Numa demonstração de que os temores de uma recessão global já podem contaminar a produção de alimentos, a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) decidiu recomendar aos criadores do Estado redução de até 15% no alojamento de pintos de corte para evitar o exscesso de oferta nos próximos meses nos mercados interno e externo. Nesta semana a Acav, que representa o setor em Santa Catarina, já havia sugerido corte de 5% na produção aos seus associados.
"Com a crise, alguns importadores devem replanejar as encomendas para 2009, principalmente na Europa mas também no Oriente Médio e na Ásia", prevê o secretário executivo da Asgav, José Eduardo Santos. Terceiro maior produtor brasileiro de carne de frango, atrás do Paraná e de Santa Catarina, o Rio Grande do Sul aloja em média 62 milhões de pintos por mês, tomando como base o período de janeiro a agosto deste ano.
Segundo Santos, normalmente a entidade recomenda em meados de novembro uma redução de cerca de 10% no alojamento porque depois do pico de vendas do fim de ano há um refluxo natural nas vendas durante as férias de verão. Agora, porém, a medida foi antecipada e ampliada em função da conjuntura econômica desfavorável.
Para 2008, a previsão de produção de frangos no Estado está mantida entre 725 milhões e 730 milhões de cabeças, alta de 6% a 8% sobre 2007, sendo 65% destinados ao mercado externo. No ano passado, as indústrias no Rio Grande do Sul venderam 1,077 milhão de toneladas, das quais 694 mil para o exterior, que renderam US$ 1,236 bilhão. Neste ano, com o aumento dos preços, os embarques até julho cresceram 14% em volume, para 461 mil toneladas, e 46% em valor, para US$ 994 milhões. "E o ritmo deve manter-se nesse patamar até o fim do ano", prevê Santos.
O problema agora é descobrir qual será o real impacto da crise financeira sobre o setor em 2009. "É cedo para prever, mas pode haver retração de demanda nos mercados mundiais", reitera o executivo. O assunto será pauta do Congresso Sul-Brasileiro de Avicultura, Suinocultura e Laticínios (Avisulat), no mês que vem em Bento Gonçalves (RS). "Lá teremos melhores condições de traçar um cenário para o ano que vem", diz Santos.
Com um ciclo de produção bem maior, na faixa de nove a dez meses desde o nascimento até o abate dos animais, as indústrias de carne suína no Estado ainda não pensam em reprogramar a produção, mas sentem indiretamente os reflexos da crise da economia americana. Segundo o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Keber, com a redução do consumo interno os EUA a entraram com mais agressividade no mercado internacional.
"Eles estão praticando preços de 10% a 15% menores que os nossos, que estão na média de US$ 3,3 mil a tonelada", explica o executivo. Com isso, as exportações do Estado devem cair das 295 mil toneladas de 2007 para 270 mil neste ano. Em compensação, o aumento dos preços deve proporcionar uma receita de US$ 750 milhões neste ano, ante US$ 672 milhões no exercício passado. Já a produção gaúcha total deve alcançar 585 mil toneladas, com alta de 7,1%, o equivalente a 19,1% do volume total estimado para o país.
De acordo com Keber, até agora está mantida a previsão de produção de 3,15 milhões de toneladas de carne suína em todo o Brasil no ano que vem. "E o Rio Grande do Sul deve acompanhar essa evolução". Os dados são revisados a cada quatro meses e em função do ciclo de produção do setor qualquer alteração só seria possível a partir do segundo semestre do ano que vem caso apareçam sinais de retração de demanda.
A expectativa positiva, de acordo com o executivo, fica por conta da possibilidade de abertura do mercado chinês no próximo ano. Um grupo de técnicos do serviço sanitário oficial daquele país chegou ao Brasil na quarta-feira para vistoriar o sistema de defesa sanitária no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Veículo: Valor Econômico