O boi gordo subiu 22% nos dez primeiros meses do ano; o bezerro, 31%. Isso indica que, mesmo em período de alta recorde da carne, a margem do pecuarista que trabalha na recria e na engorda está mais espremida.
O bezerro está caro? "Não, está leve", responde Adolfo Fontes, analista do Rabobank Brasil. A pecuária brasileira deveria ter um bezerro mais jovem e com peso maior.
A disparada do preço do bezerro resulta de um descasamento entre os elos do longo ciclo da pecuária brasileira. O país tem um espaço muito importante no mercado externo e em alguns momentos não consegue aproveitar bem a questão de preço devido a descompassos na cadeia.
Para apontar esse descasamento, Fontes compara a cadeia da pecuária brasileira à dos EUA. Aqui o bezerro é comercializado com cerca de 180 quilos, ante 270 nos EUA.
"É importante destacar que no mesmo período de cria, entre 8 e 12 meses, os produtores de bezerro nos EUA conseguem entregar um animal cerca de 90 quilos mais pesado que os produzidos no Brasil. Lá eles recebem um prêmio por esse desempenho."
Mas o preço maior no Brasil não é garantia de bons negócios. Enquanto no Brasil o preço do quilo de bezerro supera em 33% o do boi gordo, nos EUA a relação é de 62%.
O Brasil, portanto, tem muito o que fazer para pôr a cria dentro da cadeia da pecuária, diz Fontes. Uma saída é a organização dos elos da cadeia por meio de contratos, trazer a cria para uma tecnologia mais próxima da dos EUA em termos de peso e reduzir o ciclo da pecuária.
A cria está muito pressionada pela recria, que paga os animais por cabeça, o que desestimula o setor a produzir um bezerro mais pesado.
O pagamento, como já ocorre em algumas regiões, deveria ser por peso, e não por cabeça, diz. E isso acaba se refletindo no próprio mercado, que demora mais tempo para o abate do animal.
Sem o incentivo de preço melhor para um animal de peso maior, o produtor não incrementa o uso de tecnologia.
Fontes indica quatro caminhos básicos para que um bezerro vá mais cedo para a recria e com mais peso.
O processo começa na genética da mãe, que pode dar uma maior capacidade ao bezerro de engordar no período que está se amamentando.
O analista do Rabobank diz que é importante também a qualidade das pastagens nesse processo de alimentação.
Além disso, o bezerro deve ter uma suplementação alimentar mineral. O animal com essa suplementação vai ganhar mais peso do que o que não tem.
Finalmente, é importante também a genética do bezerro, que dá qualidade do ponto de vista de conversão alimentar. Dependendo do potencial genético desse animal, é possível obter melhor desempenho na relação do consumo de alimentos revertidos em carne. "Paga-se mais por um bezerro que comerá menos e produzirá mais carne."
A pecuária só será sustentável se reduzir o ciclo de produção --que só cairá à medida que o setor tiver um bezerro mais pesado no mercado.
"Antes, o custo da terra suportava a baixa produtividade. No futuro, isso será cada vez mais difícil. Abre-se caminho para pessoas mais focadas em tecnologia. É um caminho natural."
Veículo: Folha de S.Paulo