Pescadores à espera da tainha

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Pesca artesanal resiste pela promessa de ganho financeiro aliada à manutenção da cultura regional

BALNEÁRIO CAMBORIÚ - O dia mal havia amanhecido e Eladio Euflorzino já mantinha os olhos atentos ao mar na Praia de Taquaras. Hoje com 67 anos, ele aprendeu ainda criança a ver aproximar-se um cardume de tainhas. Diz que é preciso ter o olhar treinado para perceber as manchas avermelhadas na água e os peixes que, ao longe, saltam sobre a superfície. Ontem, no primeiro dia da safra da tainha, mantinha os barcos na areia, à espera da sorte.

– A chegada da tainha é um segredo que nem o pescador sabe direito. Agora não tem nada, mas daqui a pouco pode aparecer um cardume – diz o pescador.

Nos três últimos anos o peixe não apareceu em Taquaras. Para saciar a vontade de comer tainha, Euflorzino chegou a comprar uma caixa da iguaria – muito diferente do que ocorreu em 2006, quando ele tirou do mar seu maior lanço, com 26 toneladas de tainha.

Para o pescador, os cardumes têm diminuído – algo comprovado em estudos feitos por pesquisadores de quatro universidades brasileiras, entre elas a Univali, de Itajaí. Mesmo assim, ele se mantém firme na pesca que, além de renda, é garantia de manter viva uma tradição centenária nas praias da região.

Os costumes que cercam a pesca artesanal de tainha, que incluem dois meses de convivência contínua com o grupo de pescadores, à espera dos cardumes, é outro atrativo para quem não abre mão da pesca. O café coado logo cedo, com os pés na areia, o carteado e a conversa fiada fazem parte da cultura do cerco à tainha.

José Francisco Albino, mestre em História Cultural, diz que o valor econômico da captura artesanal de tainha e o fato de ser uma modalidade de pesca que mobiliza as comunidades ribeirinhas são fatores determinantes para a manutenção da tradição.

– Por não haver mais fartura na pesca, muitos pescadores hoje tem outras atividades. Mas a pesca artesanal resiste e tem conotação histórica, de uma prática que vem sendo feita há muitos anos.

De acordo com a Epagri/Ciram, o vento Sul sopra no Litoral desde ontem, favorecendo o fluxo de águas frias. De hoje até sábado, a temperatura oceânica ficará mais baixa, com expectativa de bons lanços de tainha.

A possibilidade de ganhos, para os pescadores, pode chegar a R$ 20 mil em uma boa safra – dinheiro que é dividido entre todos que atuam na pesca artesanal.



Veículo: Jornal de Santa Catarinense


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