Especialista analisa o que o cenário econômico brasileiro exigiu dos produtores em 2015.
Superar as mazelas da instabilidade econômica e política pela qual o Brasil passa foi o desafio do ano para o setor da avicultura. Entre greves e cotação do dólar desenfreada, os produtores se mantém firmes e buscam alternativas para tirar o máximo de proveito desse período conturbado – ação que estimula o dinamismo e a criatividade perante os caminhos a serem escolhidos.
A expectativa de retração na economia brasileira deste ano, avaliada em 2,5% segundo a Agri Stats (Chapecó/SC), representa alguns resultados nada atrativos para quem sobrevive da avicultura. Um dos fatores afetados foi o custo de produção, que apresentou alta e evoluiu de R$ 3,55/kg em janeiro para R$ 3,83/kg no mês de outubro. A etapa que mais demandou recurso foi a nutrição (66%), seguida pelo custo do pinto de um dia (14%) e a criação, que exigiu 10% do orçamento.
“Os fatores que mais pesaram foram o aumento do diesel, da eletricidade e do custo da mão de obra, além do impacto causado pelo milho, soja e alguns ingredientes da ração, que apresentam cotação em dólar”, destaca o gerente Geral da Agri Stats, Geraldo Broering. Segundo relatório publicado pelo Cepea em setembro, alguns distribuidores relataram na época que estariam sem parâmetros de preços para o mercado nacional, tamanha a variação do câmbio.
Para Broering, existe uma necessidade do governo brasileiro em equilibrar as contas e adotar uma política cambial mais séria, para que o investidor tenha confiança em aplicar no País. “A alta descontrolada do dólar inicialmente faz aumentar as exportações, expandindo as margens das empresas mas, em médio e longo prazo, faz crescer ainda mais a inflação no País, impactando em perda de poder de compra pelo consumidor brasileiro e gerando desindustrialização e desemprego”, explica.
O dólar, que chegou a atingir R$4,14 em setembro, infelizmente não foi a única mazela a ser enfrentada pelo setor avícola nacional em 2015. Em fevereiro, a categoria dos caminhoneiros entrou em greve e bloqueou rodovias espalhadas por vários Estados, prejudicando em torno de 70% da capacidade de abate do Sul, maior região produtora de aves e suínos do País, nos dias mais graves da paralisação. Quando o setor se recuperava, em outubro, outra greve da categoria impactou as produções. Entre os maiores problemas registrados, está a mortalidade de animais, a falta de ração e a parada de algumas fábricas em decorrência da dificuldade de escoar a produção.
A greve dos fiscais agropecuários, em setembro, também causou dor de cabeça ao setor, afetando a movimentação de mercadorias em portos, aeroportos e postos de fronteiras. Na época, milhares de contêineres ficaram retidos nos portos, aguardando a emissão de certificados dos fiscais. Prejuízo para o caixa das empresas, e que segundo Broering, exige postura severa do governo. “O Brasil precisa urgentemente de grandes investimentos, não apenas em portos, mas em toda área de infraestrutura: estradas, portos e ferrovias mais eficientes fariam aumentar mais a competitividade”, explana.
Panorama otimista para 2016. Como a cadeia produtiva é extensa, o planejamento em médio e longo prazo é essencial para bons resultados. “O ano de 2016 pede um pouco mais de atenção. O foco precisa ser direcionado para a redução dos custos, a manutenção de um rígido controle das despesas determinado pelo orçamento e a busca por uma maior produtividade, assim como foi neste ano”, afirma Broering, que complementa: “Esses fatores tornam as empresas mais fortes para superarem este momento que passamos, e o grande diferencial da atividade avícola brasileira é justamente o alto nível de profissionalização da atividade”. O especialista acredita que a avicultura brasileira continuará perseverante com o aumento das exportações e a abertura de novos mercados. “Negociações desse tipo sempre são bem-vindas, pois ampliam o leque de oportunidades de negócios”, diz. A China, que habilitou diversas plantas frigoríficas exportadores de frango neste mês, representa o maior mercado consumidor do planeta e é considerada importante para que o Brasil estreite relações vendendo fontes de proteína, agregando maior valor à produção do País. “A China está mudando o modelo econômico, antes baseado em investimento, para um modelo baseado no consumo”, afirma Broering. Consumo este que tende a crescer naquele país, e consequentemente, alavanca o agronegócio brasileiro para um novo patamar mundial.
Veículo: Site Feed & Food