Comércios se aproveitam do aumentos do produto nas indústrias e ampliam lucro
Pesquisa feita pela Associação Paulista de Avicultura (APA, São Paulo/SP) em supermercados de São Paulo mostra que, em meio à crise de insumos que afeta o setor avícola e aumenta os preços dos produtos nas indústrias, alguns estabelecimentos têm aproveitado para ampliar margens sobre os preços de produtos derivados da carne de frango.
De acordo com o levantamento, em alguns casos, uma bandeja de filé de peito produzida no Estado de São Paulo chega a ser vendida na gôndola até 129% acima do preço de venda da agroindústria. No caso do frango inteiro, a diferença chega a 139%, e da coxa, 146%. Um dos casos que chamam mais a atenção é o do frango a passarinho, cuja margem chega a atingir 220%.
O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef, São Paulo/SP), Francisco Turra, classifica como antiético esse movimento, principalmente levando-se em conta que a avicultura brasileira atravessa uma das piores crises de sua história. “Enquanto empresas e pequenos produtores do setor avícola lutam diante de um dramático aumento de custos, alguns estabelecimentos do varejo se aproveitam para explorar o bolso do consumidor”, argumenta.
O presidente da Ubabef defende que está clara para o Brasil a dificuldade do setor avícola e outros que dependem de ração, especialmente milho e soja em decorrência da inusitada e brutal seca que assolou os EUA.
Os estoques mundiais de milho, de 120 milhões de toneladas, foram consumidos pela quebra da safra norte-americana e do sul do nosso continente. Cerca de 10% da safra mundial do grão para este ano foi consumida pela seca. Não foram diferentes os efeitos sobre a safra de soja, nem sobre os baixos estoques de farelo de soja.
“Falta ração, e a que está disponível ficou muito mais cara. É um processo natural reduzir a oferta, e absolutamente lógico repassar aumentos de custos para os preços dos produtos. Mas o que não é lógico e nem normal é que alguns estabelecimentos varejistas se aproveitem e aumentem o produto em percentuais desmedidos, sem entender que a hora é de reduzir os prejuízos da cadeia produtiva como um todo”, destacou Turra.
“O produtor e a indústria estão fazendo sua parte e, evidentemente, espera-se do varejo como um todo esse mesmo comportamento. Afinal, o setor avícola destina ao mercado interno 9 milhões de toneladas de produto para que a população brasileira tenha acesso a uma proteína acessível e saudável”, completou o presidente da Ubabef.
Sobre os casos de notável aumento abusivo de preços nas gôndolas dos supermercados, o presidente da Ubabef enfatiza a importância do envolvimento do consumidor como agente fiscalizador.
“O consumidor tem que denunciar, e a indústria, juntamente com as entidades do varejo e os estabelecimentos que trabalham de forma ética, devem fiscalizar as margens colocadas. A hora é de buscar a superação da crise que aconteceu por causas que independem da capacidade de competição do mercado brasileiro e mundial”, concluiu.
Veículo: Revista Feed & Food