Frigoríficos devem manter as margens

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Apesar da menor oferta de animais prontos para o abate, os frigoríficos brasileiros de bovinos, suínos e aves tendem a sustentar boas margens operacionais no último trimestre do ano. No caso da carne bovina, a forte demanda externa é ainda mais favorecida pelo dólar em patamar mais atrativo, enquanto que a carne de frango bate recorde de preço no mercado doméstico.

Mesmo no horizonte das empresas de carne suína, que têm dificuldades para repassar os preços para o consumidor e vêm registrando queda nas exportações, a expectativa é que a demanda cresça com o consumo típico das festas de fim de ano.

No mês de setembro, o indicador Esalq/BM&FBovespa para o boi gordo em São Paulo, principal referência de preço da pecuária brasileira, registrou média de R$ 110 por arroba, valorização de 11,9% ante a média de igual mês de 2012. Do ponto de vista de preços do boi, assim, as margens de JBS, Marfrig e Minerva, que lideram os abates de bovinos no país, estão mais pressionadas.

Mas, a despeito dos preços mais elevados do gado bovino, a demanda pela carne bovina brasileira é "forte", conforme relatório do Bank o America (BofA), divulgado no fim de setembro. Maior exportador global de carne bovina, o Brasil vem batendo recorde nas vendas externas do produto, crescendo 20%. Além disso, o dólar na casa dos R$ 2,20 é benéfico para as exportadoras, uma vez que amplia a rentabilidade dos frigoríficos em moeda brasileira.

Mas há riscos no caminho dos exportadores. Outubro mostrará o real impacto do embargo da Rússia a nove frigoríficos, seis da JBS, dois da Minerva e um da Marfrig. O veto, que teve início no dia 2, pode ter impacto relevante, uma vez que a Rússia é a o segundo principal destino das exportações do país. Os frigoríficos afirmam, porém, que poderão exportar para a Rússia a partir de outras unidades que permanecem aprovadas para exportação aos russos.

Ainda no segmento de carne bovina, as próprias avaliações de que a oferta de boi é restrita podem ser relativizadas, uma vez que os abates da gado no Brasil caminham para bater o recorde em 2013, conforme indicam os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas é importante ressaltar que a atual entressafra da pecuária, que vai de maio a novembro, foi mais difícil do que esperavam os frigoríficos. A razão é que a oferta de gado criado em confinamento, que responde por 10% dos abates no Brasil, deve cair mais de 10% neste ano, segundo projeções da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon).

No que diz respeito à carne de frango, o cenário é de preços elevados devido ao crescimento tímido no alojamento de pintos de corte. Entre janeiro e julho (último dado disponível), o alojamento aumentou 1,82% sobre igual período de 2012, para 3,585 bilhões de cabeças.

Nesse cenário, o preço médio do frango congelado no atacado da Grande São Paulo, foi de R$ 4 por quilo em setembro, valorização de 18,6% ante a cotação média de R$ 3,37 por quilo apurada em setembro do ano passado, conforme o Cepea. Trata-se do maior valor para o ano de 2013, em termos nominais. Além disso, é a maior cotação, inclusive em termos reais, para qualquer mês de setembro desde o início da série histórica do Cepea, em 2004.

Os preços elevados refletem a pisada no freio dada pelos frigoríficos após o recorde de abates registrado no segundo trimestre. Em entrevista ao Valor na semana passada, a analista do Cepea, Camila Ortelan, disse que a redução dos alojamentos de pintos que agora se reflete na escassa oferta de frango é uma consequência do ritmo fraco verificado no início do ano tanto nas exportações brasileiras do produto quanto na demanda interna.

Não bastasse a fraca demanda dos mercados interno e externo no início do ano, a indústria avícola também teve de lidar com uma produção elevada. No segundo trimestre, os abates de frango no Brasil somaram 1,4 bilhão de cabeças, o maior nível da história, de acordo com o IBGE. A estratégia, então, foi reduzir a produção, explicou a analista do Cepea. O problema - ou a boa notícia para os frigoríficos -, é que a demanda ganhou fôlego.

No caso da carne suína, a situação é um pouco mais difícil. Apesar de registrar um cenário parecido com o do frango, com maior produção no primeiro semestre e pisada no freio desde então, há resistência aos preços mais altos para o produto, de acordo com a analista do Cepea.

"O atacado tem resistido um pouco. É preciso ver se o consumidor vai absorver esses aumentos", disse Camila. Além disso, as exportações de carne suína, que esboçaram uma recuperação após o fim do embargo da Ucrânia em junho, voltaram a cair nos últimos dois meses. Em setembro, as exportações de carne suína in natura recuaram 26,8% na comparação anual, para 39,9 mil toneladas.



Veículo: Valor Econômico


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