As incertezas na economia mundial, principalmente em função da crise da dívida soberana na Europa, tornam nebuloso o quadro de demanda para a carne bovina brasileira no próximo ano. De fato, dúvidas pairam em todo o mercado de commodities, como disse José Carlos Hausknecht, consultor da MBAgro, durante o encontro "Pecuária de Corte, o primeiro ano de uma nova década", promovido pela Scot Consultoria, na última sexta-feira.
"As incertezas no mercado mundial trazem dúvidas sobre como será a demanda por commodities. Há uma indefinição na situação externa", comentou. O cenário que se desenha para 2012 é de crescimento zero ou recessão na Europa, alguma retomada nos EUA e crescimento menor na China. Tudo isso pode afetar a demanda pela carne bovina produzida no Brasil, que já perdeu espaço na Europa nos últimos anos, não apenas por causa da crise, mas também por restrições sanitárias dos europeus.
Neste ano, o Brasil teve também fatia menor do mercado russo, observou Fabiano Tito Rosa, do frigorífico Minerva, lembrando o embargo da Rússia a uma lista de estabelecimentos exportadores de carnes do Brasil. Houve ainda queda nas vendas de carne bovina industrializada para os EUA, por conta da descoberta de resíduos acima do permitido do vermífugo ivermectina em lotes de produto brasileiro. As vendas menores do Brasil favoreceram concorrentes como os EUA e a Austrália, acrescentou Tito Rosa.
Diante disso, a previsão de analistas presentes ao encontro na sexta-feira é de que país termine 2011 com uma exportação entre 1,5 milhão e 1,6 milhão de toneladas de carne bovina, abaixo das 1,8 milhão de toneladas do ano passado, quando já havia recuado 3%.
A manutenção ou recuperação dos volumes de vendas ao exterior em 2012 vai depender não apenas dos desdobramentos da crise na Europa, mas também da demanda chinesa, que aos poucos eleva as compras do Brasil, do desempenho das vendas ao Oriente Médio e da retomada dos embarques à Rússia.
Grande cliente da carne bovina brasileira, o Irã gera preocupação nos analistas, que temem um acirramento das tensões entre o país e os Estados Unidos, por conta do programa nuclear iraniano.
Alcides Torres, diretor da Scot, fez uma análise mais otimista, já que a oferta de carne no Brasil deve melhorar no próximo ano. "A expectativa é exportar um volume semelhante ao deste ano", estimou.
Veículo: Valor Econômico