Os efeitos do câmbio atingiram em cheio o resultado da Marfrig Global Foods no terceiro trimestre deste ano, em meio a um cenário de desvalorização do real frente ao dólar. Em balanço divulgado ontem, a companhia de carnes reportou um prejuízo líquido de R$ 303,3 milhões no período de julho a setembro, montante 56% superior ao resultado líquido também negativo de R$ 194,1 milhões de igual período de 2013.
"A variação cambial, sem efeito caixa, foi de R$ 226,3 milhões negativos, mas tivemos também despesas de R$ 93 milhões para aderir ao Refis [programa federal de refinanciamento de dívidas]", afirmou Sergio Rial, CEO da Marfrig, em encontro com jornalistas realizado ontem na capital paulista.
Entre os analistas, era consenso que o trimestre seria de prejuízo para a companhia, embora o intervalo de projeções fosse bastante amplo. Especialistas dos bancos Itaú, Bradesco, J.P.Morgan e Morgan Stanley estimavam um resultado líquido negativo de R$ 34 milhões a R$ 532 milhões. O câmbio também explica a alta da dívida líquida da Marfrig: em 30 de setembro, eram R$ 7,539 bilhões, 12% mais de 30 de junho.
Apesar do desempenho ruim, Rial reforçou que está otimista. Ele destacou que todos os negócios da companhia (que incluem Marfrig Beef, Moy Park e Keystone) registram margem acima de 7% no acumulado do ano. "Continuamos atingindo nossas metas de 'guidance' de 2014. Estamos rumo a um processo de rentabilidade sustentável, e espero que não seja num futuro muito longínquo", afirmou. A geração de um fluxo de caixa positivo de R$ 84 milhões (ante o fluxo negativo de R$ 30 milhões no segundo trimestre) indica a "consistência operacional" da companhia, avaliou o executivo.
A Marfrig contou, ainda, com uma redução de custos e despesas de R$ 13 milhões no terceiro trimestre de 2014, reflexo de um programa de melhoria de produtividade instituído em julho. "Em tempos de boi 'ouro', essa iniciativa ajuda bastante a expandir a margem", afirmou Rial, referindo-se à expressiva elevação nos preços do boi gordo no país.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Marfrig apresentou crescimento de 7,8% no terceiro trimestre, para R$ 394,4 milhões. O Ebitda ajustado totalizou R$ 435,3 milhões, um aumento de 16% na mesma comparação, enquanto a margem Ebitda ajustada subiu de 7,6% para 8,3%.
A receita líquida da Marfrig cresceu 6% sobre o terceiro trimestre de 2013, para R$ 5,239 bilhões, com destaque para a performance da Marfrig Beef, que inclui os segmentos de carne bovina e ovina do grupo. Embalada pela forte demanda internacional e pelo dólar mais forte, essa divisão alcançou um recorde de exportações no terceiro trimestre de 2014, conforme Rial. "Cerca de 45% da receita da divisão veio das vendas externas. Alguns anos atrás, esse número estava na casa de 30%", afirmou ele.
A Keystone, por sua vez, teve um trimestre mais "desafiador", de acordo com o CEO. A divisão, dedicada a fornecer alimentos à base de proteína animal para redes de restaurantes (sobretudo nos EUA e na Ásia), enfrentou um processo mais lento de vendas de alguns de seus clientes, especialmente o McDonald's.
A expectativa de Sergio Rial é que o quarto trimestre de 2014 seja mais favorável que o terceiro para a Marfrig, em virtude do incremento das vendas de carnes por conta das festas de fim de ano. Por isso, ele mantém "total confiança" que a companhia atingirá a meta de alcançar uma receita de R$ 21 bilhões a R$ 23 bilhões em 2014.
Não há tanta certeza, contudo, sobre o momento em que será feita a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Moy Park, divisão que fornece alimentos industrializados e carnes frescas à base de frango e peru ao mercado europeu. A companhia emitia sinais de que faria esse IPO em breve, mas a dinâmica de precificações das aberturas de capital no Reino Unido (sede da Moy Park) levou a empresa a esperar por ventos mais favoráveis, provavelmente em 2015. "Não forçar esse IPO mostrou-se uma decisão acertada. Teríamos deixado valor na mesa, e não faremos isso", concluiu Rial.
Veículo: Valor Econômico