O consumo de peixe na Quaresma deve aumentar 15% este ano. Uma demanda que será sustentada pela importação, uma vez que a produção de pescado no Brasil atende a apenas dois terços do consumo anualmente.
O consumo de peixe no País pode chegar a 2,5 milhões de toneladas neste ano, alta de 20%. Mas a oferta não deve passar de 1,4 milhão, havendo o aumento médio anual de 10% estimado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Logo, o produto de países asiáticos, como o Vietnã, tende a ganhar espaço no País.
"Falta investimento em novas tecnologias para ampliar a produção", diz o presidente do Sindicato dos Armadores e Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Giovani Monteiro. A entidade representa o polo de produção de pescado de Santa Catarina, onde se industrializam 80% do peixe pescado no Brasil.
As indústrias ligadas ao Sindipi observam crescimento de 15% da venda de pescados no atual período de Quaresma, em comparação ao anterior. Sem informar o volume comercializado no período, Monteiro avalia que as importações se mantêm, durante a estação, no mesmo nível do resto do ano: 35%, em média.
"A indústria nacional dificilmente compete com a estrangeira devido à carga tributária e aos altos custos de produção no Brasil", compara Monteiro.
O sindicalista reclama de que a pesca e a aquicultura não usufruem dos mesmos benefícios fiscais concedidos às atividades que envolvem outras proteínas animais. E diz que a desoneração dos itens da cesta básica anunciada há uma semana pelo governo federal pouco influem na cadeia produtiva da carne de peixe.
"Na última semana, Dilma [Rousseff, presidente do Brasil] lançou a desoneração da cesta básica, que beneficia o setor, mas só na ponta do varejo - e temos muitos impostos na cadeia produtiva -, muito menos do que a outros setores de proteína animal. E o setor ainda não foi enquadrado como 'agronegócio', o que traria desoneração de imposto de renda em investimentos industriais, por exemplo", declara o presidente do Sindipi.
Potencial de crescimento
O desenvolvimento da aquicultura (criação não-extrativista de peixe) e a maior exploração da costa brasileira nas Zonas Econômicas Exclusivas (ZEEs) constituem o potencial de crescimento da oferta de pescado no País.
O governo federal disponibiliza, por meio do novo Plano Safra da Pesca e Aquicultura, R$ 4,1 bilhões em crédito para a modernização do setor, que apresenta um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 5 bilhões - 2012.
Para especialistas do MPA, as barragens hidrelétricas contêm a fórmula do sucesso da piscicultura: são 250 os reservatórios, com 3,5 milhões de hectares de espelho d'água que poderiam ser empregados nessa atividade econômica. 1% dessa superfície total bastaria para o setor dar um salto.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) liberou recentemente a utilização para a aquicultura de cinco reservatórios no rio Tocantins. Somente estes serão capazes, quando totalmente aproveitados, de proporcionar um incremento de 50% à produção brasileira de pescado, de acordo com informações cedidas pelo MPA.
O Brasil tem potencial para produzir 20 milhões de toneladas de pescado por ano até 2030, quando a produção mundial deverá ser de 226 milhões, prevê a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU).
Atualmente, a produção mundial de pescado é estimada em mais de 130 milhões de toneladas por ano.
Veículo: DCI