Crise europeia pode se tornar aliada no combate à inflação

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Enquanto o governo revê as previsões para a inflação deste ano, o agravamento da crise na Europa pode, indiretamente, possibilitar um maior controle inflacionário e consequentemente uma elevação mais ponderada na taxa básica de juros (Selic) e da média da taxa no decorrer de 2010.

 

"Indiretamente, com o agravamento da crise da Europa, as exportações brasileiras para a região tendem a diminuir, o que provoca um excesso de produção e, consequentemente de oferta, assim, com os preços reduzidos, a inflação cai e não há necessidade de elevar a taxa de juros a níveis conforme previstos", analisa o professor da Brazilian Business School (BBS), Pedro Martins. Entretanto, para ele, as variáveis são muitas para estipular este cenário, sendo que por um lado, a desvalorização do euro pode facilitar as exportações do Brasil para outros países.

 

O professor de economia das Faculdades Integradas Rio Branco, Onofre Portella, afirma que se a crise se instaurar definitivamente na Europa, haverá menos entrada de capital para a região, direcionando o fluxo para países atualmente atraentes, como é o Brasil. Com mais entrada de recursos no País, é possível que a taxa de juros não tenha de subir tanto. "Mesmo assim, ela [Selic] vai sofrer elevação, já que a demanda doméstica está alta e, nisso, a inflação ainda é uma ameaça real."

 

De acordo com o segundo relatório de avaliação bimestral, divulgado, na última sexta-feira, pelo Ministério do Planejamento, a expectativa da inflação para este ano é de 5,5% (Índice de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA), resultado acima do centro da meta para o índice, que é de 4,5% para 2010 e 2011. Esta nova perspectiva acompanha o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 5,5%, ante 5,2% previsto no relatório anterior. A previsão para o IGP-DI teve uma significativa alta, passando de 5,91% para 9,14%. O Planejamento ainda estimou uma taxa básica de juros média de 9,19% ao ano, ante uma previsão de 8,70% na última avaliação bimestral.

 

"Estas novas projeções já eram esperadas, pois o governo admitiu o que o mercado financeiro vinha prevendo há tempos. Mas o otimismo que o governo e os analistas têm não é compatível com os componentes macroeconômicos", ressalta Martins. Para o professor da BBS, a razão de euforia no País é momentânea, visto que o risco Brasil está próximo do zero, assim como o de Portugal, sendo que neste país há uma preocupação fiscal.

 

Paralelamente, conforme divulgado na última sexta-feira pelo IBGE, o IPCA-15 apresentou em maio uma variação de 0,63% ante uma variação de 0,48% em abril. De acordo com o economista e professor de economia da Business School São Paulo (BSP), Pedro Raffy Vartanian, "o processo de retomada do crescimento na economia brasileira tem pressionado a inflação". O IPCA-15 é um índice importante, uma vez que baliza as decisões de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). "Ao considerar, ainda, que o primeiro trimestre apresentou uma alta na taxa de crescimento econômico, cresce a probabilidade de um aumento de 0,75 p.p. na taxa Selic na próxima reunião do Copom", acrescenta.

 

Revisões

 

O Planejamento também revisou as receitas e despesas primárias do governo federal, utilizando, segundo o relatório, dados realizados até o mês de abril e parâmetros macroeconômicos atualizados, que refletem a realidade atual e as expectativas até o final de 2010.

 

Constatou-se "a necessidade de limitação de empenho e movimentação financeira" em R$ 7,6 bilhões nas despesas discricionárias (que o governo pode mudar) em relação ao valor registrado na primeira avaliação bimestral de 2010, o que somadas aos gastos obrigatórios de R$ 2,4 bilhões, o resultado do "empenho" do governo deverá ser reduzir as despesas primárias em R$ 10 bilhões.

 

Sendo assim, para a receita da União, o fechamento ficou em R$ 637,15 bilhões, com decréscimo de R$ 9,2 bilhões em relação à primeira avaliação bimestral de 2010. Esses cortes refletem em menor gastos com custeio do serviço público, mas os investimentos também serão afetados.

 

Segundo o Ministério, no que se refere às receitas administradas pela Receita Federal do Brasil, a arrecadação dos meses de março e abril mostrou uma queda de R$ 2,9 bilhões em relação à projeção contida na primeira avaliação bimestral (R$ 6,49 bilhões). Apesar de técnicos do governo admitirem nos bastidores que a arrecadação deve ter um desempenho ainda mais forte no segundo semestre, o governo está evitando fazer projeções oficiais mais robustas para conter as pressões por aumento de gastos às vésperas das eleições.

 

Por último, devido à revisão do PIB pelo Ministério, a meta de resultado primário do governo central (BC, Previdência e Tesouro), em valores nominais, está R$ 758,3 milhões maior que aquela prevista na primeira avaliação bimestral de 2010. A meta do superávit continua em 3,3% do PIB.

 

Veículo: DCI

 


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