Rio Grande do Sul aproveita momento de entressafra na região Centro-Oeste
Na semana passada, chegou a correr entre os pecuaristas a notícia de que o preço do boi tinha baixado na região da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, por conta da crise financeira mundial. Ninguém acreditou.
Nas pistas de remates de primavera, os negócios seguiram aquecidos, mantendo uma tendência que já dura algum tempo. Não é de hoje que o preço da carne está valorizado. O cenário ainda é reflexo da estiagem de 2006, quando os criadores abateram matrizes para se capitalizarem. Sem vacas, não há terneiros e, conseqüentemente, o rebanho encolhe. Soma-se a isso o aumento do poder aquisitivo, que elevou o consumo pela carne.
– Há falta de gado porque a produção não é suficiente para atender a demanda – diz Fernando Adauto, diretor da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
A situação deve continuar favorável aos pecuaristas até os campos serem repovoados. Adauto considera o atual momento ainda mais favorável à pecuária gaúcha. Com a entressafra no Centro-Oeste, deve partir do Rio Grande do Sul a carne para abastecer aquela região.
– Normalmente, somos nós que compramos carne do Centro-Oeste. Agora, o fluxo deve se inverter – diz.
Segundo Jarbas Knorr, presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do Rio Grande do Sul, faz tempo que o produtor não se via tão capitalizado.
– Está vendendo o boi a um preço bom. O arroz a um preço bom, o mesmo com a soja e o feijão. O mercado interno está aquecido. Um açougueiro daqui de Pelotas diz que a costela chega e já vende – afirma Knorr, confiando que a demanda continuará maior do que a oferta por mais dois anos, já que ainda faltam matrizes e touros para a reprodução.
Maria Gabriela Tonini, consultora da Scot, acredita que a turbulência só afetará os frigoríficos que precisam de capital de giro para comprar e poderão sentir falta de crédito.
– O produtor não deve ter impacto. Diferentemente do agricultor, o pecuarista costuma trabalhar com recursos próprios – analisa Maria Gabriela.
O otimismo também diz respeito à demanda mundial por carne, que deve seguir crescendo. Em 2007, a produção brasileira foi de 10,2 milhões de toneladas, 55% superior à de 2000.
O veterinário Marco Antônio Rossi da Silva, 48 anos, que cria 1,2 mil cabeças de gado em Itaqui, lembra que, graças à sanidade do rebanho, o Brasil tem acesso a mercados internacionais importantes. Por isso, o produtor não pode descuidar dos animais.
Mauro Lopez, criador e presidente da Cooperativa Fronteira Oeste de Carnes e Derivados, de Uruguaiana, diz que nas últimas duas décadas os criadores sobreviveram às mudanças impostas pela globalização da economia por terem profissionalizado a administração dos negócios e o manejo dos rebanhos.
Na opinião do vice-presidente do Sindicato Rural de Alegrete, Pedro Pires Piffero, além de um mercado interno aquecido, outro fator será importante para garantir uma certa imunidade ao negócio da carne:
– Mais de 80% dos insumos da pecuária são nacionais. Não dependemos de importações.
Veículo: ZERO HORA