Quando sai de Mato Grosso do Sul, o comerciante Ademar Ferreira invariavelmente tem que responder o monocórdico "e aí, lá tem muito peixe?" "Pra quem não sabe que sou de Dourados, tenho que responder que sou de terra de grãos, e não de Pantanal", afirma ele, justamente o presidente do conselho de administração da MS Peixe, cooperativa que trabalha para desenvolver a piscicultura no maior polo agrícola do Estado. "Mas temos que ser terra de peixe também".
A cooperativa é um exemplo das iniciativas para tornar mais plural a atividade agropecuária na cidade. Certamente não será a tábua de salvação para agricultores endividados ou pecuaristas desnorteados pela queda do preço do boi e a quebra de frigoríficos, mas mostra que os produtores estão, ao menos, buscando alternativas para não depender tanto da soja, hegemônica em território douradense.
Criada em 2003, a MS Peixe obteve neste mês cerca de R$ 1 milhão com a Secretaria Especial da Pesca para construir um entreposto próprio, em terreno já doado pela prefeitura. A unidade terá frigorífico para processamento dos pacus, tambacus, pintados e tilápias criados no município. "A atividade cresceu muito de três anos para cá", diz Ferreira.
A Associação dos Criadores de Ovinos da Grande Dourados (Ascogran) é outra que, sem a pretensão de ser substituir a relevância dos grãos ou da pecuária, segura a bandeira da diversificação. Os membros da entidade já estão em fase final de criação de sua própria cooperativa, motivados pelo crescimento do rebanho - ocorrido, como no caso dos peixes, como fonte de renda secundária para as propriedades.
"Em um raio de 150 quilômetros em torno de Dourados existem 100 mil cabeças de ovinos. Com isso já podemos ter nosso frigorífico próprio", diz Marcos Ditante, dirigente da Ascogran, que tem 25 sócios. A busca por R$ 3 milhões para financiar a obra já está em curso. O plano é ter um frigorífico com capacidade de abate de 100 cabeças por dia. (PC)
Veículo: Valor Econômico