Serviços mantêm inflação sobre pressão

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Desaceleração de preços de alimentos ajuda, mas alguns bens duráveis apresentam alta


   
A inflação ao consumidor enfim recuou em maio, devido à forte desaceleração das cotações dos alimentos. Os indicadores, contudo, mostram sinais de pressão da demanda sobre alguns preços, como fica claro no comportamento dos serviços. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 0,57% em abril para 0,43% no mês passado, em grande parte devido ao recuo do grupo alimentos e bebidas, de 1,45% para 0,28%. Já os serviços (como cabeleireiro, conserto de automóvel, recreação, empregado doméstico, aluguel e médico) passaram de 0,5% em abril para 0,62% em maio. No atacado, chama a atenção do reajuste de 75,2% do minério de ferro, que respondeu por 1,24 ponto percentual da alta de 1,57% registrada pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) em maio. Em abril, o indicador subira 0,72%.

 

A economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores Associados, diz que a desaceleração do IPCA "cheio" deve ser comemorada, mas nota que ela foi muito concentrada em alimentos e bebidas. Outros grupos importantes ganharam força, ressalta ela, citando entre eles os serviços e os bens duráveis (especialmente por causa da alta de automóveis). "A trajetória da inflação não é explosiva, mas há fatores preocupantes", afirma Basiliki.

 

Os serviços têm se destacado por avançar a uma taxa consistentemente superior ao da média dos preços. Eles acumulam alta de 6,8% nos 12 meses até maio, bem acima dos 5,2% do IPCA. Parte dos itens que integram os serviços sobe com força por causa da demanda aquecida, especialmente o mercado de trabalho, como nota o economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos. É o caso de serviços médicos e dentários, com alta de 0,75% em maio, ou do item consertos e manutenção (de bens como refrigerador, aparelho de som e televisão), que subiu 0,89%.

 
 
Há também itens muito influenciados pela inflação passada, como mensalidades escolares, enquanto outros seguem bastante de perto a variação do salário mínimo, como empregado doméstico, que subiu 1,12% no mês passado.

 

Ramos considera normal que os serviços avancem acima do resto dos preços. Quando a economia se desenvolve, intensifica-se a demanda por serviços como educação e saúde, diz ele. "Mas uma alta em 12 meses na casa de 6,5% a 7% é um pouco acima do razoável", acredita Ramos, que vê um número de 5,5% a 6% como mais tranquilo. Se os serviços sobem a taxas fortes, outros grupos têm de rodar bem abaixo do centro da meta, de 4,5%, para que a inflação fique próxima do alvo perseguido pelo Banco Central.

 

No acumulado em 12 meses, os serviços ficaram quase estáveis, passando de 6,7% em abril para 6,8% em maio. O ponto é que, em maio de 2009, eles tiveram alta de 0,59%, próxima do 0,62% de maio deste ano. Isso indica que alguns itens do grupo podem ter sazonalidade mais forte nesse mês, como mão de obra na habitação, que subiu 0,77% no mês passado e 0,79% no mesmo mês de 2009.

 

O economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria, destaca, além da pressão sobre os serviços, o comportamento desfavorável dos núcleos do IPCA. Medidas que tentam expurgar ou reduzir o impacto dos itens mais voláteis, os núcleos também ganharam força em maio, indicando que parte da inflação vai além do pontual ou sazonal. O núcleo que exclui combustíveis e gêneros alimentícios passou de 0,43% em abril para 0,56% em maio, enquanto o núcleo por dupla ponderação (que reduz o peso dos itens mais voláteis) passou de 0,42% para 0,57%. No acumulado em 12 meses, eles andam na casa de 5%. Barbosa projeta um IPCA de 5,4% no ano, menos que os 5,8% de Ramos. O primeiro aposta num crescimento em 2010 de 6,6%, com a taxa Selic em 12,25% no fim do ano. Ramos estima um PIB mais forte, de 7,5%, e juros de 12,75% em dezembro.

 

No IPCA de maio também teve aumento forte automóvel novo, de 0,76%. Em dois meses, subiu 1,81%, devido ao fim da vigência do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos.

 

Outra fonte de pressão sobre a inflação ao consumidor até o fim do ano pode surgir de repasses do atacado, diz o analista Felipe Insunza, da Rosenberg & Associados. "Isso pode vir de alta em itens como aço, algodão, borracha, bovinos, plásticos e papel."

 

O aumento do minério de ferro, que pressiona os produtos siderúrgicos, pode levar a reajustes em bens duráveis, observa Basiliki. Já Barbosa não acredita que o efeito sobre o varejo será dos mais intensos. Segundo ele, automóvel novo é o item que reflete com mais força eventuais altas do aço no atacado, e mesmo assim o repasse costuma ser limitado a 6% a 9% da variação dos produtos siderúrgicos, que subiram 6,28% no ano.

 

No IGP-DI, os custos da construção avançaram bastante em maio - 1,81%, devido principalmente à elevação de 3,13% da mão de obra.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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