Perda de controle leva mais gente para a inadimplência

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Atraídos pelas formas de pagamento a longo prazo, consumidores vão as compras, nem sempre conscientes de suas reais condições de arcar com as parcelas. Saiba quais os cuidados tomar para não ficar com as contas no vermelho

 

Mais consumidores estão inadimplentes por conta do descontrole orçamentário. De acordo com dados preliminares da Pesquisa de Perfil do Inadimplente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), entre março e setembro deste ano, o índice de entrevistados que declararam estar com restrição ao crédito por conta da perda das rédeas do orçamento subiu de 13% para 16%.

 

Ainda segundo o levantamento, caiu o porcentual de pessoas inadimplentes por conta do desemprego, que recuou de 52% em março para 46% em setembro.

 

Para Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP, o aumento do descontrole dos gastos está relacionado à oferta de crédito. Solimeo observa que o mercado oferece diversas alternativas, como cartões de crédito e cheque especial, entre outras, o que leva os consumidores a usarem várias opções ao mesmo tempo, o que acaba levando à inadimplência.

 

Ainda de acordo com o economista, os dados mais recentes mostram que, em 2007, 12% do total de CPFs verificados acerca das condições de crédito passaram pela consulta pela primeira vez.

 

Ele afirma que mais gente teve acesso às linhas de crédito e parte desse contingente, sem saber como planejar os gastos por conta de familiaridade com o assunto, teve problemas de restrição.

 

Solimeo explica que o nome do devedor é incluído no cadastro da instituição dez dias após a ACSP enviar carta ao consumidor comunicando o débito.

 

Segundo ele, o documento é remetido assim que o estabelecimento comercial avisa a associação sobre o débito, o que pode acontecer um dia após o vencimento. Na prática, explica o economista, as lojas esperam em média 45 dias para avisar a ACSP.

 

O encadernador Luís Antonio Martins, 56 anos, está entre os consumidores que perderam a mão sobre o próprio orçamento. Segundo ele, o problema começou em 2006, quando fez um empréstimo e não conseguiu honrar as prestações. “Tive problemas com outros gastos que já havia assumido”, afirma. Martins diz que o próximo objetivo é negociar uma forma de pagamento para recuperar a condição de crédito.

 

O vendedor Wilson Alves, 36 anos, afirma que costuma controlar o orçamento, mas, há cerca de um ano, uma despesa inesperada de aproximadamente R$ 2,5 mil gastos com remédios para a mãe, o levou ao descontrole. Como conseqüência, diz, alguns carnês de lojas deixaram de ser pagos, o que fez com que seu nome fosse para a lista de restrição de crédito. “Estou buscando uma forma de negociar”, afirma.

 

A técnica em enfermagem Lia Martinez, 29 anos, também foi tragada pelo descontrole orçamentário, por conta de dificuldades de saúde enfrentadas em 2006. Ela diz que desconhece o total da dívida, mas espera negociar em breve.

 

Disciplina e planejamento são necessários

 

Os consumidores que não querem ter seus nomes nas listas de restrição ao crédito devem ter planejamento e disciplina. A recomendação é de Alexandre Assaf, professor de Economia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

 

Segundo o economista, o primeiro passo é definir prioridade de gastos. Ele acredita que a melhor ordem seja saúde, moradia, educação e, a partir dessas, entretenimento e lazer, o que pode ser feito por meio de planilha.

 

Assaf observa que, em média, os gastos devem ser distribuídos da seguinte forma: 25% para moradia - aí incluídas despesas com água e energia elétrica e condomínio -, 12% para gastos com saúde e 10% para despesas com educação - no caso de famílias com filhos em período escolar.

 

O que sobrar no orçamento deve dar conta dos demais gastos - lazer, consumo e viagens. Ele ressalta que os valores para custeio desses itens devem ser separados e, em hipótese alguma, utilizados para outros fins. Segundo ele, uma família com renda líquida de R$ 3 mil e despesas fixas de saúde, moradia e educação que consumam R$ 2,4 mil, não pode gastar mais que R$ 600 nos outros itens, inclusive compras a prazo e outros financiamentos. “A família toda deve estar consciente do controle orçamentário”, lembra. “Caso o valor dos outros gastos seja maior, o consumidor terá de recorrer ao crédito, que pode ser um empréstimo ou o cheque especial, que terão de ser pagos de alguma forma, trazendo o descontrole financeiro”, diz.

 

Assaf afirma que a maioria das pessoas compra de acordo com prestações que cabem no bolso e têm a ilusão de que cada desembolso não irá atrapalhar o orçamento. Apesar disso, diz, o problema está mais presente do que nunca, porque qualquer emergência pode causar um sério desequilíbrio entre as receitas e as despesas.

 

Saiba onde e como 'limpar' seu nome dos cadastros

 

Renata Reis, técnica do Procon-SP, avisa que quem tem algum tipo de restrição a empréstimos, financiamentos ou compras e quer resolver o problema deve procurar os serviços da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Serasa para levantar os débitos e fazer a negociação. O valor das parcelas não deve comprometer mais que 30% da renda líquida da pessoa ou da família. Para realizar a consulta, explica a técnica, basta ir aos locais com RG e CPF e pedir um levantamento dos débitos pendentes. Ela lembra, ainda, que é aconselhável que o consumidor mantenha o controle dos débitos, pois nem sempre as empresas informam a dívida às organizações de proteção ao crédito. Renata recomenda que o próprio consumidor negocie os valores com cada credor. De acordo com a técnica do Procon-SP, a empresa tem prazo de cinco dias para retirar o nome do consumidor da lista de restrição. O prazo é contado a partir da data do pagamento da primeira parcela do débito negociado.

 

Veículo: Jornal da Tarde


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