A BRF Brasil Foods, quinta maior empresa global de carnes, quer ter a partir de 2010 uma política mais agressiva de atuação no exterior, que responde hoje por uma fatia superior a 40% das suas vendas totais. Essa estratégia passa pelo mercado norte-americano, afirmou o co-presidente do Conselho de Administração da companhia, Luiz Fernando Furlan, ao participar ontem do evento que marcou o início das negociações da ação PRGA3 na Bovespa.
"O país mais importante em que não estamos hoje é os Estados Unidos. É um mercado praticamente virgem e que podemos acessar via acordos de reciprocidade ou aquisições", disse, no evento na BM&FBovespa que marcou o início das negociações das ações de BRF e Sadia de forma unificada.
Furlan admitiu que é possível que a empresa esteja analisando ativos nos Estados Unidos, mas disse que não poderantecipar informações por não ter "nada deconcreto" ainda. De acordo com o executivo, seria uma via mais rápida para se entrar nos EUA do que através da negociação de abertura de mercado. Na semana passada, a JBS comprou a segunda maior processadora de carne de frango dos Estados Unidos, a Pilgrim"s Pride. "O movimento da JBS é bem-vindo. Eu parabenizei o Joesley (presidente da JBS) pela ousadia e coragem", afirmou.
"Existem muitas coisas que há poucos anos eram impensáveis, como a venda da Budweiser para um consórcio brasileiro. Mas no capitalismo essas coisas são possíveis. Tudo dependerá do sentido econômico", respondeu Furlan quanto questionado se a maior processadora de carne de frango dos Estados Unidos, a Tyson Foods, estaria no radar da companhia.
Segundo Furlan, a consolidação continuará ocorrendo no setor de alimentos. "Nessa área, não existem marcas mundiais e a BRF é uma das candidatas a construir marcas fortes, que se confundam com a imagem do País. A imagem do Brasil de samba, café e futebol precisa evoluir para conceitos que criem valor econômico", afirmou.
O diretor presidente da BRF, José Antonio do Prado Fay, também disse ver com bons olhos o movimento da JBS no exterior. "É ótimo que essas fusões ocorram com empresas brasileiras porque é esse o papel que o Brasil deve exercer no futuro: o de liderar a consolidação da indústria de alimentos no mundo", afirmou. De acordo com Fay, as fusões geram ganhos de sinergia e de escala e permitem ao País ser mais competitivo nas exportações. O executivo não revelou o valor das sinergias esperado com a integração total de BRF e Sadia, mas o mercado estima algo entre R$ 2 bilhões e R$ 5 bilhões.
De acordo com Furlan, parte dessas sinergias deverão ser capturadas já no ano que vem devido à decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) anunciada na segunda-feira que autorizou a operação conjunta das empresas no exterior. "Teremos ganhos logísticos e em políticas comerciais", explicou Fay. Segundo ele, a BRF pediu ao Cade essa autorização para elevar a competitividade da companhia no exterior, principalmente diante da redução de margens com o real valorizado. "Não esperamos recuperação do dólar no curto prazo e, por isso, trabalhamos para ganhar competitividade em outras frentes".
Para Fay, o Cade deverá aprovar a integração total das companhias no início de 2010, processo que será finalizado após um ano a um ano e meio. Hoje, a consultoria McKinsey elabora um trabalho junto a BRF e à Sadia para traçar o planejamento da companhia unificada de 2010 a 2015. Fay também comentou as declarações do presidente da JBS de que a empresa não pretende atuar no mercado de aves no Brasil. "Faz sentido. As duas empresas têm estratégias diferentes. A JBS atua mais com a commodity e nós temos estratégia focada em marca", disse.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ