Frigoríficos precisam de R$ 1,6 bi

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Com dificuldades para recuperar a capacidade de pagamento e para receber de importadores russos por embarques já realizados, os frigoríficos de carne bovina precisam de uma injeção de ao menos R$ 1,6 bilhão em créditos para garantir capital de giro adequado e manutenção dos financiamentos às exportações.

 

Em audiência pública no Senado para debater os problemas do setor, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca, afirmou que o pacote de socorro, em estudo pelo governo, deveria acelerar empréstimos de R$ 1 bilhão para pré-embarques e Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACCs), além de liberar R$ 600 milhões em créditos tributários acumulados pela isenção de 60% do PIS-Cofins sobre as exportações dos 21 frigoríficos associados à entidade.

 

"O exportador não é um aproveitador. A Abiec não precisa de favores, mas de crédito financeiro e liquidez no crédito tributário". O executivo negou ter pedido um "pacote" ao governo, mas afirmou que, sem capital de giro, será difícil comprar bois, manter estoques e bancar custos de comercialização e transporte.

 

"É um pesadelo. As empresas são obrigadas a jogar carne no mercado interno e a reduzir as exportações", disse Giannetti. Nos leilões de ACCs com recursos das reservas cambiais sob gestão do Banco Central, a Abiec pede prazo de 360 dias e juros de 4% ou 5% para manter exportações. Hoje, os prazos seriam de 30 dias e os juros, de 12% ou 13%.

 

Oito senadores da Comissão de Agricultura manifestaram-se favoráveis a um pacote de socorro ao setor. "Não pode demorar esse socorro do BNDES. Peço ao ministro que fale com o diretor do banco", disse o futuro líder da Maioria no Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO). "Se o BNDES não der recursos para quem pediu recuperação judicial, a situação vai piorar", emendou o vice-presidente da comissão, senador Gilberto Göellner (DEM-MT). Os pecuaristas estimam ter R$ 700 milhões para receber dos frigoríficos em recuperação. "Concordamos com a ajuda, mas queremos receber", disse Antenor Nogueira, da CNA.

 

Em uma sugestão para auxiliar também frigoríficos exportadores de carne suína e de frango, Giannetti defendeu a realização de umas "missão financeira" à Rússia para convencer bancos e importadores a honrar compromissos. "Não é só a Abiec que tem problema. Sadia e Perdigão também têm problema de pagamento lá". Se houver inadimplência dos importadores, disse, a situação ficará muito mais difícil. Para ele, as medidas são "lentas e tímidas" e falta "mais coragem" ao governo.

 

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, negou o rótulo de "pacote" às medidas em estudo no governo, mas admitiu que o BNDES avalia o caso de alguns frigoríficos. "Não há nada de concreto ou específico. O BNDES está fazendo análise de alguns frigoríficos, mas não há discussão de pacote. Pedi para avaliar a situação, até porque [o BNDES] é sócio de alguns deles", disse. "O governo está aberto a encontrar o melhor caminho, mas não podemos adotar medidas gerais", defendeu o ministro, que participou de recente reunião com o presidente Lula, no Planalto, em que ficou decidido o apoio oficial ao setor. "Precisa uma discussão mais profunda para ter clareza. Sabemos os reflexos da crise, mas há dúvidas. O setor deve quanto e para quem?", indagou. "Há divergências dentro da própria Abiec. Cada caso é um caso. Me preocupam os pecuaristas. Este é o meu foco".

 

O interesse do governo em auxiliar frigoríficos exportadores para evitar um "efeito cascata" negativo na cadeia, como informou o Valor, desagradou aos frigoríficos de mercado interno. "Vimos com total espanto. Por quê elitizar o crédito e socorrer empresas que cometeram erros estratégicos?", questionou o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. "Se socorrer grandes, têm que socorrer médios e pequenos". Ele negocia, com a Abiec, a suspensão da cobrança de 4,5% de PIS-Cofins sobre o faturamento dos frigoríficos nas vendas internas, o que geraria um alívio de R$ 140 milhões aos cofres dessas empresas.

 

Veículo: Valor Econômico


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