Rússia suspende compra de carnes de três estados

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Barreira temporária que começa em 15 de junho atingiu 85 estabelecimentos em três estados do País

 

A Rússia, um dos principais parceiros na importação de carne brasileira, anunciou ontem embargo temporário aos produtos de 85 frigoríficos dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso. Conforme comunicado do Serviço Federal de Inspeção Veterinária e Fitossanitária da Rússia, há desconfiança sobre os serviços veterinários praticados nas localidades afetadas pela medida, que começa a vigorar no dia 15 de junho. Do total de estabelecimentos, 31 são gaúchos.

 

O programa de controle veterinário brasileiro é protestado pelo governo russo, que afirma que poucas amostras de carne - aves, suínos e bovinos - têm qualidade garantida por meio de testes. Além disso, é apontado que os produtos brasileiros chegaram à Rússia contendo parasitas e bactérias. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmou, em nota, ter recebido "com estranheza" a notificação russa sobre a suspensão temporária da importação de carnes de estabelecimentos. "Pela segunda vez, a notificação chega sem nem mesmo ter sido enviado ao governo brasileiro o relatório técnico das inspeções russas feitas no Brasil", diz o secretário de Defesa Agropecuária, Francisco Jardim. De acordo com o secretário, a SDA enviou nesta quinta-feira correspondência às autoridades russas reiterando o pedido de envio do relatório.

 

Jardim anunciou ainda que o ministério promoverá, na segunda-feira, reunião com os presidentes de todas as empresas exportadoras de carne e suas respectivas associações com a participação de representantes do ministério das Relações Exteriores, para avaliar o impacto da medida.

 

O chefe de Serviços de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Mapa no Rio Grande do Sul, Marco Antônio Rodrigues, contesta a medida. De acordo com ele, o órgão ainda não foi notificado formalmente sobre o embargo. Além disso, Rodrigues afirma que a fiscalização dos produtos gaúchos, assim como dos demais estados incluídos, segue padrões rígidos e continuam habilitados para exportação.

 

"O Rio Grande do Sul exporta para mais de 150 países com toda credibilidade de importadoras bastante exigentes, tanto ou mais que a Rússia", destaca Rodrigues. "É até um absurdo dizer que temos algum problema sanitário", acrescenta. O representante do Mapa no Estado diz, ainda, que apesar das peculiaridades de cada mercado, todos os critérios vêm sendo obedecidos pela fiscalização, que é responsabilidade do próprio ministério.

 

O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, questiona o fato de missões de diversos países terem visitado as plantas das companhias embargadas, e somente a Rússia ter reivindicado condições sanitárias. O dirigente pontua que se os produtos estivessem fora dos padrões, a medida deveria passar a valer imediatamente, e não só no dia 15 de junho, já que até lá a produção deve continuar embarcando à Rússia normalmente.

 

"Simplesmente desabilitaram plantas inteiras sem a menos justificativa. Uma coisa é chegar dizer que em tal planta um produto que não era condizente", frisa Turra. O presidente da Ubabef teve uma extensa conversa telefônica com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que por sua vez teria garantido que "faria tudo para reverter essa situação". Turra considera o embargo um desrespeito diante da recente missão brasileira à Rússia, liderada pelo vice-presidente da república, Michel Temer.

 

No Sindicato da Indústria de Suínos (Sips), também há expectativa de que o Mapa intervenha. O diretor-executivo da entidade, Rogério Kerber, confia no caráter temporário da medida para que haja condições de avaliar o que as autoridades daquele país desejam da fiscalização brasileira. "Todos os agentes estão se mobilizando no sentido de encontrar a melhor forma de conduzir e agilizar esta negociação", diz. A Rússia é o maior comprador de carnes bovina e suína brasileiras. Em 2010, o país importou US$ 649 milhões ou 48% da produção de carne suína brasileira, além de US$ 1,07 bilhão em carne bovina, o equivalente a 22% da produção. No caso dos frangos, foram embarcados 3,7% da produção no ano passado ou US$ 250 milhões.
Exportadores exigem reação do governo à medida

 

Os exportadoras de carne estão cobrando do governo brasileiro medidas urgentes para enfrentar o embargo imposto pelas autoridades sanitárias da Rússia à importação de produtos de 89 frigorífico. O setor mais atingido é o de carne suína, que tem a Rússia como destino de 40% das exportações. "Considerando que a autoridade da Rússia forneceu a data limite de 15 de junho para a medida entrar em vigor, esperamos que o ministério agende com urgência reunião em Moscou, levando resposta a todos os questionamentos apresentados", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.

 

O representante da indústria de carnes suínas disse que o Brasil pode ser colocado como um modelo internacional em condições de saúde animal no campo e de saúde pública nos frigoríficos, mas reconheceu que existem "falhas burocráticas" no Ministério da Agricultura. "As exportações de carne do Brasil cresceram muito nos últimos anos e falta pessoal técnico para atender a uma crescente demanda. O governo precisa reagir, não deixando qualquer dúvida sobre a sanidade", ressaltou.

 

 


Veículo: Jornal do Comércio - RS 


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