Fundos buscam retorno com filé japonês e sashimi

Leia em 3min 30s

O apetite mundial por atum japonês, carne bovina de Wagyu e outras iguarias apreciadas em restaurantes tão distantes quanto os de Nova York e de Londres está por trás de uma tendência de investimentos pouco comum no Japão. Os investidores institucionais e os bancos regionais, à caça de retornos que, segundo esperam, alcançarão até 7%, injetaram pelo menos 23 bilhões de ienes (US$ 281 milhões) em cerca de dez fundos que investem em fazendas e criadouros de peixes japoneses.

Quatro desses fundos do setor de alimentos são gerenciados pelo ex-dirigente do Citigroup Daisuke Mori, que captou 10 bilhões de ienes de bancos regionais e investidores institucionais para aplicar em projetos como o de criação de atum, a maioria deles na ilha de Kyushu, no sul do país, longe da contaminação por radiação causada pelo terremoto e o tsunami do ano passado.

"A área de alimentos é dotada de um grande potencial de investimentos", diz Mori, 44, presidente da Dogan Investments, da cidade de Fukuoka. Ryohei Hayashi, um gerente-sênior da Dogan, diz que o mais recente de seus fundos, fechado a investidores pessoas físicas, tem como meta um retorno de 7% para este ano.

A demanda mundial por comida japonesa levou pelo menos 25 bancos regionais a aumentar a concessão de crédito a produtores desejosos de exportar. Mori, que comandou a agência do Citigroup em Fukuoka durante seus seis anos no banco, investiu 48 milhões de ienes na processadora de peixe Burimy, que cria centenas de milhares de atuns extragrandes e linguados-amarelos em tanques-rede localizados 800 metros ao largo da costa.

A empresa pretende vender 2 mil atuns criados em cativeiro este ano e mais do que dobrar as vendas no ano que vem, diz Takahiro Hama, um dos diretores da empresa. A Burimy está negociando com a Nomura Holdings, sediada em Tóquio, a realização de uma Oferta Pública Inicial (IPO, pelas iniciais em inglês) destinada a bancar o crescimento das exportações para o Oriente Médio e a Europa, diz Hama.

A empresa de criação de atum exporta cerca de 40% de seu pescado, principalmente para lojas e restaurantes de Califórnia e Nova York, entre as quais o Morimoto, um restaurante operante em Manhattan controlado por Masahuro Morimoto, estrela do programa de TV "Iron Chef" (a pizza de atum, servida numa tortilla crocante com azeitonas, é uma das especialidades do lugar).

As exportações japonesas de atum e de linguado-amarelo cresceram 16,9% e 18,1%, respectivamente, em 2011, em comparação com o ano anterior, para 7,36 bilhões de ienes e 7,76 bilhões de ienes, segundo o Ministério da Agricultura, Recursos Florestais e Pesca do Japão.

Defrontados com as anêmicas taxas incidentes sobre os empréstimos, de 1,04%, os bancos regionais japoneses também tentam capitalizar o sucesso das "delicatessen" japonesas. O Kagoshima Bank, sediado em Kyushu, aumentou sua carteira de crédito aos criadores dispostos a se concentrar em alimentos especiais para exportação, em vez de arroz ou cana-de-açúcar para o consumo interno. Os empréstimos à agricultura concedidos pelo banco subiram 3% em relação ao ano anterior, em dados de 30 de setembro. A média dos financiamentos em aberto no Japão caiu pelo segundo ano consecutivo.

Entre os criadores que se beneficiaram do aumento do crédito estão os produtores de carne bovina de Wagyu e de porco preto de Kagoshima, diz Masanaka Mei, diretor de promoção de comércio exterior do banco, que acompanhou o presidente da instituição, Motohiro Kamimura, em viagens à Ásia e à Europa, na companhia de clientes, para sondar os mercados.

O gado Wagyu, inclusive o de Kobe, da região ocidental do Japão, é uma variedade japonesa conhecida pela maciez e pela textura marmórea de sua carne. O porco preto, cuja denominação de origem é Kagoshima Kurobuta, é uma variedade rara de porco cuja carne tem alto teor de gordura e é apreciada por sua textura e sabor.

A Nomura formou uma joint-venture de cultivo de tomates-cereja com a atacadista Wago e recorreu ao ex-corretor Shigekazu Wakabayashi para fiscalizar a operação. Em vez de sair para fazer visitas a clientes de corretagem, Wakabayashi agora acorda às 7 da manhã, veste uma camiseta, jeans e botas. "Me transformar de um vendedor de títulos num agricultor é uma grande mudança na minha vida", diz ele.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Demanda elevada puxa alta da carne de frango

Tendência é que os preços registrem pequenas oscilações positivas.O aumento da demanda...

Veja mais
Argentina impõe cota para carne suína brasileira

O governo da presidente Cristina Kirchner arrancou do Brasil um compromisso para limitar a entrada de carne suína...

Veja mais
Brasil vai ter teto de exportação de carne suína para a Argentina

Ministro da Agricultura brasileiro anuncia acordo para venda de até 3.000 toneladas por mêsLimite passa a v...

Veja mais
EUA estudam proposta para liberar carne brasileira

Com a viagem da presidente Dilma Rousseff em abril aos Estados Unidos, os norte-americanos deverão colocar em con...

Veja mais
MP quer saber de onde vem a carne dos supermercados

As 20 maiores redes têm 10 dias para fornecer a informação e dizer o que estão fazendo para r...

Veja mais
Exportações de frango caem em fevereiro

As exportações brasileiras de carne de frango perderam fôlego em fevereiro. Segundo dados divulgados...

Veja mais
Mercado de carne suína em retração

O preço do suíno vivo, no Estado, voltou a recuar nas primeiras semanas de março. Conforme dados da...

Veja mais
Criadores de suínos buscam estimular demanda interna

Após a queda das exportações de carne suína em 2011, principalmente devido ao embargo da R&u...

Veja mais
Paraguai e Brasil fazem acordo

Alvos são fazendas na fronteira consideradas de maior risco.As fazendas consideradas de maior risco, principalmen...

Veja mais