Depois de reduzir em 31% os abates de bovinos no Brasil no último trimestre do ano passado, o JBS-Friboi começa a recuperar espaços, sobretudo os deixados por outros frigoríficos que saíram do mercado. Em janeiro, a empresa elevou os abates em 3% e em fevereiro, com a paralisação do Independência, esse percentual avançou para 17%. Outros grupos também estão aproveitando a oportunidade. O Bertin se movimenta rápido, já reativou o segundo turno em sua unidade de Campo Grande (MS) e contratou mais de 500 pessoas.
No quatro trimestre de 2008, o JBS-Friboi abateu no Brasil 631,5 mil bovinos, 31% menos que no terceiro trimestre. De acordo com a empresa, em janeiro o volume de abates cresceu 3% e, em fevereiro, o mercado foi mais favorável, e foi possível aumentar os abates em 17%. Em sinal de que está com estratégia agressiva no mercado interno, o JBS informou ontem ao mercado que seu conselho aprovou a abertura de duas filiais de distribuição nos estados de Minas Gerais (Contagem) e Santa Catarina (Itajaí), que vão ter como atividade principal o comércio atacadista de carnes bovinas, suínas e derivados. A empresa também informou recentemente que pretende contratar até 5 mil pessoas neste semestre para fazer frente à ampliação dos abates esperada para o Brasil.
O Bertin conseguiu expandir em torno de 25% seu abate nos meses de janeiro e fevereiro. No último trimestre de 2008, o grupo abateu 606,4 mil cabeças (queda de 14% em relação ao trimestre anterior), o que significa, a grosso modo, uma média de abate de 201,4 mil animais por mês. Esse número elevou-se para 254 mil em janeiro deste ano e para 251 mil em fevereiro, o que representa uma alta de 25%. "Reduzimos em relação ao terceiro trimestre como ação preventiva frente às incertezas em relação à demanda de mercado e à sua capacidade de pagamento", afirmou o Bertin, em nota. O segundo turno na unidade de Campo Grande iniciou 9 de março e demandou a contratação de 332 pessoas, e há vagas para mais 176 colaboradores, segundo informou a empresa.
O Bertin mantém de pé a previsão de inaugurar ainda no primeiro semestre deste ano a unidade de Diamantino, projetada para abater até 4 mil cabeças de gado por dia.
"As empresas estão se agilizando para ocupar a lacuna deixada por outros frigoríficos. Quanto mais o tempo passar, mais difícil vai ficar para o Independência retomar seus atividades", avalia José Vicente Ferraz, da Agra-FNP. Quando anunciou sua recuperação judicial, em 5 de março, o Independência tinha previsão de retomar abates em Rondônia e em Mato Grosso na semana seguinte. Desde então, a empresa não falou mais com a imprensa, mas segundo apurou a Gazeta Mercantil, o grupo iniciou a demissão de alguns colaboradores, por enquanto, dos departamentos de Marketing e Sustentabilidade. A empresa não se pronunciou sobre a previsão de dispensar também colaboradores das unidades industriais. "O tempo passa, os custos fixos se mantêm e a empresa continua a perder vendas e clientes, tanto no mercado interno quanto no exterior", avalia Ferraz.
O ex-ministro da Agricultura Marcus Vinícius Pratini de Moraes, atualmente consultor do JBS-Friboi, acredita que poucas negociações consistentes estejam rondando as empresas frigoríficas em dificuldades financeiras. "Antes, tínhamos um frigorífico à venda e 50 querendo comprá-lo. Hoje temos 50 à venda e um ou outro interessado". Isso não pela constatação de que não há boas oportunidades, mas pela avaliação de que já há muita capacidade instalada no Brasil para pouca demanda, cenário que começou a ser desenhado desde o embargo da União Europeia e agravado pela crise, a partir de setembro.
"Nós, por exemplo, não temos a menor intenção de fazer nenhuma aquisição de frigoríficos este ano", garante o presidente do grupo Marfrig, Marcos Molina. Como boa parte do setor no Brasil, o Marfrig encerrou 2008 com uma alta ociosidade nas plantas de bovinos. "Usamos apenas 45% da nossa capacidade. Temos muito espaço para aumentar produção com o que já temos", afirma Molina. O Marfrig, segundo ele, aprovou no final do ano passado investimentos de R$ 220 milhões para 2009, sobretudo para modernização e implantação de linha de cozidos e industrializados. "Já investimos R$ 284 milhões em 2008 e agora é hora de consolidar", justifica Molina.
Pratini acredita que mesmo os grupos que possuem dinheiro em caixa para fazer aquisições estão preferindo aguardar o rumo da economia mundial para tomar decisões. "Além disso, para que comprar agora se os ativos podem se desvalorizar mais em três ou quatro meses", avalia Pratini.
O fechamento de frigoríficos em 2009, sobretudo do Arantes e do Independência, provocou forte queda nos preços do boi no mercado interno. Desde janeiro, a arroba desvalorizou-se 9%.
Além de estar recebendo menos pela arroba, o pecuarista desses estados onde os frigoríficos pararam de atuar amargam também falta de recebimento pelo boi vendido. A estimativa é de que em Mato Grosso os produtores tenham a receber R$ 120 milhões das indústrias em recuperação judicial. Em Goiás, estima-se que esse crédito seja de R$ 200 milhões e, em Mato Grosso do Sul, em torno de R$ 130 milhões, o que significaria um rombo próximo de R$ 450 milhões nos três estados.
Veículo: Gazeta Mercantil