É o primeira unidade operacional que a empresa admite vender na busca pela capitalização
Pouco mais de um ano depois de investir R$ 92 milhões em uma fábrica na Rússia, a Sadia está saindo do negócio. A venda do ativo operacional é uma das alternativas de capitalização em estudo pela companhia. A empresa já havia anunciado que pretende vender uma participação no banco e corretora Concórdia, além de outros ativos não operacionais, como um terreno na Vila Anastácio, em São Paulo, onde fica sua sede administrativa. A empresa tenta levantar R$ 1 bilhão com a venda desses ativos.
Procurada pela reportagem, a Sadia confirmou que a venda da fábrica da Rússia está "em estudos, como parte do plano de capitalização". Este é o primeiro ativo operacional que a empresa coloca à venda. Quando foi revelado que a empresa havia contratado um banco para vender alguns ativos e também uma participação acionária na própria companhia, a Sadia declarou que colocaria a venda apenas ativos não operacionais.
Uma das maiores companhias de alimentos do País, a Sadia vinha em franco crescimento quando a crise financeira internacional se acentuou, em setembro do ano passado. A desvalorização cambial pegou a companhia com uma exposição a operações de derivativos muito superior ao permitido pelas suas próprias regras de governança, e provocou perdas de R$ 760 milhões.
Com uma dívida de curto prazo, com vencimentos até setembro, estimada em R$ 3,5 bilhões, a empresa tem pressa para se capitalizar. Por isso, a não concretização de quaisquer das alternativas de capitalização tem feito aumentar as pressões sobre a companhia.
Especulações de que a Sadia estaria negociando uma fusão com a Perdigão fez as ações das duas companhias dispararem desde a última sexta-feira. Na noite de segunda-feira, a Sadia revelou, por meio de comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que realizou "entendimentos recentes com a Perdigão", no sentido de uma associação, embora não tivesse nada de concreto para anunciar. Ontem pela manhã, contudo, a Perdigão divulgou uma nota à CVM negando a existência "de qualquer negociação em curso" com a Sadia. A empresa confirma que houve conversas, mas que as partes não chegaram a qualquer entendimento.
As ações das duas empresas voltaram a subir ontem, liderando as altas na Bovespa, e a CVM informou que vai examinar o comportamento de ambos os papéis. Em janeiro, as ações da Sadia também já haviam disparado com rumores de um possível aporte de capital na companhia.
INTERNACIONALIZAÇÃO
O investimento na fábrica localizada em Kaliningrado - um enclave russo entre a Polônia e a Lituânia, à beira do Mar Báltico - foi o primeiro grande passo na estratégia de internacionalização da Sadia. O negócio foi anunciado em 2006, em meio à crise provocada pela gripe aviária e depois do fracasso da oferta hostil feita à rival Perdigão. A inauguração da fábrica ocorreu em dezembro de 2007. À época, a empresa tinha planos para construir pelo menos mais duas fábricas no exterior, sendo uma, provavelmente, nos Emirados Árabes.
Com financiamento do International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, a fábrica processa carnes com matérias-primas do Brasil e abastece o McDonald?s da Rússia. A unidade também ajudou a fazer da Sadia, que já era forte no país, a marca estrangeira mais conhecida no mercado russo.
A Sadia estaria, no entanto, insatisfeita com o relacionamento com seu sócio russo, a distribuidora de alimentos Miratorg, que detém 40% do negócio.
Veículo: O Estado de S.Paulo