Brasil Foods vai abater suínos criados para a Doux Frangosul em Caxias do Sul

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A Brasil Foods (BRF) ficará com a produção do frigorífico de abates de suínos da Doux Frangosul em Ana Rech, Caxias do Sul. Produtores integrados estão sendo comunicados, desde a semana passada, por representantes da BRF de que os pagamentos por lotes de leitões e animais terminados serão assumidos pela companhia, fusão da Sadia e Perdigão para formar o maior grupo de alimentos processados do País e um dos maiores do mundo.

Como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vetou a compra da unidade pela Brasil Foods, que chegou a comunicar ao mercado a intenção, os interlocutores do grupo dizem que “a gestão será supervisionada”. Os produtores também estão assinando acordos, que incluem cláusula de sigilo, com a Doux Frangosul no qual a empresa promete quitar dívidas, avaliadas em R$ 13 milhões, até o fim de março.

São débitos existentes desde setembro do ano passado. “Ela (a BRF) diz que vai assumir o pagamento e que o contrato com a Doux é de transição e quitação. Dizem que vão supervisionar a unidade, pois estão proibidos de comprar pelo Cade. Se entrar outra empresa, eles saem da operação”, relatou um dos integrados. Técnicos que eram contratados pela Doux Frangosul, que enfrenta forte crise nos últimos três anos com redução de abates e demissões no Estado, falam agora em nome da BRF. “É uma esperança”, traduziu o produtor, um dos 700 que atuam com suínos.

A área de comunicação da Brasil Foods informou que o grupo não falaria sobre o assunto. Já a Doux Frangosul não respondeu aos questionamentos sobre a operação até o fechamento desta edição. Em fevereiro, após audiência no Ministério Público Estadual (MP-RS), a filial brasileira, com sede em Montenegro, anunciou que o grupo de origem francesa abriria o capital para captar investidores. No mercado brasileiro, Marfrig e JBS são cotados como virtuais interessados na aquisição e possivelmente não enfrentariam restrições do órgão de defesa da concorrência.

Dirigentes do setor primário, ligados a Fetag-RS e a Associação dos Criadores de Suínos (Acsurs) confirmam a negociação. A dívida com os suinocultores será quitada em duas vezes: débitos até janeiro serão saldados até o dia 15 deste mês, e as faturas de fevereiro, até o dia 31. Em abril, o pagamento retornaria à rotina pré-crise, com repasse no dia 15 de cada mês. “A informação que temos é que a BRF está assumindo a cadeia de produção. Ela não fará por amor a Doux e aos produtores. É um negócio e fica resolvida a confusão”, analisa o presidente da Acsurs, Valdecir Folador.



Encontros com produtores em algumas regiões do Estado acertam detalhes da operação



Encontros com os diferentes segmentos da cadeia de produção primária (unidades de produção de leitões, crecheiros e terminadores) ocorrem nas regiões. A ração para alimentação já tem como origem plantas da nova gestora, como a de Marau. Em breve, medicamentos também serão custeados pelo grupo brasileiro. Os transportadores terceirizados que levam lotes para o frigorífico já foram avisados de que receberão seu dinheiro por meio da BRF. “Faz duas semanas que estou puxando para a empresa. Eles dizem que assumiram a planta”, confirma um dos terceirizados. Segundo o transportador, houve redução drástica no volume e a promessa é de retomar as quantidades na semana que vem. A unidade de Ana Rech tem capacidade para abater 3,5 mil toneladas ao dia e passou para mil. A estrutura opera com turnos de abate, desossa e embutidos.

Além disso, animais engordados nas granjas de integrados da Doux já estavam sendo transferidos para plantas da Brasil Foods desde janeiro. O fato, segundo algumas fontes, pode estar vinculado ao abatimento de R$ 80 milhões que a Doux teria recebido da BRF, com registro no cartório de imóveis de Caxias do Sul e que tem como garantia para alienação fiduciária o imóvel do frigorífico de Ana Rech. A data é de 12 de setembro de 2011, poucos dias antes do comunicado em que a companhia líder admite estar negociando com a concorrente.  O Cade vetou o negócio em novembro. 

O suposto acordo entre as duas fabricantes atinge apenas o ramo de suínos. Nos frangos, que soma 1,5 mil integrados, parte deles tem as duas criações, a situação só piora, segundo o presidente da Fetag-RS, Elton Weber. “Ou a empresa arruma um parceiro ou consegue financiamento com grande volume de recursos”, aponta Weber. Avicultores amargam falta de ração e pendências desde setembro, lembra o dirigente. Em muitas regiões, como os vales do Caí e Taquari, que respondiam por 70% da entrega de aves, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Pedro da Serra, Paulino Olivo Donatti, cita que avicultores já estão rompendo a integração com a Doux e assumindo parcerias com outras agroindústrias.

Entre as compradoras estão a própria BRF, Cosuel, Agrosul, Chisini, Languiru e Frango Nosso. “O problema é que não tem como as empresas assumirem tudo”, preocupa-se Donatti. Mas para isso os agricultores têm de fazer manutenção de aviários, mas falta dinheiro. “Não tem dinheiro e não tem certeza do futuro”, angustia-se o dirigente em São Pedro da Serra. “Se um dia melhorar a situação, eles podem voltar”, anseia Joaquim Weber, secretário da Agricultura de Tupandi.    



Frigoríficos reduzem abates e ampliam férias de empregados



As plantas de abates de frangos enfrentam a situação mais crítica na operação da combalida Doux Frangosul. Na segunda-feira, a unidade de Passo Fundo interrompeu um dos dois turnos, com férias coletivas para 600 dos 1.750 empregados. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da região, Miguel Luís dos Santos, diz que o quadro de pessoal somava 3,2 mil até novembro passado. “Muitos foram pedindo demissão e outros demitidos. O medo é ficar e depois não receber”, explica Santos. Toda semana ocorrem rescisões na entidade. A primeira temporada de folga vai até 5 de abril. Depois, o outro turno entra no recesso.

Como não houve acordo, o sindicato denunciou a empresa por irregularidade no uso de férias coletivas ao Ministério Público do Trabalho e à Delegacia do Trabalho. O sindicato registra atrasos na quitação de férias. O dirigente sindical informou que a empresa responsável pelo transporte dos trabalhadores paralisou o serviço por falta de pagamento. Uma nova prestadora assumiu. Em Montenegro, a história se repete. Os empregados do segundo turno suspenso voltam no fim do mês e outro grupo entra no regime. As férias também atingem as áreas de embutidos e empanados, que chegaram a parar por dez dias. Dirigentes do sindicato da categoria querem ação estadual da federação do setor ante a preocupação sobre os atrasos das verbas salariais. Em Caxias do Sul, a planta de suínos também tem parte do quadro em férias. Com a queda dos abates, o volume caiu de 80 mil toneladas processadas de embutidos para 20 mil ao dia. Também ocorre atraso no pagamento de férias, segundo o sindicato da alimentação da região.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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