O crescimento da demanda mundial por alimentos, puxado pela Ásia, em particular pela China, cria um horizonte favorável para a produção de carnes e proteína animal nacional. Em contrapartida, o maior desafio é driblar o gargalo da infraestrutura logística precária para o escoamento da produção para o mercado consumidor internacional.
A análise é do assessor de Relações Institucionais da Itambé e professor de MBA em Gestão do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ricardo Cotta Ferreira, que ministrou palestra sobre os desafios do agronegócio brasileiro durante o 1º Encontro dos Suinocultores Mineiros (Suiminas), realizado na última quinta-feira, na sede da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg), em Belo Horizonte.
"A migração da população do campo para os centros urbanos e o aumento da renda são uma tendência dos países em desenvolvimento e, em especial, da China. Isto cria um efeito demanda por proteína animal positivo para os próximos anos. Porém, o Brasil carece da necessidade de implantação de novas vias de escoamento da produção para atender estes mercados, porque a agropecuária no país se interiorizou e a infraestrutura não acompanhou este processo", afirma.
Um outro fator positivo para a produção nacional é o próprio mercado interno. A previsão, de acordo com Ferreira, é de que o país atinja, até 2020, um nível de consumo de carnes e proteína animal equivalente aos padrões dos Estados Unidos e de países da Europa.
Fretes - Os gargalos estruturais, porém, são muitos, começando pelos portos ineficientes e pela ausência de navegação de cabotagem em cerca de 8 mil quilômetros de costa, como explica Ferreira. "A carga tributária para este tipo de transporte é tão alta que, em muitos casos, fica mais barato importar alimento de um determinado país do que transportar de uma região do Brasil para outra", lamenta.
Além disso, Ferreira lembra que grande parte das ferrovias nacionais é controlada por poucas empresas privadas, a maioria delas mineradoras e siderúrgicas, o que deixa o frete mais caro para terceiros. Outro aspecto negativo para o agronegócio brasileiro é a valorização cambial.
"Os empresários cobram medidas protecionistas, criando, por exemplo, barreiras para produtos importados. Isso é uma solução pontual. Para ganhar de fato competitividade as mudanças precisam ser estruturais, do ponto de vista das reformas tributárias e dos investimentos em infraestrutura", alerta.
A concentração de mercados é outra desvantagem do agronegócio do Brasil. Segundo Ferreira, na cadeia de defensivos agrícolas nacional, que movimenta cerca de US$ 7 bilhões anualmente, apenas seis empresas respondem por 70% deste montante. No segmento de fertilizantes, o panorama é pior. Só três grupos representam 95% de um giro anual da ordem de US$ 16 bilhões.
Todos estes aspectos desfavoráveis derrubaram o Brasil para o 58º lugar no ranking de competitividade, conforme o último relatório Global Competitiveness Report, divulgado pelo Forum Econômico Mundial. Para piorar, apesar do imenso potencial, a participação nacional no market share das transações internacionais do agronegócio é de apenas 7%.
Veículo: Diário do Comércio - MG