Bovinos impulsionam margens de frigoríficos

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A rodada de balanços do terceiro trimestre confirmou a tendência de recuperação das margens dos grandes frigoríficos com o abate de bovinos no Brasil, um movimento que ajudou a compensar o fraco desempenho de outras operações no país e no exterior.

Destaque para JBS e Minerva Foods, que viram suas margens de lucro consolidadas antes de juros, impostos, depreciação e amortização (a margem Ebitda) crescerem pelo segundo e terceiro trimestre consecutivo, respectivamente.

Para a JBS, maior processadora de proteínas animais do mundo, a margem de 7,1% apurada entre julho e setembro representa uma elevação de dois pontos percentuais em relação à registrada um ano antes. Trata-se, ainda, de sua segunda maior margem para o período e a terceira para qualquer trimestre desde a abertura de capital, em 2007. Contudo, a margem da companhia ainda é a menor entre as quatro grandes processadoras de carnes.

Já a Minerva Foods viu sua margem Ebitda aumentar 3,2 pontos percentuais ante julho e setembro de 2011, para 11,7% - seu melhor desempenho para qualquer trimestre desde o IPO, há cinco anos. Trata-se, ainda, da maior margem entre as gigantes do segmento no período.

Nos dois casos, a melhora reflete o ciclo favorável para o abate de bovinos no Brasil, com o aumento da oferta e a queda nos custos de aquisição dos animais.

No terceiro trimestre, o preço médio do boi gordo recuou 5,2% ante o mesmo período do ano passado, de acordo com o indicador Cepea/Esalq, aliviando a conta dos frigoríficos. A matéria-prima representa cerca de 70% dos custos de funcionamento de um abatedouro de bovinos.

Esse cenário é particularmente benéfico para a Minerva Foods, que obtém a maior parte de sua receita do abate de bovinos no Brasil. No caso de JBS e Marfrig, empresas que optaram pela diversificação de suas atividades e são mais internacionalizadas, o abate de bovinos no país representa menos de um terço de seu faturamento.

Considerando-se apenas o resultado da JBS Mercosul - divisão que responde basicamente pela operação de carne bovina no Brasil -, a margem Ebitda da multinacional entre julho e setembro atingiu 14,5%, a maior já registrada pela companhia em um terceiro trimestre e 2,8 pontos percentuais superior à obtida pela Minerva.

Seu efeito sobre o balanço consolidado só não foi maior devido ao desempenho apenas mediano dos negócios de carne bovina, suína e frango nos Estados Unidos e na Austrália, que respondem por cerca 70% das vendas da JBS no mundo.

A Marfrig também poderia ter comemorado um aumento das margens, não fossem as dificuldades enfrentadas pela Seara Foods, sua divisão de frango, suíno e alimentos processados. A divisão, que representa 68,2% da receita líquida da Marfrig, teve de lidar com a escalada nos preços dos grãos usados na ração animal e o fraco desempenho das exportações. O resultado foi uma queda de 5,8 pontos percentuais em sua margem Ebitda, para 7%.

Como resultado, a margem consolidada da Marfrig caiu de 11,5%, no terceiro trimestre de 2011, para 8,7% nos três meses encerrados em setembro.

A queda só não foi maior porque seu segmento de bovinos, a Marfrig Beef, registrou a melhor margem dos últimos três anos para o período. Entre julho e setembro, a divisão obteve uma margem Ebitda de 12,7%, um aumento de 3,3 pontos percentuais em relação ao terceiro trimestre do ano passado.

De olho no ciclo favorável para os negócios no Brasil, a JBS tenta ampliar o peso do país em seus negócios. Na semana passada, a companhia controlada pela família Batista anunciou a intenção de retomar a operação de seis frigoríficos atualmente parados até abril do ano que vem. Só neste ano, a empresa comprou ou arrendou pelo menos 12 plantas no país.

O presidente da companhia, Wesley Batista, afirmou que a meta é ampliar o volume de abate doméstico em pelo menos 2 milhões de cabeças (cerca de 22%, nas contas do executivo) no ano que vem. Com isso, ele prevê que a participação do Mercosul na receita total alcance 35% em 2013, ante 25%, em 2012, e apenas 20% no, ano passado.

A melhora das margens abriu caminho para que os JBS e Minerva reduzissem seus níveis de alavancagem no último trimestre. No caso da JBS, a razão entre a dívida líquida e o Ebitda recuou para 3,68 vezes ao fim de setembro, o menor nível desde o segundo trimestre de 2011 - embora ainda elevado. Em junho, essa relação era de 4,27 vezes.

A alavancagem da Minerva caiu mais timidamente na mesma comparação, de 3,99 vezes para 3,7 vezes. No entanto, o indicador apresenta uma melhora contínua em relação ao patamar observado no fim de 2009, quando essa relação ficou próxima de 6,6 vezes. Já a Marfrig viu a alavancagem crescer, de 3,73 vezes para 3,93 vezes.


Resultados da BRF - Brasil Foods pioram


   
Síntese do mau momento vivido pelas processadoras de aves e suínos, a BRF - Brasil Foods viu sua margem Ebitda do terceiro trimestre cair 3,6 pontos percentuais na comparação anual, para 7,9%. Foi a pior variação entre os frigoríficos de capital aberto na mesma base de comparação.

Do ponto de vista operacional, a BRF é o extremo oposto da Minerva Foods, que trabalha somente com carne bovina. Com atuação praticamente restrita a frango e suíno, a empresa resultante da incorporação da Sadia pela Perdigão não pode contar com o momento mais favorável à produção de carne bovina no Brasil para segurar os resultados apresentados do terceiro trimestre, a exemplo do que fez a Marfrig (ver matéria acima). A BRF tem uma operação acanhada de carne bovina, apenas para atender sua produção de hambúrgueres.

No segmento de aves e suínos, a BRF sofreu em duas pontas. No lado da produção, a empresa viu os preços do farelo de soja mais que dobrarem no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Já os preços do milho no Brasil subiram 12,1% no período, segundo a companhia.

A deterioração das exportações de carne de frango foi o outro foco de pressão sobre a BRF. Principal exportadora brasileira do produto, a empresa viu seus embarques de carne de frango caírem 3,5% na comparação com o terceiro trimestre de 2011, para 935 mil toneladas. Desde o fim do ano passado, a BRF se ressente dos elevados estoques do produto no Oriente Médio e no Japão, seus dois maiores mercados.

Com menor geração de caixa, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) da BRF subiu para 2,76 vezes no fim do terceiro trimestre, ante 2,57 vezes no trimestre imediatamente anterior. Mesmo assim, é um índice mais confortável entre os frigoríficos listados na BMF&Bovespa.

Também pesa a favor da BRF a comparação com sua principal rival, a Seara Foods - divisão de aves, suínos e alimentos processados da Marfrig -, que registrou uma margem Ebitda de 7% no terceiro trimestre, inferior aos 7,9% da BRF.



Veículo: Valor Econômico


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