JBS assume dívida e ativos da Seara

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Empresa se torna a maior do mundo no mercado de aves, mas terá que administrar um passivo adicional de R$ 5,85 bilhões com vencimentos entre os anos de 2013 e 2017

Líder mundial do setor de proteínas animais e maior produtora de carne bovina do mundo, a JBS deu ontem importante passo para consolidar sua posição também no segmento de frango, suínos e alimentos industrializados. Com o acordo assinado coma Marfrig para a compra da marca Seara, a empresa assume a liderança mundial do segmento de aves. A companhia, que já detinha a liderança no mercado internacional com a americana Pilgrim´s, mais do que duplica sua capacidade diária de processamento de aves no país. O negócio, confirmado ontem pela JBS e pela Marfrig, envolverá a transferência de R$ 5,85 bilhões em dívidas da vendedora para a compradora e depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Coma aquisição dos 30 frigoríficos da Seara, a empresa liderada por Wesley Batista amplia sua capacidade de abate de aves de 1,34 milhões para 3 milhões de aves ao dia. Além disso, a companhia dará um salto na sua produção de alimentos industrializados, que passa a contar com capacidade de processamento de 80 mil toneladas mensais de produtos com maior valor agregado (e maior lucratividade), como pratos congelados, pizza, hambúrguer e salsicha. A empresa praticamente estréia nesse segmento, apesar de atuar com marcas locais de embutidos de frango, nuggets, salsichas e patês na região Sul do país, onde aluga os frigoríficos da Frangosul, controlada pelo grupo francês Doux.

A operação foi considerada positiva para a Marfrig, que vinha enfrentando problemas por conta do alto endividamento. As ações da companhia tiveram alta de 6,31% no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Já as ações da JBS caíram6,45%, comas perspectivas de aumento da dívida já considerada alta - de R$ 15,6 bilhões, no fechamento do primeiro trimestre. Sócio nas duas companhias (com 19,9% da Marfrig e 23% da JBS), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou nota informando que aprova o negócio.

“A Marfrig vinha comprando ativos de forma muito agressiva e perdeu o controle sobre seu endividamento”, comentou o analista chefe da corretora SLW,Pedro Galdi. “As despesas financeiras estavam comendo o resultado da empresa”, completa. A empresa fechou o primeiro trimestre com uma dívida líquida de R$ 9,8 bilhões, o equivalente a 4,4 vezes a geração de caixa trimestral, e um resultado financeiro negativo de R$360milhões.“Praticamente zeramos a nossa dívida bancária.Todo o endividamento da Marfrig, a partir de agora, estará no mercado de capitais”, disse, em teleconferência, o presidente da Seara Foods, Sergio Rial, que deve assumir o comando da Marfrig.

O grande endividamento é resultado de 18 aquisições desde o lançamento de ações em bolsa, em 2007, sem ganhos de sinergia equivalentes. A Seara foi comprada da Bunge em2009 pelo equivalente a US$900milhões, garantindo à companhia acesso ao mercado de aves. A situação da empresa piorou com a aquisição, no final do ano passado, de uma série de ativos que a BRFoods teve de vender por determinação do Cade.

“A empresa já vinha sinalizando com venda de ativos, para reduzir endividamento e trabalhar mercados prioritários”, diz o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. Com a venda da Seara, a Marfrig se livra de 60% de sua dívida. Ao mesmo tempo, abre mão de 30% de sua receita, voltando a se concentrar no segmento de carne bovina. Para especialistas, a impressão é de que a Marfrig “deu um passo maior do que as pernas” comas últimas aquisições.

Segundo a Ubabef, a operação concentra 70% das exportações nacionais de carne de aves nas mãos de JBS e BRF. A Seara foi a terceira maior exportadora de alimentos no primeiro quadrimestre, com receita de R$ 543,1 milhões - atrás apenas da BRF e JBS.

Dívida elevada é motivo de preocupação para acionistas

O alto endividamento é apontado pelo mercado como um dos principais fatores de risco para as empresas de alimentos do Brasil, ao lado de inflação e redução no consumo. Segundo especialistas, o processo de consolidação do setor nos últimos anos levou as empresas a buscarem um volume de capital, em alguns casos, incompatível como tamanho de suas operações. “A dívida era uma pedra no sapato da Marfrig”, resume o analista chefe da corretora SLW, Pedro Galdi, para quem a empresa perde ao abrir mão da receita que obtinha coma Seara.

Excluindo a Brasil Foods (BRF), as principais empresas brasileiras do setor têm uma relação entre dívida e geração de caixa(medida pelo Ebitda) superior a 3 vezes. A JBS,por exemplo, fechou o trimestre com uma relação endividamento/ Ebitda de 3,4 vezes, número que deve subir após a assunção de R$5,85 bilhões em dívidas da Marfrig, conforme previsto no acordo de compra da Seara. A dívida tem vencimento entre 2013 e 2017.

“Estamos em uma posição bastante confortável para absorver esse endividamento”, afirmou o presidente da JBS, Wesley Batista, em teleconferência para detalhar a operação de compra da Seara.A JBS fechou o primeiro trimestre com endividamento líquido de R$ 9,8 bilhões e um resultado financeiro negativo de R$ 78,2 milhões.

Em seu relatório de análise mensal, o especialista em agronegócios do Banco do Brasil Investimentos, Henrique Koch comenta que Marfrig e JBS ensaiaram, em maio, um movimento de recuperação de valor de mercado, com desempenho superior ao verificado no índice Bovespa,mas ainda correm riscos por causa do tamanho da dívida e da conjuntura macroeconômica.

“Os pontos de alerta, além do elevado endividamento médio do setor, em especial dos frigoríficos, ficam em relação à queda que vem sendo observada no consumo interno e à alta da inflação, drivers importantes da demanda por alimentos, seja proteína animal in natura ou produtos processados/ industrializados”, escreveu.

Neste mês de junho, o mercado deve ficar atento também à evolução do plantio de soja e milho nos Estados Unidos, fundamentais para balizar o preço dos insumos para a criação de animais, acrescenta o analista do Banco do Brasil Investimentos.



Veículo: Brasil Econômico


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