápias de Paranapanema (Aprotipa) se inspirou nos resultados da Acripa para iniciar seu projeto, que prevê a produção de 780 toneladas por ano. Os 288 tanques vão ocupar uma área de 24.200 metros quadrados em um ponto com até 4 metros de profundidade. Cada tanque terá 9 metros de área superficial (3 x 3 metros) e volume útil de 18 metros cúbicos.

 

Projeto. Serão dispostos em dez linhas perpendiculares à margem, ligadas por cordas de náilon. Este ano devem ser instalados os primeiros 96 tanques, número que será dobrado no ano seguinte. O projeto, elaborado pela engenheira agrônoma Claudia Lyra Anthero da Silva, obteve as certificações ambientais e foi aprovado pelo Ministério da Pesca.

 

A associação começa a funcionar com 10 sócios e 12 funcionários. Os recursos iniciais foram disponibilizados pelos sócios, mas está prevista a obtenção de financiamentos públicos. Conforme o presidente do conselho fiscal da Aprotipa, Romildo Agapto, a prefeitura doou uma área para a construção de fábricas de ração e gelo, minifrigorífico e unidades de processamento da carne. "Vamos produzir de filés a hambúrgueres, além de aproveitar o couro e as escamas", diz.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Pecuaristas do Pará acusam empresa de 'blindagem'

Um grupo de pecuaristas do Pará que fornecia ao Frigol acusa o frigorífico de fraude contra credores por c...

Veja mais
Frango se beneficia de retaliação contra EUA

Exportação para China se multiplica por dez e Brasil vira maior fornecedor   Chinês cria sobr...

Veja mais
Marfrig fecha planta no interior de SP

A Seara Alimentos, controlada pela Marfrig, informou na sexta-feira que vai fechar, a partir do dia 4 de março, a...

Veja mais
Produtor de ostra quer mercado internacional

Oferta e consumo estão em queda; para exportar, setor aguarda sistema de monitoramento das águas   ...

Veja mais
Consumidor migra para "carne de segunda"

A queda do preço da carne no atacado demora para chegar ao varejo, o que começa a provocar a migraç...

Veja mais
Queda nas exportações deixa carne suína até 50% mais barata

Mudança gera prejuízo para produtores e muda padrões de consumo   A queda nas exportaç...

Veja mais
Preços dos suínos caem com exportação menor

As consecutivas baixas nos preços do animal vivo e da carne têm aumentado a apreensão dos suinoculto...

Veja mais
Redução nos preços alerta suinocultor do RS

Em um ano de expectativas otimistas quanto à recuperação dos preços, os suinocultores do Rio...

Veja mais
'Mar de gelatina' sufoca atividade pesqueira

"O futuro será um mar de gelatina". A piada entre biólogos marinhos reunidos recentemente em um congresso ...

Veja mais