Carne de búfalo é promessa de sucesso

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Prever o futuro sempre foi um enorme desafio para os seres humanos: desde os primórdios da história do homem são consultados oráculos, bolas de cristal, búzios, tarô, ciganas que se empenham em ler a sorte na palma da mão. Muitos visionários, como Nostradamus e suas profecias, ganharam fama. Alguns mortais, no entanto, conseguem vislumbrar o amanhã, sem a necessidade de tamanho aparato místico. É o caso do pecuarista Delfino Barbosa que há 32 anos enxergou um futuro promissor para quem optasse pela criação de búfalos aqui no Estado, previsão que tem se confirmado ano após ano e que recentemente ganhou ainda mais consistência: os cortes de búfalo nunca estiveram tão valorizados, equiparando-se aos preços pagos pela carne bovina.

 

O valor pelo quilo da carcaça fria de búfalo adquirido pela Cooperativa Sulriograndense de Bubalinocultores (Cooperbúfalo) se encontra hoje na faixa de R$ 5,20 a R$ 5,30, cenário que contrasta com uma realidade até bem pouco tempo vivida pelos criadores, quando a carne bubalina recebia entre 20% e 30% a menos do que a bovina. Conforme a Cooperbúfalo, a tendência é de preços ainda mais altos devido à sazonalidade, pois quando as pastagens ficam mais escassas no inverno será ainda mais difícil encontrar o produto nas gôndolas.

 

A crença do pecuarista quanto ao futuro de sucesso da carne dos animais o fez inclusive abrir mão de um rebanho de gado da raça Charolês para apostar todas as fichas na atividade de recria de búfalos das raças Murrah e Mediterrâneo. "A demanda é tanta por machos e matrizes que estamos com dificuldades de atender aos clientes, muitos deles empenhados em ampliar seus rebanhos", explica o pecuarista. Para Barbosa, proprietário da cabanha Panorama, de Camaquã, sempre ficou muito evidente que a criação de búfalos seria, mais cedo ou mais tarde, uma alternativa altamente rentável, por apresentar custos de produção menores, em comparação aos bovinos, produzindo até 30% mais carne e também por se tratar de um alimento mais saudável em termos de gorduras e índices proteicos. "Os resultados em termos de produtividade são excelentes, a custos mais baixos, já que o animal é de fácil manejo e não muito seletivo em relação ao pasto", disse o criador.

 

Outro indício de que as previsões de Barbosa estavam corretas diz respeito à demanda cada vez maior por carne bubalina, não só por parte de consumidores gaúchos, mas também de outros estados, como São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. A procura é tamanha que os criadores já não conseguem dar vencimento aos pedidos. "O nosso grande gargalo é a falta de animais para abate para atender a esse mercado em potencial", afirma o criador Tibério Celeste, da cabanha Espírito Santo, localizada em Passo do Sobrado. Dados da Cooperbúfalo dão conta de que para suprir os pedidos dos consumidores gaúchos seria preciso dobrar o volume de animais abatidos pela cooperativa por mês, que chega a 80 toneladas.

 

Uma parceria recente formada entre a cooperativa e o grupo Unidasul permitiu a venda dos cortes nas redes Unidão e Rissul, aqui no Estado. Barbosa prefere não revelar nomes, mas adianta que uma grande rede de supermercados do Estado já demonstrou interesse na compra do produto, contrato que não foi firmado justamente pela falta de animais para oferta. "Precisamos dar garantir de entrega, o que por enquanto não é possível", disse o pecuarista.

 

Outro ponto positivo que tem ajudado a fomentar a cadeia produtiva bubalina se refere à medida que isenta o valor do frete para o transporte dos animais em solo gaúcho. "Hoje o animal vai da fazenda até o frigorífico sem custos ao produtor. Esta é uma reivindicação antiga da cooperativa e favorece os rendimentos do bubalinocultor", afirma Ketzer.

 

Carne bubalina tem a proteína vermelha de baixo colesterol

 

Apesar de ter odor, sabor e aparência similar à carne bovina, a carne de búfalo se difere em vários quesitos. A quantidade e o tipo de gordura é o primeiro deles: com cerca de 40% menos colesterol, 12 vezes menos gordura, 55% menos calorias e melhores índices de proteínas e sais minerais. Visualmente é possível identificar algumas diferenças, como a cor do marmoreio (gordura que fica entremeada às fibras da carne). "É mais esbranquiçada, enquanto a do bovino é mais amarela", diz o pecuarista Delfino Barbosa.

 

Quanto aos demais aspectos, como gosto, textura, maciez, em nada difere da carne bovina oriunda de novilhos jovens. Os cortes comerciais também são idênticos aos feitos nas carcaças bovinas, inclusive com partes nobres muito apreciadas entre os churrasqueiros, como a picanha, a maminha e a costela. "Pode-se dizer que é uma carne ecologicamente correta, pois o búfalo é o verdadeiro boi-verde, pois, se for corretamente manejado, fica pronto para abate com cerca de 20/24 meses de idade, criado exclusivamente a pasto nativo", explica o presidente da Ascribu, Sérgio Fernandes.

 

Em função de suas características nutricionais, costuma ser recomendada por médicos e nutricionistas, em especial para pecientes que já tenham apresentado problemas de pressão alta e colesterol elevado. "É a carne ideal para atletas, com sabor e aroma iguais à carne bovina", diz Barbosa.

 

Veículo: Jornal do Comércio - RS


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