Dois irmãos suíços criam uma marca de caviar produzido numa fazenda uruguaia com o desafio de alcançar a mesma qualidade e prestígio da caríssima variedade obtida no mar Cáspio
Grande frasista e polemista de primeira, o jornalista Paulo Francis destilou certa vez uma comparação lapidar sobre a relação do caviar com a fortuna: "A maior demonstração de riqueza que existe é enfiar a colher dentro de um pote de caviar e não encontrar o fundo". Originário da região do mar Cáspio e processado principalmente por produtores russos e iranianos, o caviar é uma dessas iguarias raras cuja oferta tem diminuído ao longo dos anos devido, sobretudo, à pesca predatória do esturjão, o peixe que produz as saborosas ovas negras. Hoje, 1 quilo de caviar iraniano pode chegar a exorbitantes 11 000 dólares. Uma das soluções encontradas para fazer frente à escassez do produto é a criação de esturjões em cativeiro -- o que nem sempre é aceito pelos puristas, uma vez que consideram tal versão do caviar inferior à chamada selvagem. O principal motivo para que coinesseurs de todo o planeta torçam o nariz para os produtos provenientes de fazendas de peixe -- a maioria delas localizadas na China e no Azerbaijão -- são as condições artificiais da criação, que teriam impacto direto sobre o sabor das ovas. É justamente esse o grande desafio de uma família de empreendedores suíços, os Zwyer, que resolveram se lançar no ramo de produção de caviar com peixes criados em cativeiro. Eles querem provar que as ovas provenientes de uma fazenda podem ser tão saborosas quanto as que vêm dos confins da Ásia Central. E, melhor, pela metade do preço.
O local escolhido pelos Zwyer para produzir seu caviar não poderia ser mais insólito. Eles fecharam um acordo com a empresa Esturiones del Río Negro, que cria esturjões em uma fazenda na cidade de Durazno, no interior do Uruguai, a 270 quilômetros de Montevidéu. A fazenda existe há cerca de 15 anos e foi montada com a assessoria de técnicos russos. No entanto, seu produto era basicamente uma commodity vendida no mercado americano, o principal centro de consumo desse tipo de caviar no mundo. Ao viajar pelo Uruguai, Roger Zwyer conheceu a fazenda e vislumbrou a possibilidade de criar uma marca global para o produto. Convocou o irmão, Alexander, e fundou a zwyercaviar, cujos primeiros produtos chegaram ao mercado em outubro do ano passado.
A primeira providência dos irmãos foi estabelecer rigorosos critérios de seleção para as ovas que levam sua marca. Na fazenda uruguaia, os peixes são pesados e checados um a um e só então as ovas são extraídas, num processo muito rápido, de cerca de 15 minutos, o qual é essencial para manter a qualidade do caviar. Depois as ovas são lavadas com água mineral trazida da Patagônia e temperadas com sal proveniente da região do Algarve, em Portugal. "Somos os únicos produtores do mundo a utilizar sal marinho no caviar. Ele dá um sabor especial e inovador", afirma Roger Zwyer. O caviar é embalado no Uruguai e a distribuição é feita da sede da empresa, em Teufen, nos arredores de Zurique.
Com menos de um ano de mercado, os produtos da ZwyerCaviar já são vendidos na Suíça, nos Estados Unidos, na Arábia Saudita e na África do Sul -- não há previsão para vendas no Brasil por enquanto. Com uma estratégia de marketing agressiva, o ZwyerCaviar acaba de ser escolhido a melhor nova marca de luxo na premiação European Luxury Award, concurso organizado com a colaboração do The Wall Street Journal. Em testes cegos com chefs (nos quais a marca não é revelada), o novo produto tem tirado notas superiores aos similares iranianos. Para os interessados, o ZwyerCaviar é vendido em embalagens de 125 gramas por 700 dólares. No entanto, a companhia já planeja lançar uma latinha de 10 gramas para quem quiser provar a iguaria.
Veículo: Revista Exame