Cresce cerco ao boi na Amazônia

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A forte pressão internacional de compradores e ONGs ambientalistas obrigou a Associação da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec) a aceitar ontem um compromisso público de rejeição à aquisição de boi criado em áreas de desmatamento ilegal na Amazônia. Além disso, a Abiec negocia com o BNDES um programa de rastreamento eletrônico do gado na região da floresta com recursos do Fundo Amazônia, apurou o Valor.

 

Gestor do fundo composto por doações internacionais para preservação da Amazônia, o BNDES tem participação no capital de vários frigoríficos e busca responder à pressão internacional por mecanismos de proteção ao bioma amazônico. O fundo já tem US$ 110 milhões da Noruega, deve receber US$ 30 milhões da Alemanha, mas poderia captar US$ 17 bilhões até 2017, calcula o banco.

 

Acuados por denúncias das ONGs Greenpeace e Amigos da Terra, e por embargos decretados pelo Ministério Público do Pará a seus fornecedores, os frigoríficos criaram um "código de conduta socioambiental" com metas e prazo para instituir um "programa de excelência" e de "rastreamento ambiental e sanitário" aos pecuaristas. "Não faremos um compromisso falso com ministério A ou B nem algo para inglês ver", afirmou o presidente da Abiec, Roberto Giannetti da Fonseca, em audiência no Senado. "A Abiec assinará um compromisso com a sociedade".

 

A pressão é forte. Grandes redes varejistas, como Carrefour, Wal- Mart e Pão de Açúcar, anunciaram que rejeitarão carne de animais provenientes de áreas de desmatamento. A audiência na Comissão de Agricultura serviu para frigoríficos e ruralistas atacarem a ação de ONGs e do MP do Pará. Convidados, mas ausentes do debate, eles foram classificados como "mentirosos", "levianos" e "irresponsáveis" ao longo das discussões. "Para o MP, eles [as ONGs] são os heróis e as empresas, as bandidas", disse Gianetti.

 

As ONGs acusaram, em relatório difundido nos países compradores de carne e couro do Brasil, os frigoríficos de patrocinar desmatamento, trabalho escravo e invasão de terras indígenas na Amazônia. O MP do Pará autuou fazendas e empresas, além de ameaçar compradores do Bertin de co-responsabilidade por crimes ambientais supostamente praticados pelo frigorífico e seus fornecedores.

 

Gianetti defendeu ontem que, mesmo sem terem sido incluídos em listas restritivas por Ibama e Ministério do Trabalho, pecuaristas fornecedores da Bertin tiveram suas propriedades embargadas pelo MP. Os procuradores teriam tomado "atitude abusiva" e causado "destruição da reputação" da empresa. "Vamos ter que pedir solução ao Judiciário", afirmou. O executivo disse que as ONGs tiveram acesso ao sigilo fiscal da Bertin. "O Greenpeace disse ter tido acesso a dados fiscais em uma 'sala empoeirada' de Belém durante reunião, na Alemanha, com Adidas e Reebok", disse Gianetti.

 

Irritado com a ausência dos convidados, o senador Valter Pereira (PMDB-MS), presidente da comissão, afirmou que o MP deu demostração de que o órgão "não tem interesse" em debater e estaria agindo "ao arrepio da lei". "A ação do MP é equivocada e não tem embasamento legal", disse o senador Gilberto Goellner (DEM-MT). Os senadores decidiram realizar uma nova audiência pública, desta vez em Belém (PA), para debater o tema. Greenpeace e Ministério Público serão novamente convidados.
 


Veículo: Valor Econômico


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