A JBS deverá iniciar ainda neste ano as negociações para adquirir definitivamente as operações da Doux Frangosul no Brasil. No início de maio os ativos foram alugados pelo grupo brasileiro por dez anos, com opção de compra, mas a aquisição depende da solução para um passivo de aproximadamente R$ 1 bilhão acumulado pela subsidiária da multinacional francesa, incluindo débitos financeiros, fiscais, trabalhistas e com fornecedores. Só as dívidas bancárias somam pouco mais de R$ 500 milhões.
"Com certeza vamos discutir [um acordo para os passivos] com os credores neste ano", afirmou ontem o presidente da JBS, Wesley Batista, depois da solenidade de retomada dos abates de frangos no frigorífico de Montenegro (RS). "Até agora estávamos 100% concentrados em reativar esta unidade, mas nosso interesse é encontrar uma equação para exercer a opção de compra", acrescentou o empresário.
Batista reiterou que desde o início das negociações com a Doux, há três meses, o interesse já era pela aquisição, o que só não aconteceu devido à necessidade de uma solução emergencial para preservar os 1,5 mil criadores integrados e os cerca de 6 mil funcionários da empresa no país. Em maio, além dos atrasos de pagamentos aos integrados, um drama que se repetia desde 2009, a Frangosul sequer tinha caixa para pagar os empregados e a alimentação das matrizes.
O frigorífico de Montenegro estava parado por falta de matéria-prima desde abril, assim como o de Passo Fundo, no norte do Estado, que voltará a operar na próxima segunda-feira. Já a unidade de Caarapó (MS), que estava trabalhando em apenas um turno, retomou o ritmo normal na segunda-feira da semana passada, disse o presidente da divisão JBS Aves Brasil, James Cleary. Além dos abatedouros, a JBS alugou fábricas de produtos processados e de rações e incubatórios.
Conforme Batista, a retomada da produção será gradual e até quinta-feira as três plantas estarão abatendo 860 mil cabeças por dia, enquanto a capacidade plena de 1,1 milhão de aves/dia será preenchida até meados de setembro. Na segunda semana de maio a JBS havia retomado o alojamento de animais com a entrega de 850 mil pintos para os integrados, e hoje já existem 20 milhões de aves distribuídas pelas granjas, explicou Cleary.
Batista disse que a JBS vai manter as marcas Frangosul e Lebon (no segmento de alimentos processados) e confirmou que a empresa também permanecerá concentrada nas exportações, pelo menos "em um primeiro momento". No ano passado, as vendas ao mercado externo responderam por 72,4% da receita bruta de R$ 1,46 bilhão apurada pela Doux Frangosul. "O dólar a R$ 2 favorece a exportação", disse o presidente da JBS.
A JBS também pagou ontem a segunda parcela da dívida total de R$ 33,2 milhões que a Doux Frangosul tinha com os criadores integrados. A primeira havia sido liquidada no dia 11 de maio e a última será quitada no mês que vem. A JBS assumiu, ainda, aproximadamente R$ 20 milhões em débitos com pequenos fornecedores de serviços. Os demais passivos, por sua vez, deverão ser pagos pelo grupo francês com o dinheiro recebido pelo aluguel dos ativos até o fim do processo de negociações com os credores para a transferência definitiva do controle das operações.
Veículo: Valor Econômico