Marfrig aposta em operação no exterior

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Depois de vender a Seara Brasil para a JBS numa medida para reduzir seu elevado endividamento, a Marfrig aposta no desempenho de sua área internacional, com a Keystone e a Moy Park, para melhorar os resultados e recobrar a confiança dos investidores.

Atualmente, Keystone, que fornece processados de carnes para o food service, e Moy Park, que produz industrializados de carnes, já representam 53% do faturamento de R$ 18,5 bilhões da Marfrig previsto para 2013. O restante vem da Marfrig Beef, o negócio de bovinos da companhia. A fatia das operações internacionais deve se aproximar de 55% ano que vem e alcançar 60% em 2018, de acordo com Sérgio Rial, futuro CEO da Marfrig.

Ontem, a empresa promoveu o "Marfrig Day" e, não à toa, o foco evidente foi a operação internacional, com a presença dos CEOs de cada unidade de negócios, que apresentaram as projeções de suas áreas para os próximos cinco anos.

Rial afirmou, após o evento, que grande parte do cenário de recuperação previsto para a empresa nos próximos anos se deve a uma aposta na operação internacional. "A área internacional é que nos torna únicos [entre as empresas do setor]", disse, referindo-se à presença da companhia em várias regiões do mundo.

E é graças principalmente à performance esperada para essas unidades que Rial acredita que a empresa vai gerar caixa e melhorar margens, uma promessa feita ontem para os investidores durante o Marfrig Day.

De acordo com o executivo, a Marfrig pode triplicar seu valor de mercado em cinco anos. Há potencial para que isso ocorra, disse, porque a empresa entregará os resultados prometidos - em termos de geração de caixa e desalavancagem - após a venda da Seara Brasil para a JBS.

Além disso, as ações da Marfrig registram hoje uma base histórica baixa, em parte porque perdeu um terço de seu tamanho com a venda da Seara. "Entregando o que prometemos, o valor da empresa pode ser triplicado", afirmou Rial. Ontem, o valor de mercado da Marfrig ficou em R$ 2,79 bilhões.

No "Marfrig Day", a companhia apresentou seu "guidance" para os próximos cinco anos. Um dos indicadores mais importantes é que o projeta um fluxo de caixa livre ao acionista de R$ 650 milhões em 2015, o que permitirá à empresa acelerar sua trajetória de desalavancagem, de acordo com Sérgio Rial. Para o próximo ano, a Marfrig estima que o fluxo de caixa pode ficar negativo em R$ 150 milhões ou neutro.

A companhia estima ainda registrar uma receita entre R$ 21 bilhões e R$ 23 bilhões em 2014, quando deve investir R$ 600 milhões. Até 2018, a projeção é de uma taxa de crescimento anual de 7,5% a 9,5% para a receita, não considerando ganhos não recorrentes. Já a margem Ebitda esperada para 2013 é de 7,5%. Para o ano que vem, o indicador deve ficar entre 7,5% e 8,5%. Entre 2014 e 2018, a Marfrig estima que a margem Ebitda anual deve oscilar entre 8,5% e 9,5%.

Além disso, a alavancagem deve ficar abaixo de 4 vezes este ano, após a venda da Seara e a transferência de R$ 5,85 bilhoes em dívidas para a JBS, referentes ao valor da transação. Para 2015, quando a geração de caixa deve voltar a ser positiva, a empresa estima que o indicador fique em 2,5 vezes.

Ainda que tenha escolhido a área internacional para tentar seduzir os investidores mais escaldados, os números previstos da Marfrig para sua divisão de bovinos também são ambiciosos. A projeção é que a Marfrig Beef cresça entre 7% e 9% por ano até 2018.

Para a Keystone, que a BRF tentou comprar este ano, a estimativa é de um crescimento anual na faixa de 7,5% a 9% na receita até 2018. Esse crescimento virá sobretudo das operações na Ásia, com forte crescimento dos mercados do Oriente Médio e da Indonésia, de acordo com Frank Ravndal, CEO da Keystone.

A Keystone tem 65% de suas receitas provenientes de vendas ao McDonald's, um quadro de dependência que a empresa busca diminuir. A partir da agora, a estratégia da Marfrig para a Keystone é ampliar a participação de grandes clientes - as chamadas key accounts -, como Subway, Wendy's, Heinz, entre outros na receita da companhia.

Para a Moy Park, que é uma das maiores de processadoras de carnes da Europa, a projeção é de um avanço de 8,5% a 10% anuais nas receitas até 2018. De acordo com o CEO da divisão Nigel Dunlop, o pior da crise da Europa já passou. Ele irá se aposentar e será substituído por Janet McCollum, que apresentou ontem as projeções para a Moy Park.

Diante de uma plateia atenta, Sérgio Rial voltou a negar a possibilidade uma nova venda de ativos por parte da Marfrig. Questionado, após o evento, sobre a hipótese de uma venda no futuro, reafirmou: "Categoricamente não". Isso não ocorrerá, segundo Rial, "porque a Marfrig é absolutamente viável, não há motivo para vender" outro ativo. Ele acrescentou que "a venda da Seara foi grande o suficiente para evitar futuras negociações".

O executivo admitiu que a Marfrig cometeu erros ao promover um crescimento acelerado num tempo curto e baseado em elevação do endividamento. "Eram muitas frentes abertas, gerando dificuldades na gestão e na integração", disse. Ele acrescentou que sua postura não é de crítica à gestão anterior. "Tem que aprender, tem de olhar o passado para atuar melhor", observou.

Rial reconheceu ainda que a "empresa não era tão transparente" antes e que o investidor se "desencantou" com "resultados questionáveis", o que afetou o desempenho das ações.

O executivo negou que a BNDESPar, que tem fatia de 19,6% da Marfrig, vá vender suas ações na empresa, rumor que circulou no mercado na semana passada após a notícia de que o BNDES iria vender ativos. "Não vai acontecer", garantiu.



Veículo: Valor Econômico




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