O presidente da Cooperativa Central Oeste Catarinense (Coopercentral Aurora), Mário Lanznaster, afirma que investimentos de R$ 490 milhões foram suspensos em virtude das incertezas da crise global. Segundo ele, os bancos estão com os financiamentos engessados e as exportações de carnes estão praticamente paradas. O maior projeto adiado é o da construção de um novo frigorífico de frangos em Canoinhas, no norte de Santa Catarina, orçado em R$ 420 milhões. O outro plano absorveria R$ 70 milhões na ampliação, abate e industrialização de suínos, em São Gabriel do Oeste (MS). Ambos os projetos tinham previsão de iniciar neste trimestre.
Nesta semana, a Associação Catarinense de Avicultura (Acav) iniciou trabalho de orientação às agroindústrias para reduzirem em 5% o alojamento de frangos porque alguns importadores passaram a ter dificuldades em obter linhas de crédito em seus países. O setor está atento, também, à recessão no exterior que deve resultar em menor consumo de frango. Em Santa Catarina, segundo maior produtor brasileiro de frangos do Brasil, com abate de 60 milhões de aves por mês, o corte significará uma retração de três milhões de aves mensais em 2009. O Estado exporta mais de 50% dos frangos que produz.
Segundo Lanznaster, somente na fábrica de Canoinhas, onde seriam abatidas 300 mil aves por dia a partir de setembro de 2009, a redução será superior a 5%. O projeto de Canoinhas abrange também uma fábrica de rações e incubatórios. Lanznaster diz que não é preciso pedir para as empresas diminuírem a produção, porque isso vai ocorrer no Brasil "na dor e na quebradeira". O dirigente afirma que começou o movimento de fechamento de frigoríficos. "A Aurora já recebeu várias propostas de venda ou aluguel de frigoríficos paulistas". Ele não quis revelar os nomes das empresas.
Lanznaster diz que a Rússia, principal comprador de carne suína, e outros países, não está fazendo mais pedidos e as que fecharam contratos estão com dificuldades de pagamento. O temor é de que as empresas tenham que redirecionar a produção excedente no mercado interno, onde não há consumo suficiente para absorvê-la. Na Aurora, 20% da produção de carnes são exportados. Com as vendas externas em ritmo muito lento, a cooperativa está estocando mercadoria nos pátios e câmaras. Para este ano, o dirigente diz que a crise não refletirá no faturamento, que deverá atingir R$ 2,7 bilhões, 24% superior ao ano passado. "Para 2009, pretendíamos crescer mais do que este percentual, mas já abrimos mão desta meta", diz.O presidente da Organização das Cooperativas de Santa Catarina (Ocesc), Marcos Antônio Zordan, diz que a entidade está pedindo para que as cooperativas suspendam temporariamente seus planos de expansão, sob o risco de inundar o mercado interno de produtos e os preços despencarem. "No caso do milho, há excedente de 10 milhões de toneladas e os preços caíram, reduzindo os ganhos do produtor". Por outro lado, segundo ele, na área de grãos, houve alta generalizada dos insumos e sementes. Neste ano, Zordan diz que as cooperativas catarinenses vão faturar 25% a mais do que em 2007, quando a receita somou R$ 9,1 milhões. "Para 2009, não há previsão", afirma.
Veículo: Gazeta Mercantil