Aquisição deve marcar apenas o início dos investimentos da JBS no Estado
A maior empresa do mundo no processamento de carnes, a JBS, anunciou a entrada no mercado produtivo de aves catarinense com a compra da Agrovêneto. O comunicado, feito nesta segundo, é visto pelo mercado como um passo estratégico da gigante que vai completar 60 anos em 2013. A empresa familiar de Nova Veneza será adquirida por R$ 128 milhões, e deve marcar apenas o início dos investimentos da JBS no Estado.
Esta é a leitura do presidente da Cidasc, Enori Barbieri, que acredita que a JBS está entrando em SC de forma estratégica, agora, com olhos no futuro. Mais especificamente, no resultado das reuniões que o governo de SC terá com autoridades japonesas nesta semana.
— Esta procura por SC é feita na iminência da abertura do mercado japonês para a carne suína catarinense. Acredito que a JBS está enxergando, na aquisição da Agrovêneto, uma oportunidade de entrar em SC e conquistar a simpatia do Estado. Com a pretensão de, em seguida, investir na área de suínos e de bovinos por aqui — avalia Barbieri.
A JBS, multinacional que atua nas áreas de alimentos, couro, produtos para animais domésticos, biodiesel, colágeno, latas e produtos de limpeza, tem 301 unidades de produção espalhadas pelo mundo e cerca de 135 mil colaboradores, está em período de silêncio porque divulga, na próxima semana, os resultados da empresa no terceiro trimestre. Mas informou, através do comunicado aos acionistas e ao mercado que assinou, no último sábado, um termo de compromisso para a aquisição de 100% das ações da Agrovêneto.
A compra ainda depende de aprovação dos órgãos reguladores, do Conselho de Administração da JBS e de uma due diligence (averiguação prévia das contas detalhadas da empresa que será adquirida). Se for aprovada, a aquisição será feita com o pagamento de R$ 10 milhões em ações da JBS e o restante, R$ 118 milhões, assumido como dívida.
Em maio deste ano, a JBS divulgou a compra de outra empresa do setor, a Doux Frangosul, no Rio Grande do Sul, que teve a sua aquisição aprovada em agosto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Na avaliação de Clever Pirola Ávila, presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), estas duas aquisições, incluindo a catarinense Agrovêneto, devem colocar a JBS na quarta posição entre as grandes do setor no país.
Em nota, a JBS afirmou que a aquisição da Agrovêneto complementa o negócio da empresa no segmento e que a unidade de Nova Veneza será incorporada à JBS Aves, que passa a ter quatro unidades no Brasil. Juntas, elas seriam capazes de processar 1,34 milhões de aves por dia. O presidente da Cidasc vê a notícia sob as óticas positiva e negativa:
— Inicialmente, lamento que uma empresa familiar catarinense, localizada em uma cidade do interior com toda a sua diretoria, passe por esse processo de compra. Infelizmente o setor não está suportando a crise da alta dos insumos. Por outro lado, é uma boa notícia que a Agrovêneto está sendo incorporada por uma grande empresa de carnes, que está inaugurando a entrada em SC com viabilidade de ampliar os seus negócios.
A Agrovêneto não quis comentar a venda e indicou a JBS para falar. De acordo com Barbieri, a empresa catarinense estava passando por dificuldades há um ano, pelo menos, devido à queda do preço do frango no mercado internacional com a crise financeira na Europa, em especial.
Na análise de Barbieri, este deve ser apenas o primeiro passo da JBS em SC. Para ele, a multinacional pode ampliar a sua área de atuação na avicultura, adquirindo outras pequenas e médias empresas do Estado que tem qualidade de produtos para exportação e que podem ser incorporadas porque estão sofrendo com a crise. Para os produtores, a vinda da JBS deve ser positiva.
— Temos 900 aviários no Sul do Estado, e muitos produtores de outras empresas estão com os seus aviários fechados. A JBS deve fazer uma campanha para atrair os produtores que estão com dificuldades.
Raio-X das empresas
AGROVÊNETO
Fundada em 1997
Tem uma unidade produtiva na cidade de Nova Veneza, a 21,4 quilômetros de carro de Criciúma, no Sul de SC
Especializada em carne de frango, com sede em Nova Veneza e capacidade diária para processar 140 mil aves
Oferece ao mercado interno e externo mais de 30 produtos derivados do frango entre cortes resfriados, congelados, temperados e congelados individualmente
Exporta para Ásia, Europa e Oriente Médio
Tem capacidade para processar até 140 mil aves por dia
Emprega 1,9 mil colaboradores
JBS
Fundada em 1953 como Friboi, iniciou as operações com uma pequena planta de abate em Anápolis (GO), que tinha a capacidade de abater cinco cabeças de gado por dia
Inicialmente batizada de Friboi, a JBS se tornou o maior grupo de carnes do mundo com aquisições.
Em 1968 a empresa fez a primeira aquisição, comprando uma planta de abate em Planaltina (DF)
Em 2005, a Friboi passou a se chamar JBS e iniciou o processo de internacionalização com a aquisição da Swift Armour, na Argentina
Em 2007, começou a negociar as suas ações na bolsa de valores e comprou a Swift & Company nos Estados Unidos e na Austrália
Em 2009, as aquisições de Bertin e da americana Pilgrim's Pride ajudaram a multiplicar o tamanho da empresa em pouco tempo
Com a JBS consolidada, a família Batista, dona da companhia, decidiu diversificar. Para cuidar de novos negócios, criou a holding J&F, que controla, além da JBS, a fábrica de celulose Eldorado, o banco Original, e a Flora _ dona das marcas Albany e Minuano
Está presente com fábricas ou escritórios no Brasil, Argentina, Itália, Áustria, Estados Unidos, Uruguai, Paraguai, México, China, Rússia e outros países
Tem 301 unidades de produção, sendo cem no Brasil
Emprega 135 mil pessoas
No primeiro semestre deste ano, a JBS registrou uma receita líquida de R$ 34,5 bilhões, 17,7% mais do que no mesmo período de 2011
Veículo: Diário Catarinense