Pressionados pela maior oferta de animais para abate decorrente da virada do chamado ciclo da pecuária, os preços do boi gordo devem consolidar a expectativa e se estabilizar em patamares menos elevados mesmo durante a entressafra, entre maio e agosto.
E a maior oferta de animais será ainda mais estimulada pelo clima favorável. Ainda que as chuvas atípicas entre maio e junho em importantes regiões produtoras de gado de Mato Grosso do Sul e Goiás não derrubem as cotações, elas têm tudo para limitar o potencial de alta da matéria-prima característico da segunda metade do ano.
Nos primeiros cinco meses e meio deste ano, o preço médio do boi gordo em Campo Grande (MS) no mercado físico acumula queda de 6,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
"Hoje, as condições de pasto são muito boas por causa das chuvas, atípicas para o período", afirma Adriana Mascarenhas, economista da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso do Sul (Famasul) e assessora da Comissão de Bovinocultura de Corte da entidade.
Segundo a economista, as melhores condições de pastagem fez com que os animais ganhassem peso rapidamente. "Agora, temos um volume interessante prontos para abate", diz ela.
A especialista acredita, ainda, que a maior oferta deve seguir pressionando os preços em Mato Grosso do Sul, ao menos até o início de julho. "O que observamos é um importante alongamento das escalas dos frigoríficos. Em alguns casos, eles já têm animais para o início de julho", relata, citando a forte alta dos abates no Estado. Entre janeiro e maio deste ano, os abates cresceram 18%, para 1,5 milhões de cabeças, segundo dados da Famasul. Apenas em maio, mês em que a entressafra tem início, o salto foi de 24%, para 355,4 mil animais.
Segundo Douglas Coelho, analista da Scot Consultoria, a maior oferta de animais para abate em Mato Grosso do Sul também influencia as cotações no mercado paulista, onde os sinais da entressafra tenderiam a se materializar de maneira mais concreta.
"Querendo ou não, essa oferta melhor tanto em Mato Grosso do Sul quanto em Goiás colabora para uma pressão baixista em São Paulo", afirma Coelho. Entre os meses de janeiro e junho, o indicador Esalq/BM&FBovespa para o preço médio do boi gordo em São Paulo registra queda de 7,2% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado.
E é justamente por causa da relação entre Mato Grosso do Sul e São Paulo que a economista da Famasul acredita numa recuperação dos preços a partir de julho, ainda que em patamares inferiores do ano passado. "Entre julho e agosto, teremos uma oferta menor, até porque abastecemos outros Estados, e principalmente São Paulo, que já mostra escassez", afirma.
Apesar disso, Coelho pondera que a entrada dos animais de confinamento pode limitar esse efeito. "Se as chuvas atípicas colaboraram para diminuir o efeito da seca no final de safra entre maio e junho, os primeiros animais de confinamento começam a aparecer significativamente entre julho e agosto", diz ele.
Nesse contexto, o analista da Scot acredita apenas numa valorização "comedida" do boi gordo. "Junto com os animais de confinamento, a maior oferta de animais por conta da mudança de ciclo deve amenizar a alta do boi no fim da entressafra", resume.
Veículo: Valor Econômico