Conselho da Sadia discute derivativos

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A próxima quarta-feira, dia 18 de março, será o dia "D" na Sadia. O conselho de administração avaliará o relatório feito pela BDO Trevisan para apurar responsabilidades pela contratação dos derivativos de alto risco e alavancagem, que trouxeram enorme prejuízo - e ainda não totalmente quantificado - à companhia.
É essa reunião que definirá se os conselheiros indicarão ou não a abertura de uma ação de responsabilidade civil contra algum dos administradores, com base no que apontar o trabalho da auditoria.

 
 
As conclusões do documento, com uma sugestão ou não do conselho, serão levadas a uma assembleia de acionistas, que deverá ser realizada nos primeiros dias de abril. A convocação será feita na própria quarta-feira. Consultada, a companhia confirma o cronograma, mas não comenta o assunto.

 

A decisão de contratar a BDO Trevisan para essa averiguação partiu da assembleia realizada em 3 de novembro passado, convocada a pedido da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, com a finalidade de avaliar a possibilidade de iniciar uma ação contra os administradores da companhia.

 

Apesar de a entrega da versão final do documento estar programada para quarta-feira, apresentações preliminares já teriam ocorrido para membros do conselho da Sadia. Mas, segundo a empresa, apenas o atual presidente do órgão, Luiz Fernando Furlan, teve acesso ao texto preliminar.

 

A decisão dos conselheiros não será fácil. Eles terão de administrar alguns dilemas, entre os quais a estrutura de governança vigente na época de contratação dos derivativos, que colocava o ex-diretor financeiro Adriano Ferreira diretamente ligado ao então presidente do conselho de administração Walter Fontana, sem passar pelo presidente da empresa, Gilberto Tomazzoni.

 

Nos bastidores, o que se comenta é a tendência de que o conselho não recomende a abertura de um processo contra o ex-diretor financeiro, sem replicar o modelo da Aracruz, que perdeu US$ 2,1 bilhões com contratos semelhantes e decidiu processo o então diretor financeiro Isac Zagury.

 

No entanto, para isso, os conselheiros terão de admitir correr o risco de serem considerados coniventes ou negligentes no episódio. E nem todos estão confortáveis com essa situação, o que poderia forçar uma decisão de indicar a abertura de um processo contra Adriano Ferreira. Fonte da companhia afirmou que, embora não seja a tendência, tal decisão não seria surpreendente.

 

De acordo com pessoas que viram a versão preliminar do trabalho da BDO Trevisan, o documento não traz uma sentença a respeito da responsabilidade sobre os prejuízos, mas sugere problemas na estrutura de gestão - o que seriam "bons indícios" dos culpados. Por isso, o documento deve sugerir modificações profundas na estrutura de governança corporativa.

 

Além de definir a questão jurídica, a Sadia também enfrenta o desafio de administrar o aperto financeiro causado pelos derivativos. Isso porque os contratos com posições vendidas em dólar permanecem abertos.

 

É bem verdade que, após a descoberta do problema, a companhia montou posições com a aposta contrária, de compra de dólar, para minimizar as perdas. Porém, os contratos não têm um casamento perfeito e representam um custo à empresa. Ou seja, não se anulam por completo e ainda representam gasto adicional.

 

No fim de janeiro, última entrevista que a companhia concedeu ao Valor sobre o tema, Welson Teixeira, diretor de relações com investidores da Sadia, afirmou que exposição bruta aos derivativos estava em US$ 4,4 bilhões, a líquida era pouco menor que US$ 500 milhões. A companhia tinha, na ocasião, R$ 1,7 bilhão parado em depósito de garantias com os bancos por conta dessas operações.

 

Segundo ele, o modelo dos contratos detidos dificultava uma negociação para travar a perda e transformá-la numa dívida de longo prazo, mediante a negociação com os bancos, a exemplo do que fez a Aracruz - que ficou com nove anos para honrar seus prejuízos, enquanto a Sadia terá que fazê-lo até setembro, conforme o vencimento das operações.

 

Quando anunciou ao mercado o problema pela primeira vez, dia 25 de setembro, a Sadia estimava que as perdas somavam R$ 760 milhões, valor ultrapassado já no resultado do terceiro trimestre, quando o prejuízo com as operações somava cerca de R$ 850 milhões, incluindo as aplicações de risco no mercado americano, em títulos do Lehman Brothers.

 

Os comentários sobre o aperto financeiro da Sadia são recorrentes. No entanto, não há um número definido sobre o prejuízo da companhia, o que dificulta, inclusive, o processo de negociação tanto de capitalização por um sócio novo quanto qualquer diálogo sobre a venda do controle.

 

Por isso, qualquer anúncio antes do balanço, previsto para dia 27 de março, é pouco provável. Ninguém sabe, ao certo, o tamanho do atual problema da empresa.
Os temores sobre o equilíbrio financeiro da companhia se acentuaram no fim de janeiro, após relatório do Bank of America Merrill Lynch, que falava sobre a necessidade urgente da empresa de obter "ao menos R$ 2 bilhões" em injeção de capital. Isso porque os analistas da instituição João Carlos dos Santos, Renato Mimica e Alexandre Pizano projetavam um cenário de insolvência a partir de junho. "A situação de liquidez atual está em risco, uma vez que o caixa disponível pode secar até junho se a companhia não for capaz de refinanciar alguns de seus débitos de curto prazo", escreveram eles.

 

No relatório, os especialistas estimavam que a dívida bruta da empresa teria fechado dezembro em R$ 8,7 bilhões - com R$ 4,2 bilhões vencendo no curto prazo. Na mesma época, relatório da analista Denise Messer, da Brascan Corretora, estimava que a despesa financeira em 2008 somava R$ 2,5 bilhões, calculada pelo Bank of America em R$ 2,1 bilhões.
 


Veículo: Valor Econômico


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