Os donos do JBS querem se reinventar

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Depois da trajetória fulminante do maior frigorífico do mundo, o plano da família Batista é lucrar com a compra e venda de empresas


Do açougue no interior de Goiás a maior fornecedor de carne do mundo, depois de quase 60 anos de estrada - e do empurrão financeiro do BNDES -, a família Batista já poderia ter encostado a boiada na sombra e estar vivendo apenas do frigorífico JBS. Mas passaram a produzir cosméticos, artigos de higiene e limpeza, leite e iogurte - e ainda montaram um banco. O próximo passo é a inauguração, na semana que vem, da Eldorado, a maior fábrica de celulose de fibra curta do mundo.

A ideia por trás de tamanha diversificação é o desejo que os Batistas têm de se reinventar como empresários. Depois de uma trajetória fulminante no setor frigorífico, querem deixar de ser uma típica família da indústria para se transformar em investidores capitalistas e lucrar com a compra, venda e fusão de empresas.

"Queremos transformar a J&F, a holding que controla nossos negócios, numa empresa de investimentos, de capital aberto e com ações negociadas em bolsa", afirma Joesley Batista, presidente da holding e porta-voz da família. "Vamos comprar e vender empresas, criar outros negócios. Só não vamos vender o JBS".

O empresário afirma ter se inspirado principalmente na Berkshire Hathaway, do bilionário americano Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo. A Berkshire começou no setor têxtil, ganhou muito dinheiro vendendo seguros e hoje a firma de Buffet é dona de participações relevantes em empresas das áreas financeira, de energia e ferroviária, entre outras.

Ainda não há data definida para levar a J&F à bolsa, mas Joesley diz que isso poderá acontecer a partir do ano que vem. "Será assim que o mercado entender nossa proposta e mostrar disposição de pagar o preço justo", afirma. Hoje, a holding da família Batista controla sete empresas, que possuem ativos avaliados em R$ 55 bilhões e empregam cerca de 150 mil pessoas (veja quadro). Duas das empresas já estão na bolsa: o laticínio Vigor e o JBS, com faturamento de R$ 72 bilhões previsto para este ano.

De acordo com Joesley, o trabalho de divulgação já começou. O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, presidente do conselho consultivo da J&F, visitou EUA, Inglaterra, Cingapura e Hong Kong para apresentar os novos planos e sentir a reação de potenciais investidores. "É para ver o apetite deles para colocar dinheiro numa empresa brasileira focada em coisas em que o País é competitivo, como agronegócio e consumo", afirma Joesley.

Os Batistas já montaram uma equipe própria para cuidar de fusões e aquisições. São cerca de dez pessoas, que trabalham na sede da J&F, um prédio na marginal Pinheiros, em São Paulo. Como o mercado sabe que a família está à caça de oportunidades - a especialidade é comprar empresas com a corda no pescoço - chovem propostas. Atualmente, a equipe avalia cerca de 20 ofertas e há outras dez na fila.

No momento, a atenção está voltada para empresas do setor de infraestrutura, que deverá receber investimentos volumosos nos próximos anos. Já estiveram interessados na Rede Energia, grupo que controla oito distribuidoras espalhadas pelo País, e em maio estiveram a ponto de comprar a Delta, construtora de obras públicas enrolada nos escândalos de corrupção envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Açougue. O nome J&F é uma homenagem aos patriarcas da família - José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, e dona Flora. No começo dos anos 1950, depois do serviço militar, Zé Mineiro deixou seu Estado e se mudou para Anápolis, interior de Goiás. Abriu um açougue, comprou o primeiro abatedouro e foi tentar a sorte em Brasília. Com a ajuda dos filhos Júnior, Wesley e Joesley, montou o maior frigorífico do Centro-Oeste.

O cerrado ficou apertado para eles e decidiram mudar novamente, para São Paulo. O JBS virou o maior frigorífico do Brasil, se internacionalizou e, em 2009, com a compra da americana Pilgrim's Pride, tornou-se o maior do ramo do mundo. "Cada vez que a gente mudava e começava alguma coisa nova, diziam que a gente ia quebrar. Muitos concorrentes de fato quebraram e a gente continua aqui e crescendo."

Zé Mineiro, 78 anos, deixou a linha de frente há um bom tempo e hoje cuida das fazendas da família. Júnior, o mais velho, também deixou a empresa e quer entrar na política. Nos negócios ficaram Wesley, presidente do JBS, e Joesley, na holding. Este ano, a família começou a trazer profissionais de nome no mercado, como Henrique Meirelles e José Carlos Grubisich, que foi presidente da petroquímica Braskem e hoje comanda a Eldorado.

BNDES. Desde que começaram a ganhar projeção no cenário nacional, os Batistas viraram motivo de curiosidade e especulações. Uma das principais diz respeito ao relacionamento da família com setores do governo.

O JBS se tornou o maior frigorífico do mundo com base numa sucessão de compras de empresas em dificuldade, no Brasil e no exterior, e aportes bilionários do BNDES - tanto que o banco hoje é o segundo maior acionista do frigorífico, com participação de 31%. Entre 2007 e 2011, o BNDESPar, braço de participações do banco, colocou R$ 9,5 bilhões no frigorífico, entre aportes na empresa e financiamentos.

A Eldorado também tem a ajuda do BNDES, que está financiando quase metade dos R$ 6,2 bilhões investidos na fábrica de Três Lagoas (MS), além da participação de dois fundos de pensão ligados a empresas estatais: a Petros, dos funcionários da Petrobrás, e a Funcef, dos bancários da Caixa Econômica Federal.

"A gente tem tido apoio do BNDES para crescer, assim como todos os grandes grupos brasileiros. Mas todo dinheiro que a gente recebeu virou fábrica, investimento e emprego. E tem mais: desde que meu pai começou com o açougue, 59 anos atrás, nós nunca atrasamos um pagamento", afirma Joesley.

Na sua nova empreitada - de tentar seguir os passos de Warren Buffet - a família Batista precisará provar que pode repetir, em outras atividades, o mesmo sucesso do JBS. O banco Original ainda está em fase de amadurecimento, a Eldorado está começando agora. Joesley, que parece ter compulsão para a briga e para o risco, diz que encara. "Na minha certidão de nascimento não está escrito que nasci para mexer com carne de boi. Eu sou mais um empreendedor".



Veículo: O Estado de S.Paulo


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