O Brasil deve fazer, no início do próximo ano, os primeiros embarques da exportação inédita de carne suína para o Japão, o maior importador do mundo, com compras totais da ordem de US$ 5,2 bilhões. Ontem, a Comissão de Risco de Sanidade Animal, do Ministério da Agricultura, Pesca e Florestas local, concluiu o processo de avaliação de risco da carne suína de Santa Catarina. O Estado é o único do País livre de febre aftosa sem vacinação.
O processo de liberação da carne suína era discutido pelos dois países desde 2007. Em maio daquele ano, a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) concedeu a Santa Catarina status de "livre de febre aftosa sem vacinação". Em dezembro, o Brasil recebeu a primeira comissão veterinária japonesa.
"O reconhecimento do governo japonês muda o mercado brasileiro de patamar. Cria uma perspectiva de futuro muito boa", afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
A expectativa da entidade é de que o Brasil passe a ser responsável por 15% da importação de carne suína consumida pelo Japão. Mais contido, o governo aposta em 10%. Ontem, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, informou que os detalhes do Certificado Sanitário Internacional que será emitido pelo governo para liberação das exportações catarinenses serão definidos amanhã pelos secretários de Defesa Agropecuária, Ênio Marques, e de Relações Internacionais, Célio Porto, durante reuniões com autoridades do governo japonês. Os dois estão na China, e de lá vão para o Japão.
A abertura do maior mercado importador foi considerada a maior vitória do setor de carne suína, que vem passando por um ajuste de preços por causa do aumento da cotação do milho e da soja no mercado internacional - as commodities servem de insumo para os produtores. Em um mês, o preço da carne suína subiu 20%. A abertura do mercado japonês também diminui a dependência da Rússia que mantém o embargo à carne produzida no Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso.
Destinos. No primeiro semestre, o Brasil exportou US$ 687,3 milhões em carne suína ante US$ 735,2 milhões no mesmo período de 2011. Os principais compradores de suíno do Brasil foram Ucrânia (US$ 169,3 milhões), Rússia (US$ 167,1 milhões) e Hong Kong (US$ 153,8 milhões). Em volume, foram exportadas 268,7 toneladas, somente 0,72% mais do que o embarcado nos seis primeiros meses de 2011 (266,8 mil).
No ano passado, o Brasil foi o quarto maior produtor de carne suína do mundo, atrás de China, União Europeia e Estados Unidos. O Japão foi o oitavo.
"A maioria das grandes empresas japonesas que já importa aves vai comprar a carne suína do Brasil", afirma Camargo Neto. A fatia do Brasil na exportação de carnes de aves in natura é de 90% no Japão.
Os EUA são os maiores exportadores de carne suína para o Japão. No ano passado, os japoneses consumiram 323,7 mil toneladas de carne americana das 793 mil toneladas importadas. "O preço da carne brasileira deverá chegar ao Japão num patamar muito próximo ao dos EUA. Há também diferenças nas demandas de cortes de carne entre os dois países", prevê o presidente da Abipecs.
China. Os dois secretários do Ministério da Agricultura vão se reunir hoje com autoridades do governo chinês para discutir a possibilidade de expansão das exportações brasileiras de carne suína. Eles vão consultar os chineses sobre os resultados de uma missão que esteve no Brasil em março para avaliar três frigoríficos, além de cobrar uma posição sobre outra planta cuja aprovação está pendente desde o ano passado.
A expectativa é que mais dois frigoríficos do Rio Grande do Sul sejam liberados. Atualmente, segundo o governo, apenas um estabelecimento foi aprovado pela China. Os próximos alvos dos exportadores de carne suína no Brasil serão Coreia, União Europeia e também México.
Veículo: O Estado de S.Paulo