Empresa adia investimentos previstos para 2009

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A Sadia deve adiar parte dos investimentos previstos para 2009 em novas unidades. Entre os projetos que terão o início das obras postergado estão a construção de uma fábrica nos Emirados Árabes, orçada em R$ 150 milhões, e um complexo para suínos no município de Mafra (SC), que tem custos estimados em R$ 700 milhões.

 

O presidente do conselho de administração da empresa, Luiz Fernando Furlan, que retornou ao cargo na semana passada, após passar seis anos fora, pediu para conhecer todos os investimentos em estudo. Ontem, durante reinauguração de uma fábrica de empanados de carne que havia sido destruída em incêndio há quase dois anos em Toledo, oeste do Paraná, ele disse que é preciso ter mais cautela daqui para a frente. "Para o ano que vem vamos ter de estudar. Nós e todo mundo", afirmou, acrescentando que falou com uma dúzia de presidentes de empresas sobre o assunto. 

 

Questionado sobre a unidade árabe, cujas obras poderiam ser iniciadas ainda em 2008 em Abu Dabhi, ele disse que "é possível que seja adiada". O executivo irá para Dubai daqui a quatro semanas, para participar de fórum econômico mundial, e vai aproveitar para se atualizar sobre os planos para a região. No exterior, a Sadia tem fábrica na Rússia e na Holanda. Sobre o complexo de Mafra, que também seria iniciado em breve, o diretor de relações institucionais, Felipe Luz, explicou que as obras vão começar "quando tudo entrar na normalidade", não antes de meados de 2009. 

 

O adiamento de obras de ampliação vai na direção contrária ao que vinha acontecendo nos últimos anos, quando a Sadia manteve um ritmo constante de investimentos. Para 2008, por exemplo, foram previstos R$ 1,6 bilhão para construções e ampliações, e pelo menos R$ 1 bilhão já foram investidos. A reconstrução da fábrica de Toledo, por exemplo, custou R$ 173 milhões, e mais R$ 33 milhões foram usados em outras unidades que a Sadia possui no município ? no Paraná estão cinco das 15 fábricas próprias da empresa no país e 18 mil dos 60 mil empregados. "Pro ano que vem vai ter alguma coisa de investimento, mas em valores menores". Furlan diz que a prioridade agora é colocar em funcionamento cinco unidades com investimentos em andamento, porque quando todas forem inaugurados, no prazo de seis meses, irão resultar em acréscimo de R$ 4 bilhões no faturamento, ou um terço dos R$ 12 bilhões previstos para 2008. Segundo ele, a planta de Lucas do Rio Verde (MT) fez na quarta-feira "a primeira fornada de mortadela". Mas o executivo contou que, se tivesse como produzir, teria exportado US$ 300 milhões a mais de janeiro a setembro deste ano. 

 

Na visita a Toledo, Furlan fez sua primeira aparição pública depois de ser chamado para ajudar a empresa a enfrentar as turbulências motivadas pela perda de R$ 760 milhões em operações financeiras, divulgadas no mês passado. No evento, que contou com a participação do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), e de membros da família fundadora da empresa, diversas vezes foram citadas as palavras fênix e "renasceu das cinzas". O padre convidado para a cerimônia disse que pediram para ele fazer uma "bênção forte". 

 

Furlan mostrou-se otimista. 

 

"Tomo vacina de graça há dois anos", disse, para mostrar experiência de vida. "Pessoas como eu carregam cicatrizes. A Sadia também carrega". Ele contou que deve receber o relatório da auditoria feita pela KPMG hoje ou na segunda-feira e o resultado dela será apresentada na assembléia de acionistas marcada para o início de novembro. Questionado sobre o que teria acontecido de errado, o executivo evitou apontar culpados. "Eu tenho uma idéia, mas prefiro esperar a conclusão de quem é especialista". Ele repetiu que a empresa estava autorizada pelo conselho a fazer operações no mercado futuro até o equivalente a seis meses de suas exportações, ou US$ 1,7 bilhão. 

 

"O que aconteceu não foi falha de política, foi falha de execução, quando as pessoas responsáveis ultrapassaram o limite, não informaram e assumiram riscos exagerados". Sem ter o resultado das investigações internas, Furlan disse que está vendo se houve "conivência ou algum tipo de indução por parte dos bancos que atuaram" nas operações. "É difícil acreditar que uma coisa dessas possa acontecer isoladamente", comentou. "Temos ótimos especialistas em direito olhando essas coisas". 

 

Desde que voltou para o conselho da Sadia, Furlan disse estar com rotina de "pau para toda obra", porque despacha com o diretor-presidente da empresa, Gilberto Tomazoni, e com o pessoal que faz gerenciamento de caixa, olha os investimentos, faz contatos externos e explica ao mercado o que aconteceu. 

 

Questionado se a empresa vai fechar o ano com prejuízo, Furlan apelou para o futebol. "Há essa possibilidade, mas sou corintiano. Corintiano joga até os 48 do segundo tempo". Segundo ele, é possível "empatar no segundo tempo", porque o último trimestre costuma ser o melhor do ano e pode atenuar as perdas. O balanço do terceiro trimestre será divulgado no dia 30. 

 

Veículo: Valor Econômico


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