A forte valorização do dólar no Brasil - que ontem subiu mais de 6% e neste segundo semestre já acumula alta de 48% - está trazendo também inconvenientes às empresas exportadoras do Brasil. Depois de os importadores russos de carne iniciarem a renegociação de contratos, agora até os japoneses, tradicionais bons pagadores, estão pedindo descontos, de olho na possível margem que as industrias brasileiras estão tendo com a alta do dólar. O presidente-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), Francisco Turra, disse que o setor está surpreso e preocupado com esse tipo de prática também entre compradores do Japão. "Este país é um dos melhores clientes do Brasil. Compra cortes nobres, de maior valor agregado. Essa postura, percebida desde o começo de outubro, nos deixa de alerta ligado porque pode indicar que a crise já chegou com alguma intensidade lá", avalia.
De acordo com Turra, os descontos também estão sendo pedidos sob contratos de produto já entregue e variam de 10% a 20%. O Japão está no topo da lista dos maiores compradores do frango brasileiro. Em 2007, o País foi responsável por receita US$ 578,7 milhões (frango in natura), 12,5% de tudo o que o Brasil exportou desse item no ano passado (US$ 4,6 bilhões). De janeiro a setembro deste ano, o Brasil já vendeu US$ 886,3 milhões ao Japão que pagou por tonelada, na média, US$ 2,654 mil, 47% mais que a média de todos os outros países importadores.
Turra, que esteve nesta semana em Paris na maior feira mundial de alimentos, disse que a postura das empresas brasileiras está sendo a de selecionar clientes que tem boa "performance" (são bons pagadores) e descartar, em primeiro momento, aqueles importadores que já apresentaram no passado algum tipo de problema de cumprimento de regras de contrato. "Os russos e japoneses estão pedindo muito prazo e desconto. Haverá até concessões para alguns clientes, mas somente para aqueles fiéis. Com os outros, a postura é de endurecimento nas negociações", afirma Turra.
Carne de boi
Os frigoríficos exportadores de carne bovina também estão com o mesmo tipo de problema, mas somente em relação a contratos com a Rússia, segundo Luiz Carlos de Oliveira, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). "Algumas cargas estão paralisadas no porto de São Petesburgo, na Rússia, sem conseguir entrar no país, porque os importadores estão pressionando por queda no preço", diz Oliveira.
Sem estimar qual o volume total, ele acrescenta que ainda há cargas parados nos portos de Santos, no Brasil, e de Roterdam, na Holanda, à espera de definição nessas negociações. "São casos pontuais, portanto, a Abiec não está tratando disso de forma coletiva. O que estamos tentando explicar a esses clientes é que as empresas no Brasil exportaram com Adiantamento de Contrato de Câmbio, com fixação do dólar em outro valor. Assim, agora que o câmbio está alto, os frigoríficos não estão se apropriando dessa margem", detalha Oliveira. A Rússia é o maior importador de carne bovina in natura do Brasil. Nos nove meses deste ano, foram embarcados ao país US$ 1,2 bilhão, 42% do total.
Veículo: Gazeta Mercantil