Na maioria das regiões costeiras do mundo, o escoamento de agrotóxicos descartados das fazendas e de esgoto urbanos tem sido os principais responsáveis pela mortes maciças da vida marinha. Mas as áreas de pesca na costa mediterrânea do Egito parecem estar se desenvolvendo a partir de uma mistura rica em nutrientes, informaram cientistas na segunda-feira.
A produção de peixes daquela região do Mar Mediterrâneo passou por décadas em processo de expressiva redução de volume. Isso começou a ocorrer depois da construção da Represa de Assuã e instalação de uma usinas hidrelétrica gigante nos anos 60. As barragens bloquearam o fluxo de lodo, rico em nutrientes que vem da inundação anual do rio Nilo. Esse fenômeno era também apontado históricamente como responsável pela fertilização das áreas agrícolas da região.
Essa cenário se transformou porque um fluxo cada vez maior desse fertilizante rico em nitrogênio e de dejetos resultantes de um boom agrícola e urbano em torno do delta do Nilo mais que compensou os nutriente perdidos, dizem os cientistas.
Examinando os traços reveladores de nitrogênio em amostras de peixes, pesquisadores americanos e egípcios descobriram que os peixes que foram pegos onde as águas do Nilo encontram o mar estavam se alimentando de algas e plâncton nutridos por fertilizantes e esgoto. Em áreas distantes desse fluxo, o sinal de nitrogênio nos peixes testados combinou com aquele da vida marinha no Mediterrâneo central.
A situação contrasta com as chamadas zonas mortas que recebe grandes fluxos de nutrientes gerados por humanos. As águas recebem nitrogênio em excesso, o que estimula o crescimento de algas tóxicas ou de plâncton, que esgotam o oxigênio em águas profundas, exterminando a vida marinha.
O sudeste do Mar Mediterrâneo é diferente porque é um "deserto marinho" no qual os nutrientes são absorvidos rapidamente, disse Autumn Oczkowski, líder de um novo estudo e candidata a doutorado na Escola Graduada de Oceanografia da Universidade de Rhode Island. "Adicione qualquer fertilizante, e verá o seu grande efeito", disse ela. O estudo foi publicado na edição on line dos Procedimentos da Academia Nacional de Ciências.
Nancy N. Rabalais, bióloga focada nos efeitos humanos sobre as áreas de pesca, disse que o rastreamento do nitrogênio mostrou a ligação entre os efluentes humanos e as áreas de pesca no Egito, mas avisou que as condições ainda poderiam passar de benéficas a causadoras de problemas.
Veículo: Gazeta Mercantil