Frigoríficos perdem US$ 275 mi e apertam UE

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Depois de amargar em janeiro o terceiro mês consecutivo em queda nas exportações, o setor produtor e exportador de carne bovina resolveu tomar medidas para tentar recuperar a perda que, desde novembro, já representa US$ 275 milhões a menos no bolso dos frigoríficos. O pleito é de que a União Europeia elimine a exigência de lista de fazendas autorizadas a exportar ao bloco retomando o patamar anterior de 3,5 mil fazendas habilitadas, número que, por conta de exigências excessivas, atualmente é de apenas 700 propriedades.

 

Questionado sobre o porquê a União Europeia cederia justamente agora em que as economias tendem a ser mais protecionistas por causa da crise, Otávio Cançado, diretor-executivo da Abiec, que representa o setor exportador, pontua diversas razões. A primeira delas, segundo ele, foi a bem sucedida visita da Comissão Europeia, que esteve em visita ao Brasil, entre o final de janeiro e início de fevereiro. "A Comissão viu que nós fizemos a lição de casa", afirma Cançado. Outro ponto a favor, segundo ele, é a fragilidade sanitária da produção européia. "A Irlanda teve novo problema com dioxina na carne e a Holanda, caso de vaca louca em humanos. Esses casos vão abalar as vendas internas e externas ao bloco e o Brasil é o único país que pode surprir esse espaço".

 

Cançado garante que as negociações com a UE já começaram e que há indicativos de que, pelo menos, a flexibilização de algumas regras para entrada de fazendas na lista será feita de imediato. "Não tenho detalhes do que será flexibilizado, mas isso ajudará o Brasil a, pelo menos, repetir em 2009 o desempenho das exportações realizadas em 2008", afirmou Cançado.

 

Ponderando que não está próximo às negociações, o ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, diz que o que está claro hoje que predomina o protecionismo sanitário na UE e, portanto, a situação só vai ser resolvida quando o Brasil começar a criar problemas para os produtos europeus. "A única coisa que o Brasil tem a fazer se quiser mudar a regra é responder com a mesma moeda. Quando o País começar a suspender a compra de aviões europeus, eles sentarão na mesa para negociar", alfineta Pratini.

 

Ainda no campo da diplomacia, a Abiec formalizou anteontem no Itamaraty pedido para ampliar para 13 mil toneladas a atual cota Hilton, que é de 5 mil toneladas. São exportadas por esta cota apenas cortes nobres, com alto valor agregado, e com cobrança de 20% de imposto de importação enquanto as carnes embarcadas fora da cota podem chegar a ser taxadas em até 174%. A elevação da cota está sendo pleiteada, segundo Cançado, para compensar a entrada da Bulgária e da Romênia no bloco europeu, em 1 de janeiro de 2007, ou seja, há dois anos. A Argentina, que já possui 28 mil toneladas de cota Hilton, já se antecipou e conseguiu 1 mil toneladas adicionais na cota.

 

Com o embargo europeu à carne brasileira, no início de 2008, o Brasil não deve conseguir cumprir sua cota de 5 mil toneladas. "Saberemos, ao certo, em abril. Se até lá o crédito voltar e UE flexibilizar as regras para as fazendas se habilitarem, podemos conseguir atingir a cota", explica Cançado.

 

Além da União Europeia, para o qual o Brasil pretende vender mais 100 mil toneladas, o foco também está voltado para o Egito, país que já chegou a importar 184 mil toneladas, em 2007, mas que reduziu para 78 mil toneladas em 2008, por conta da entrada agressiva da carne da Índia. "Os indianos exportavam carne de búfalo com exigência de 100% de adiantamento. Com essa crise, esperamos retomar essas vendas, pois os exportadores brasileiros exigem o pagamento antecipado de 20% a 30% do valor do contrato", compara. Mesmo com expectativas de retomar o mercado chileno até o final deste mês e aumentar volumes para Europa e Egito, o setor reconhece a dificuldade e considera possível ter em 2009 até alguma retração nas exportações, de acordo com Cançado.

 

A preocupação em recuperar mercados não é sem razão. Em janeiro, a receita foi de US$ 256 milhões, 45% menos que no mesmo mês do ano passado. Foi a maior retração desde que a crise se tornou mais aguda. Em outubro, a queda em receita foi de 33% e em novembro, de 13%.

 

O diretor-executivo da Abiec pondera que é preciso também considerar que utilizar o mês de janeiro de 2008 como base de comparação é usar um parâmetro muito alto. Ele recorda que na época, os importadores europeus sabiam do embargo que estava por vir em fevereiro e, por isso, elevaram a procura pela carne brasileira provocando uma elevação forte no preço. No primeiro mês de 2008, a receita subiu 37% na comparação com igual mês de 2007. "Por isso, quando se compara com janeiro deste ano, a queda parece muito acentuada", pondera.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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