Criadores de caprinos buscam mercados mais nobres no país

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Desde o fim década de 90, o rebanho comercial de caprinos tem dificuldade em ganhar valor no país mesmo com os esforços dos criadores em desvincular o potencial desse mercado da velha imagem das cabras mestiças e rústicas do Nordeste, região que ainda comporta 93% do plantel de 9,4 milhões de animais do país, de acordo com dados do IBGE.

Mas a empreitada não desanima Gustavo Domingues, sócio da Caprivales, dona da marca Apris. Depois de se tornar conhecida no mercado por comercializar carne de cordeiro, a cria do carneiro e da ovelha, a empresa ampliou as apostas também nos cortes de cabrito, o filhote do bode e da cabra. Apreciada pelo sabor e pela maciez garantidos por seu maior teor de gordura, a carne de cordeiro custa, em média, R$ 23 o quilo no varejo de São Paulo. Ainda com oferta em geral mais restrita, o quilo de cortes de cabrito como paleta, pernil ou carré - normalmente mais "magros" - sai por R$ 27.

Para testar a nova fronteira, nos últimos anos a Caprivales investiu R$ 4 milhões em uma estrutura para criação e abate de caprinos no município de Bandeirantes, em Mato Grosso do Sul, onde a boa intensidade de chuvas facilita a formação de pastagens. Hoje a empresa tem um rebanho de 2,5 mil animais, formado por machos da raça boer, da África do Sul, e fêmeas mestiças, um cruzamento primordial quando o objetivo é a produção de carne.

A meta da empresa é abastecer com 10 toneladas mensais as principais capitais brasileiras no prazo de um ano. Hoje, a Caprivalis fornece de 2,5 a 3 toneladas da marca Apris para clientes em São Paulo e Salvador. Para cumprir seu objetivo, adotou o sistema de semiconfinamento, com pasto formado por alfafa e braquiária complementado por ração fornecida para animais com dois meses de idade. Logo após o desmame, os animais são fechados para o "acabamento", que dura até os seis meses, quando atingem 30 quilos.

Antes de investir em um rebanho próprio, Domingues já testava a criação com o esquema de engorda e abate de animais. "Sempre acreditei que a carne de cabrito tivesse potencial para sair do seu consumo sazonal, ou na Páscoa ou no Ano Novo". Seu otimismo encontra respaldo na avaliação do pesquisador Espedito Cezário Martins, da Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral (CE), que aponta uma demanda reprimida para a carne de caprinos e diz que o mercado pode crescer 5% ao ano.

Martins acredita nesse potencial mesmo quando as estatísticas parecem desanimadoras, já que o consumo per capita, que não passa de 1 quilo por ano no Nordeste, é de entre 200 e 300 gramas no restante do país. "A mudança virá com a oferta de carne de melhor qualidade", afirma. O pesquisador se refere ao comércio de animais velhos, ainda comum no mercado e não raro marcados por um cheiro forte derivado de manejo e alimentação inadequadas.

"Não é possível desprezar um setor que movimenta R$ 150 milhões por ano somente em Juazeiro [BA]", diz o economista José Carlos de Lima Jr., da consultoria Markestrat, com sede em Ribeirão Preto (SP), que já começou a avaliar esse mercado no Brasil e enxerga nele grande potencial.

Essa também é a opinião de Geraldo Bordon Neto, da Brazil Meat Alimentos, que vende entre 2 e 3 toneladas mensais de pernil e paleta para restaurantes da capital paulista. O forte da comercialização da empresa ainda são os cortes de ovinos, com 10 toneladas mensais, mas Bordon não desiste de mostrar aos novos clientes a opção por uma carne com o apelo de "saudável", por ser mais magra que a do boi, do porco e do frango. "Restaurantes jovens e mais modernos têm descoberto o potencial dessa carne antes restrita às cantinas italianas".

Os produtos vendidos por Bordon são originários do frigorífico Baby Bode, de Feira de Santana (BA), que entrega 11 toneladas por mês para 150 pontos de venda no país. Há cinco anos sob controle da Riocon, empresa da família Odebrecht, a Baby Bode foi criada pela família de João Dantas há mais de 20 anos. Ele próprio passou a ocupar o cargo de diretor comercial depois da venda do controle do frigorífico.

Dantas sempre foi um entusiasta dessa criação e também acredita que, apesar de a carne de ovinos ser mais consumida - a Riocon também se dedica à ovinocaprinocultura -, a do cabrito tem um futuro promissor. Sua crença se baseia em dados reais. Segundo ele, a Baby Bode registrou em 2010 um crescimento de 100% nas vendas nesta frente em relação a 2009; em 2011, a comercialização cresceu mais 15%, e a tendência para 2012 é de novo crescimento de 15%.

O diretor reconhece que esses percentuais de avanço refletem um investimento de R$ 15 milhões da Riocon na Baby Bode nos últimos cinco anos, montante que incluiu a criação de ovinos, mas lembra que o retorno nesta frente de atuação foi de fato animador.

Mesmo que sua rotina esteja mais ligada à área de negócios, João Dantas tem um apreço especial pela parceria com 105 famílias do semiárido com as quais a Baby Bode mantém um sistema de integração há três anos. Elas respondem por 50% dos animais (ovinos e caprinos) abatidos pela empresa, que se compromete em fornecer reprodutores e assistência técnica - uma forma de tirar a criação que ainda se esbarra na informalidade. "É no sertão que eu vejo futuro".



Veículo: Valor Econômico


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