Confinamento mais caro limita o crescimento da pecuária

Leia em 4min

O setor que esperava avançar mais de 30% este ano já se contenta com 10% de aumento no número de animais confinados. O preço da commodity é o vilão.


O custo de produção nos confinadores brasileiros de bovinos alcançou neste ano um dos patamares mais altos da história, puxado principalmente pela valorização das commodities agrícolas. Além disso, a forte valorização da alimentação do gado reduziu drasticamente a expectativa inicial de crescimento do rebanho confinado do País.

"Neste ano os grãos elevaram muito o custo de produção nos confinamentos. A conta ficou mais apertada. E este ano com certeza foi um dos mais caros que já vimos", declarou o diretor da empresa Vera Cruz Agropecuária, com matriz em Goiás, Rodrigo Penna Siqueira.

Nos últimos dois anos o custo de produção, na região central do País, oscilava entre R$ 50 e R$ 55 para cada arroba de boi. Com a alta do milho, os valores registrados em estados como Goiás e Mato Grosso já ultrapassavam a casa dos R$ 70 por arroba, afirmou a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon). "Normalmente o custo de produção para o confinador varia entre R$ 50 e R$ 55, e esse ano ficou uns 20% mais caro. Esse é um dos valores mais caros pagos pelo produtor na história", disse Eduardo Alves de Moura, presidente da entidade, ao salientar que ao longo desta temporada, esse foi o grande desafio para o confinador.

Moura considerou que aqueles pecuaristas que trabalharam com vendas no mercado futuro acabaram fazendo bons negócios, fator que reduziu o impacto do custo. Esse foi o caso da Vera Cruz Agropecuária que garantiu preços mais elevados "em época de vacas magras", acrescentou Siqueira. "Nós preferimos travar o preço do gado de julho até outubro a valores de R$ 96, enquanto a arroba seguia a R$ 90. Em novembro nós não travamos, pois os valores estavam subindo, e agora estamos vendendo bois a mais de R$ 100", disse ele.

O impacto da alta do preço das commodities também foi sentido na oferta de animais confinados. Em seu primeiro levantamento para este ano, a Assocon previa que a quantidade de animais confinados saltaria 31% ante os volumes registrados no ano passado. Após a constatação dos custos mais altos, a expectativa agora é de uma alta muito mais modesta. "Com isso tudo, o avanço que aguardávamos no setor não será atingido. Se conseguirmos crescer 10% este ano está de bom tamanho. O Mato Grosso deve ampliar mais do que isso certamente, mas a média nacional ficará nisso", aposta Moura.

O presidente da Assocon também revelou que sua expectativa para 2012 é que o preço do milho permanecerá elevado, a exemplo do que ocorreu em 2011, seguindo cotação ao redor dos R$ 19,00 a R$ 20,00 a saca de 60 quilos pagos à vista na região de Mato Grosso, porém, sem desconsiderar variações registradas em outras praças e preços mais elevados como a de São Paulo, Paraná e Goiás, regiões cuja saca do milho vem sendo cotada entre R$ 22,00 e R$ 29,00. "Acredito que em 2012 o cenário será o mesmo, tão logo o setor de confinamento deve seguir retraído", comentou ele.

Na propriedade goiana o rebanho de gados confinados cresceu de 16 mil cabeças registradas no ano passado, para pouco mais de 20 mil este ano. Entretanto, caso o cenário de valores não se altere, o rebanho pode seguir os passos deste ano. "Já produzimos muito mais aqui, mais de 35 mil cabeças, mas os custos estão apertados e temos que esperar o mercado pagar mais para ampliar sem riscos", disse o diretor da Vera Cruz.

Para tentar minimizar os altos riscos gerados pelos custos de alimentação para as agropecuárias de confinamento, a Assocon se reuniu com integrantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para tentar criar uma linha de financiamento fixo exclusivo para os confinadores. "Existem financiamentos para fábricas de ração, e o confinamento é uma fábrica de ração, pois compramos muito milho, e insumos. E o volume investido em ração é muito alto. E para o setor pecuário seguir crescendo sem grandes expansões de área precisaremos de algum apoio governamental. Pois teremos que produzir mais carne em uma área menor", comentou o presidente da Assocon.

Para ele, o confinamento é a opção para o Brasil produzir mais carne em uma área menor, a fim de suprir a demanda futura pelo produto. "O governo apoia muito a agricultura e pouco a pecuária. Queremos que essa linha esteja a disposição todo o ano para dar uma opção aos confinadores. O Brasil precisa dar opções para que os produtor agropecuários possam fazer planejamentos a longo prazo, não podemos fazer financiamentos para resolver problemas pontuais apenas", finalizou Eduardo Alves de Moura.


Veículo: DCI


Veja também

Nutrimar dobra receita

Por conta do câmbio desfavorável e dos preços até 20% mais elevados obtidos no País, a...

Veja mais
Bois confinados em Minas reforçam oferta de carne

Cerca de 400 mil animais, volume 20% superior ao de 2010, ficaram nos currais ou piquetes por até três mese...

Veja mais
Crise afeta exportação de carne de frango do Brasil

As incertezas na economia mundial, principalmente com o avanço da crise na Europa, afetam as exportaç&otil...

Veja mais
Seara fará venda direta de carne suína para China

Hoje, a maior parte da carne suína importada do Brasil à China é recebida de forma indireta, via Ho...

Veja mais
Carne sem vias de escoamento

O crescimento da demanda mundial por alimentos, puxado pela Ásia, em particular pela China, cria um horizonte fav...

Veja mais
País tenta há dois anos rastrear gado do nascimento ao abate

Hoje, sistema funciona para quem exporta para a União Europeia; Dilma quer regulamentar rastreamento de carneO go...

Veja mais
Granjas têm que ser registradas

O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) alerta os avicultores que o prazo limite para a entrega da documenta&cc...

Veja mais
Frigorífico denuncia ao MPF 3.864 áreas ilegais de produção de gado

Desde o início do ano passado, os brasileiros consumiram, inadvertidamente, até 2 milhões de cabe&c...

Veja mais
Preços das carnes começam a subir, mas em ritmo lento

Valores dos derivados de suínos, bovinos e aves já ficam mais caros, neste mês de novembro mas ainda...

Veja mais