Domínio na exportação de frangos

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Um bilhão e setecentos milhões de aves, pelo menos oito milhões de suínos, mais de onze milhões de toneladas de ração. Os números acima são a soma do que Perdigão e Sadia produziram em 2008 e dão uma noção da gigante que surge da união entre as duas empresas. E das implicações para o futuro, já que a concentração é clara.

 

Juntas, as duas terão quase 33% do abate nacional de aves e 31% do de suínos. No caso da exportação, terão 52,6% dos embarques de carne de frango in natura do país, que somaram 3,26 milhões de toneladas no ano passado, e cerca de 40% das de carne suína (total de 529 mil toneladas em 2008). Todos os cálculos se baseiam em números das próprias empresas, da União Brasileira de Avicultura (UBA), Abef (exportadores de frango) e Abipecs (exportadores de suínos).

 

A concentração no varejo doméstico também impressiona: no mercado de margarinas, a fatia das duas somará 65%; em industrializados de carnes, 57%; na categoria pizzas, juntas as duas terão 68,3% do mercado e em massas prontas, 88%.

 

Os números mostram que a tarefa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ao avaliar a operação não será fácil (ver matéria acima). Mas a companhia que surgir também deverá ter de lidar com os órgãos antitruste estrangeiros, já que as duas são grandes fornecedoras em vários mercados.

 

Se o consumidor não está feliz com a perspectiva de ver uma menor concorrência no varejo, muito menos está quem produz grãos, como soja e milho, e vende hoje para Perdigão e Sadia. A estimativa é que a nova companhia compre cerca de 20% do farelo de soja produzido no país - 11 milhões de toneladas - para a fabricação de ração para aves e suínos. Sozinha, a Perdigão comprou 3,117 milhões de toneladas de milho em 2008 e 1,226 milhão toneladas de farelo de soja. A Sadia adquiriu estimadas 4,8 milhões de toneladas de milho e 1,3 milhão de farelo. Somado, o consumo de milho das duas significará quase 14% da produção nacional de 58 milhões de toneladas na safra passada.

 

"As duas empresas já têm um poder de compra muito elevado, e isso vai aumentar", comenta um fonte do setor, acrescentando que os fornecedores não estão satisfeitos. "Elas vão arrochar mais".

 

Para um especialista do setor de carnes, a decisão do governo de patrocinar uniões como as de Perdigão e Sadia é errônea. "O governo está induzindo a concentração quando deveria lutar contra ela", lamenta.

 

Preocupados também estão os quase 120 mil funcionários da empresa em todo o país. Cada uma tem 60 mil empregados e é certo que haverá ajustes. Ainda não se sabe o tamanho das mudanças, mas a expectativa é de que fábricas das duas empresas localizadas em áreas muito próximas umas das outras sejam afetadas. A Perdigão tem 25 unidades industriais de carne em oito Estados do país, além de 15 de produção de lácteos. A Sadia tem 17 em nove Estados.

 

Uma fonte familiarizada com as duas empresas afirma que a tendência é que a operação no Rio Grande do Sul sofra ajustes. Lá a Perdigão tem um grande número de fábricas - parte delas veio com a compra da Eleva, em 2007. As unidades estão em Bom Retiro do Sul, Caxias do Sul, Lajeado, Marau, Porto Alegre e Serafina Correia. A Sadia tem planta em Três Passos.

 

Há dúvida também sobre o que ocorrerá em Santa Catarina, onde a Perdigão tem seis plantas e a Sadia, três. O fato de serem unidades exportadoras pode permitir que sejam mantidas.

 

Hoje, o maior complexo industrial da Perdigão é Rio Verde, em Goiás, onde a empresa tem ainda fábricas em Jataí e Mineiros. A Sadia está implantando o seu maior complexo em Lucas do Rio Verde (MT). Há demanda para as duas atenderem, diz a fonte, mas é possível que os investimentos em Lucas sejam revistos, pois a Perdigão também já tem duas unidades no Mato Grosso.

 

No Paraná, a Perdigão tem apenas uma unidade de carnes e a Sadia, cinco. Além disso, ambas acabam de instalar fábricas no Estado de Pernambuco, para atender o Nordeste.
 


Veículo: Valor Econômico


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