O governo da presidente Cristina Kirchner não estaria disposto a cumprir o pacto anunciado na semana passada entre o ministro da Agricultura do Brasil, Jorge Mendes Ribeiro, e seu colega argentino, Norberto Yahuar. O acordo determinava que as vendas de carne suína brasileira não seriam mais regidas pelas normas de livre comércio do Mercosul, uma vez que passariam a ser limitadas por um regime de cotas.
O novo cenário seria pior ainda, uma vez que o acordo entre os ministros seria barrado informalmente pelo poderoso secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, que nesta semana deixou claro aos industriais argentinos do setor de alimentos elaborados com carne suína que somente poderiam importar "o mínimo indispensável". Além disso, este "mínimo" não deve exibir oscilações ao longo deste ano.
"Caso não acatemos suas imposições, de comprar muito menos do que a cota, Moreno disse que fechará absolutamente as importações", disse uma fonte do setor ao Estado. "Além disso, ameaçou perseguir as empresas que não respeitem as ordens."
Outra fonte lamentou a escalada de barreiras: "Quando anunciaram as cotas, a notícia já era ruim. Mas agora o cenário que desponta para o resto do ano é pior ainda!". Segundo as fontes, os industriais do setor estão sendo forçados a usar carne bovina dentro dos produtos formalmente vendidos como "suínos".
Os industriais argentinos estão sendo pressionados por Moreno, que exige "fiambres baratos" e ao mesmo tempo impõe uma redução drástica das compras de carne suína brasileira. Do total utilizado pela indústria alimentícia argentina, 40% da polpa vem do Brasil.
O governo da presidente Cristina Kirchner começou a brecar a entrada da carne suína brasileira em janeiro, especialmente a polpa. As barreiras estão provocando falta de produtos suínos nas gôndolas dos supermercados argentinos.
Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), lamentou o cenário existente: "O embargo à carne suína brasileira continua. Compreendemos as dificuldades da Argentina. Porém, as medidas prejudicam os produtores do Brasil, os consumidores da Argentina e vão contra todo o Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, ideia tão boa que não deveria estar sendo prejudicada".
Ordens. Moreno é famoso por ter iniciado encontros com empresários colocando seu revólver em cima da mesa. Suas ordens nas conversas com os empresários costumam ser "informais", já que nunca são escritas. O secretário costuma telefonar aos empresários para pressioná-los a deixar de comprar importados. Com a reação de Moreno, ficaria anulado o acordo entre os ministros Ribeiro e Yahuar.
O acordo reduzia a entrada de carne suína brasileira de uma média de 3,5 mil toneladas mensais para 3 mil toneladas. Além do encolhimento nas vendas ao mercado argentino, as indústrias brasileiras perderiam o crescimento do consumo do país vizinho.
Veículo: O Estado de S.Paulo