Cresce rentabilidade da carne suína

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Receita do setor subiu 15,5% no acumulado do ano, mesmo com queda no volume exportado

 



Depois de um ano de 2013 pouco animador, a carne suína brasileira está retomando sua lucratividade. A abertura do mercado da Rússia - devido ao embargo desse país aos Estados Unidos e à União Europeia - e a alta do dólar vêm elevando as receitas do setor mesmo com o volume exportado apresentando queda na comparação 2013. O cenário favorável é realçado pela chegada do fim do ano, período de crescimento das vendas no mercado interno, e a elevação do preço dos bovinos, o que pode levar a uma migração do consumidor para outros tipos de proteína. 

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as vendas externas de carne suína somaram 50,8 mil toneladas em outubro, queda de 2,19% na comparação com o mesmo período no ano passado. Já o faturamento cresceu 38,8%, chegando aos US$ 198,28 milhões, o que é explicado pelo preço médio 42% maior. No acumulado do ano, as vendas totalizaram 413 mil toneladas – queda de 6,4% - e receita de US$ 1,34 bilhão – incremento de 15,5%. “O momento é especial na conjuntura internacional, com a redução da oferta no mercado externo e preços em elevação”, pontua o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.

O aumento da rentabilidade do setor está ligado à presença da Rússia nas exportações brasileiras. Em outubro, a participação dos russos chegou aos 46,68% do volume de embarques, com 23,7 mil toneladas. O valor exportado de US$ 120,2 milhões representa 60,67% da arrecadação. Em relação ao mesmo mês do ano passado, a variação é positiva em 103,74% e 197,6% para, respectivamente, volume e receita para esse mercado. No acumulado do ano, o país também é o destino preferencial da carne suína brasileira, com 153,2 mil toneladas - 37% do total – e arrecadação de US$ 682,7 milhões.

O Rio Grande do Sul é o segundo estado exportador, com 13,7 mil toneladas em outubro, atrás de Santa Catarina, que enviou 18,2 mil toneladas para outros países. Para o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips-RS), Rogério Kerber, a tendência é que haja um rearranjo dos destinos internacionais em direção aos que pagam melhor, sem que necessariamente haja aumento na produção. “É uma questão de redefinir estratégias de ocupação. Evidentemente, o produtor busca viabilizar aquele que melhor remunera, no caso o da Rússia. Por outro lado, aqueles que exportavam para os russos estão ocupando espaços que pertenciam ao Brasil”, explica. Segundo Kerber, dependendo das condições, o mercado russo pode pagar até 20% mais que a média internacional.

Turra, por sua vez, mesmo comemorando a “oportunidade de ouro” vinda da Rússia, prega cautela e a necessidade de abertura de novos mercados. Sua preocupação está baseada na possibilidade de queda do embargo aos Estados Unidos e à Europa. As novas apostas da ABPA são a África do Sul, a Coreia do Sul e Taiwan. Os africanos reabriram para exportações brasileiras no início de novembro, depois de quase 10 anos de bloqueio, com possibilidade de compra de 15 mil toneladas. Os asiáticos encontram-se, segundo Turra, em processo avançado de negociação com a ABPA e o Ministério da Agricultura. Inclusive, a China deve habilitar mais uma planta brasileira de suínos em breve. “Se tivermos um leque de opções, ficamos mais seguros em qualquer circunstância de longo prazo”, alerta.

O mercado interno também tem se mostrado atraente, uma vez que as recentes elevações nos preços da carne bovina podem levar a uma migração do consumidor para outro tipo de proteína. Além disso, a chegada das festas de fim de ano impulsionam as vendas de determinados cortes suínos. “O abastecimento interno é prioridade. Projetamos demanda 25% maior ao longo de novembro e dezembro”, completa Kerber.
Cenário garante margem de lucro ao criador

O cenário observado nas últimas semanas é considerado inédito e anima o primeiro elo da cadeia de suínos. Segundo o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, o preço médio pago ao produtor, na semana passada, chegou aos R$ 4,85 por quilo vivo. Enquanto isso, o custo de produção estava em R$ 2,80. “É um patamar de preço pago que nunca tínhamos observado. O momento é bem positivo mesmo que os valores não se sustentem em um patamar tão alto nos próximos meses. Mas se ficar acima de R$ 4,00 cobre os custos e deixa uma boa margem”, comemora Folador.

Em 2013, o produtor recebia entre R$ 3,50 e R$ 3,80 por quilo. Mas, além da condição externa criada pelo mercado russo e pelo dólar em alta, Folador ressalta o equilíbrio entre oferta de abate e demanda para a garantia de uma perspectiva favorável. “O ajuste deve continuar em 2015, tanto em nível estadual quanto nacional, evitando que um possível excesso de produção cause queda nos preços”, projeta. Em janeiro, um frigorífero com capacidade de processar até dois mil animais por dia será inaugurado em Seberi, no Norte do Estado. “É um investimento que possibilita a ampliação dos plantéis”, disse.




Veículo: Jornal do Comércio - RS


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