São Paulo - A crise instalada na JBS, maior player do mercado pecuário nacional, aliada à instabilidade econômica, mudou a regra do jogo para pecuaristas e frigoríficos neste ano.
O mais recente capítulo dessa crise é a suspensão por tempo indeterminado das atividades do JBS em sete unidades de abate em Mato Grosso do Sul, onde a companhia da família Batista responde por 45% dos abates.
A decisão foi tomada por "falta de segurança jurídica", informou o JBS, após a Justiça determinar o bloqueio de R$ 730 milhões em bens da companhia no Estado.
Como resultado, a cotação da arroba do boi gordo em Mato Grosso do Sul recuou 4,6% de segunda-feira até ontem, saindo de R$ 136,20 para R$ 130, à vista.
A incerteza causada pela crise no JBS também reduziu a cotação no acumulado do ano em R$ 4,6% considerando o Indicador Esalq/BM&FBovespa e fez com que o modelo de vendas mudasse no segmento. "Os produtores, acostumados a negociar à vista, passaram a vender o gado a prazo. Por outro lado, os frigoríficos pararam de operar no mercado a termo - venda com entrega a futuro - diante da expectativa de um ano com oferta em alta", explica a diretora da Agrifatto, a analista Lygia Pimentel.
Essas mudanças foram determinadas também pelas margens dos frigoríficos, que permaneceram positivas mesmo com a redução no consumo, devido ao recuo na cotação. "Isso fortaleceu os pequenos e médios frigoríficos", avalia Pimentel.
Mas isso não significa que exista uma mudança de um modelo de concentração para algo mais pulverizado entre os frigoríficos "Até porque não considero que exista uma concentração tão grande, já que temos três grandes players e, em outros mercados, essa dinâmica é ainda mais centralizada", diz a analista.
Segundo Pimentel, há um debate no setor sobre o financiamento por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do crescimento dessas unidades de médio e pequeno portes, à exemplo do que foi feito com o JBS. "A indústria tem que crescer e ser boa pelo que é e não artificialmente", diz.
Por outro lado, pequenos e médios frigoríficos enfrentam a desconfiança dos pecuaristas em relação ao rendimento de carcaça nas plantas. "Eles tendem a pagar um preço maior para compensar, mas o resultado no frigorífico pesa mais para o pecuarista", explica.
Os concorrentes da JBS também aproveitam para ocupar o espaço deixado pela empresa. A Marfrig, retomou os abates em Rondônia na unidade de Ji-Paraná. A empresa já havia retomado abates em Paranaíba, Mato Grosso do Sul e Alegrete, no Rio Grande do Sul.
Fonte: DCI São Paulo