Departamento de Justiça entra com ação para bloquear compra do frigorífico National Beef
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos entrou com uma ação para bloquear a compra do frigorífico National Beef pelo brasileiro JBS Friboi. O negócio, de US$ 560 milhões, anunciado em março, violaria as leis antitruste do país e levaria a uma concentração do mercado de carnes, com aumento dos preços para o consumidor, segundo a Justiça americana.
"A união do JBS com o National Beef levaria varejistas, empresas de serviços de alimentação e, conseqüentemente, os consumidores americanos a pagar mais pela carne bovina", disse Thomas Barnett, procurador na divisão antitruste do Departamento de Justiça. Segundo o órgão, o negócio colocaria mais de 80% do mercado americano de carnes nas mãos de apenas três companhias - JBS Friboi, Tyson Foods e Cargill.
Em março deste ano, o JBS Friboi anunciou também a compra do Smithfield, quinto maior produtor de carne dos EUA, por US$ 565 milhões. O Departamento de Justiça afirmou que não vai colocar esse acordo em xeque - apenas a aquisição do National Beef, que é o quarto maior produtor de carne dos EUA. No mesmo período, o grupo brasileiro também foi às compras na Austrália: levou o frigorífico Tasman, em negócio já aprovado.
Procurado pela reportagem, o JBS Friboi afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que vai se manifestar posteriormente sobre a decisão da Justiça americana. Já a National Beef afirmou, em comunicado, que vai lutar contra a decisão da Justiça americana.
"Essa transação vai trazer um valor tremendo para nossos clientes e outros acionistas por meio da economia de custos", afirmou John R. Miller, diretor-executivo do National Beef, em nota à imprensa.
Para analistas, o Friboi deve entrar com recurso na Justiça para viabilizar o negócio, uma vez que as operações nos Estados Unidos são parte importante da estratégia de expansão internacional do frigorífico brasileiro. Com a aquisição, o Friboi chegaria a um faturamento anual de mais de US$ 14 bilhões e capacidade de abate de 35% do gado nos EUA, ou cerca de 40 mil cabeças/dia.
"O bloqueio do negócio seria um golpe duro no sentido de restringir a expansão do JBS no mercado americano. Mas a empresa pode adotar um plano B, que é a aquisição do Smithfield, e ainda pleitear a compra do National Beef em um segundo momento", afirma José Amaral, analista da Scot Consultoria, especializada em agronegócio.
O JBS Friboi se tornou o terceiro maior produtor de carne bovina dos Estados Unidos no ano passado, após adquirir o frigorífico Swift, do Colorado, por US$ 225 milhões.
CRISE
O processo na Justiça americana, no entanto, teve reflexo positivo no valor das ações do JBS Friboi na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis tiveram alta de 10,71% e fecharam o dia valendo R$ 3,10.
Segundo o analista José Vicente Ferraz, da Agra FNP Consultoria, especializada em agronegócio, o bloqueio foi percebido de modo positivo pelo mercado. "Evidentemente, eles querem crescer no mercado americano. Mas, em tempos de crise e retração do consumo, a não aprovação do negócio pode até ser vista como uma boa notícia", avalia Ferraz. Segundo ele, seria pior para a companhia não conseguir financiamento para efetivar a compra.
"Com a atual escassez de crédito no mercado internacional, seria um desgaste maior para a empresa não conseguir fundos para concretizar essa expansão", afirma. "Além disso, o consumo doméstico nos EUA tende a cair, com a economia em recessão. A compra do National Beef pode ser postergada sem maiores prejuízos."
NÚMEROS
US$ 560 milhões é o valor do acordo para compra da National Beef pela JBS Friboi
US$ 14 bilhões seria o faturamento do JBS nos EUA, se o negócio fosse concluído
10,71% foi a alta das ações do grupo na Bolsa
Veículo: O Estado de S.Paulo