Inadimplência faz governo ajudar frigoríficos

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Apesar de negar a adoção de um pacote para os frigoríficos, o governo federal já senta à mesa com bancos estatais para tentar garantir crédito a essas empresas e evitar o colapso de um dos setores mais representativos na balança comercial e na geração de empregos, mas que acumula atualmente uma inadimplência da ordem de R$ 500 milhões apenas no Centro-Oeste.

 

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Reinhold Stephanes, negou ontem, que o governo tenha preparado um pacote de socorro para os frigoríficos. Segundo ele, é preciso primeiro estudar a situação das empresas para depois tomar medidas capazes de resolver os problemas. "O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está fazendo uma análise do que está acontecendo no setor, onde não há pacote", afirmou. O governo, no entanto, não tem muita margem de manobra para ignorar o peso da indústria frigorífica na balança comercial e sua capacidade de geração de emprego. No mercado circula a notícia de que o BNDES e o Banco do Brasil ajudariam o setor com uma linha de crédito de R$ 1,2 bilhão para reforço do capital de giro das empresas e cada uma delas teria ainda acesso a um empréstimo no valor de R$ 20 milhões para estocagem.

 

"O setor merece ser ajudado, porque ele tem um papel estratégico para o País, por isso o governo precisará encontrar medidas que ajudem na liquidez de crédito e nos financiamentos", disse o deputado Homero Pereira (PPS-MT). "Temos problemas decanos com os frigoríficos, mas agora é importante tentar fazer de tudo para que os compromissos com os produtores e trabalhadores sejam honrados", declarou o parlamentar que é ligado ao setor pecuarista. O efeito da inadimplência dos frigoríficos pode gerar um reflexo negativo em toda a cadeia. "Fala-se que na região Centro-Oeste - Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - os prejuízos dos produtores já chegam ao volume de R$ 500 milhões", afirmou o senador Valter Pereira (PMDB-MS).

 

Para lideranças do setor, além do acesso às linhas de financiamento, o mais importante para essas empresas é a rolagem do crédito que, segundo Roberto Giannetti, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) está até três vezes mais caro agora e todo o vencível deles é para 30 dias - prazo considerado muito curto (o normal seria de 180 a 360 no caso de embarques).

 

Durante a audiência pública, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Giannetti afirmou que os frigoríficos encontram dificuldade para obtenção de crédito e para rolar as dívidas em um momento de queda no preço da carne. "O que acontece atualmente é que o sucesso dessas empresas, que alavancaram crédito, que aumentaram o abate e investiram, fizeram delas vítimas da crise do crédito financeiro escasso e caro. Da noite para o dia, o crédito sumiu", afirmou Giannetti. Não apenas isso, a falta de crédito se agrava junto à inadimplência dos importadores. "Os bancos não estão dispostos a repassar financiamento e nossos principais importadores são países em desenvolvimento, que enfrentam dificuldades, como a Rússia".

 

O atraso no pagamento dos exportadores atingiu em cheio o fluxo dessas empresas. "Se não resolvermos esse problema, compulsoriamente iremos diminuir as exportações e jogar mais carne no mercado interno", sentenciou.

 

Giannetti disse que já pediu ao Ministério da Fazenda uma solução para a liberação de créditos tributários por parte do governo federal. Segundo ele, as empresas vinculadas à associação possuíam - em 31 de dezembro de 2008 - R$ 600 milhões em créditos de PIS/Cofins, o que daria um alívio ao setor em termos de recursos para capital de giro.

 

Giannetti espera que o governo envie uma medida provisória específica para tratar do assunto ou mesmo incorpore uma emenda em uma da MPs que já tramitam no Congresso.

 

A Abiec não soube informar o atual volume da dívida das 21 empresas ligadas à entidade, mas hoje essas empresas devem a pecuaristas, bancos, além de terem dívidas tributárias. Por essa razão, o governo tem encontrado dificuldade em conseguir crédito para essas indústrias. No entanto, fontes do mercado afirmam que o pacote deve sair devido a representatividade do setor na balança brasileira. Nos últimos 12 meses, encerrados em janeiro de 2009, as exportações do agronegócio totalizaram US$ 71,3 bilhões, valor 20% acima do que foi exportado entre fevereiro de 2007 e janeiro de 2008, e o setor de carne foi um dos que mais contribuiu para o incremento das exportações, registrando alta de 23%. No último mês de fevereiro, já em meio a crise, as exportações de carnes recuaram 26%, de US$ 1 bilhão, em janeiro de 2008, para US$ 784 milhões no mês passado. A carne bovina in natura foi o produto que mais colaborou para a queda do setor, registrando retração de 54% da receita, o que corresponde a US$ 168 milhões.

 

No entanto, o que poderá enfraquecer o setor no seu pleito é a falta de consenso entre suas principais entidades representativas. Enquanto a Abiec pede a intervenção imediata do governo, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) quer cautela para que o governo não elitize o auxílio ao setor. "A ajuda na forma de financiamentos de capital de giro será extremamente bem-vinda desde que os recursos sejam distribuídos de maneira a auxiliar o setor a se estruturar e não contemple apenas uns poucos privilegiados. O governo tem de tomar cuidado para não elitizar o auxílio", afirmou Péricles Salazar , presidente da Abrafrigo.

 

Apesar de negar a adoção de um pacote para os frigoríficos, o governo federal já senta à mesa com bancos estatais para tentar garantir crédito a essas empresas e evitar o colapso de um dos setores mais representativos na balança comercial e na geração de empregos, mas que acumula atualmente uma inadimplência da ordem de R$ 500 milhões apenas no Centro-Oeste.

 

Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), negou ontem que o governo tenha preparado um pacote de socorro para os frigoríficos. Segundo ele, é preciso primeiro estudar a situação das empresas para depois tomar medidas capazes de resolver os problemas. O governo, no entanto, não tem muita margem de manobra para ignorar o peso da indústria frigorífica na balança comercial e sua capacidade de geração de emprego. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Frigorífica (Abrafrigo), 50 frigoríficos já fecharam as portas ou suspenderam abates nos últimos meses, de um total de 750 empresas desse setor no País. A suspensão das atividades representou a demissão de 15 mil. No mercado, circula a notícia de que o BNDES e o Banco do Brasil ajudariam o setor com uma linha de crédito de R$ 1,2 bilhão para reforço do capital de giro das empresas e cada uma delas teria ainda acesso a um empréstimo no valor de R$ 20 milhões para estocagem.

 

Enquanto isso, Sadia e Perdigão confirmam que negociaram algum tipo de associação, mas não chegaram a acordo.

 

Veículo: DCI


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