Reduzir gasto dá menos desgaste que subir juro

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Ao anunciar os novos bloqueios de gastos federais, o governo Lula quis mostrar que não teme baixar medida impopular no ano eleitoral. Tudo bem. Só que a decisão tem tudo a ver, também, com o desejo de ganhar a eleição.

 

Primeiro, segurar gastos em ano eleitoral não é mesmo nada simpático. Se dependesse de uns ministros, as torneiras seriam totalmente abertas, não parcialmente fechadas.
Pior, porém, seria deixar só com o Banco Central a responsabilidade de segurar a inflação num ano de economia aquecida -superaquecida para alguns analistas, que apontam crescimento acima de 7%.

 

Os juros já voltaram a subir. Passaram de 8,75% para 9,5% ao ano. Vão subir mais. Sem os cortes, subiriam muito mais, e durante a campanha eleitoral.

 

Uma paulada nos juros, maior do que a prevista por Henrique Meirelles ao presidente Lula, tonificaria o discurso do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra.
O ex-governador já deu seu recado, disparando críticas na direção do BC. A pré-candidata petista, Dilma Rousseff, representante do governo na eleição, não pode fazer o mesmo. Seria dar um tiro no pé.

 

Daí, além de ser correto economicamente, cortar gastos tende a ser, eleitoralmente, a medida que deve gerar menos desgaste na eleição. O corte é anunciado antes do início oficial da campanha, podendo evitar juros maiores no período da fervura eleitoral.

 

Coincidência ou não, no dia em que divulgou a decisão, Mantega esteve na casa de Dilma. Esteve lá na hora do almoço, um pouco depois de dar entrevista sobre o corte adicional de R$ 10 bilhões -totalizando R$ 31,8 bilhões neste ano.
O ministro vinha defendendo a adoção da medida diante dos sinais de superaquecimento da economia e da crise da Europa. A área política resistia. Afinal, o melhor dos mundos seria uma economia crescendo acima de 7% ao ano para eleger até poste governista.

 

Lula, contudo, acatou os argumentos técnicos. Não quer ouvir falar em inflação crescente no final do mandato. Até para dizer, na campanha, que não repetiu Fernando Henrique Cardoso, que deixou para o petista uma inflação em alta. Enfim, neste ano, tudo é eleição.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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